Oeiras vai ter academia Aga Khan, a primeira da Europa
Rede Aga Khan para o Desenvolvimento vai comprar 49 hectares de terreno junto ao Tagus Park para a sua primeira escola de elite na Europa. Acolherá alunos dos cinco aos 17 anos.
Oeiras foi a cidade escolhida para a criação de uma Academia Aga Khan, vocacionada para crianças entre os 5 e os 17 anos, num projecto de ensino tido como de excelência, com turmas pequenas e professores de várias nacionalidades.
O investimento é superior a 80 milhões de euros e, ao que o PÚBLICO apurou, a academia será construída num terreno de 49 hectares junto ao Tagus Park. Os terrenos foram adquiridos por quatro milhões de euros, mas a escritura ainda não foi feita porque decorre o período em que, à luz da lei, as entidades municipais, bem como os vizinhos, podem exercer direitos de preferência relativamente a parcelas da propriedade.
Havia vários anos que a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) procurava terrenos para este projecto em Portugal. A academia chegou a estar prevista para um terreno de 30 hectares em Cascais, que, porém, não avançou, muito por causa de um abaixo-assinado que denunciava o excesso de urbanização da zona do Guincho.
Com a escolha de Oeiras, e se tudo correr bem, Portugal tornar-se-á o primeiro país europeu a acolher uma Academia Aga Khan, cuja abertura de portas está prevista para daqui a dois ou três anos. Já existem três destas academias a funcionar: na Índia, no Quénia e em Moçambique, sendo que a comunidade muçulmana ismaelita diz querer criar um total de 18 academias em diferentes países.
O objectivo é que os alunos possam circular entre as diferentes escolas para ganharem uma perspectiva internacional, sendo que todas adoptarão o International Baccalaureate (IB) desde o ensino primário ao secundário. Trata-se de uma espécie de “selo de qualidade” criado por uma fundação educacional sem fins lucrativos com sede em Genebra, na Suíça, que promove a excelência no ensino.
O campus português, de resto, será totalmente pensado para facilitar o ensino em equipa, segundo um projecto gizado pelo arquitecto José Mateus.
Bolsas para os mais pobres
O PÚBLICO questionou a Câmara Municipal de Oeiras sobre a importância que a criação desta academia terá para o concelho. “Não temos conhecimento dos termos desse negócio nem dos limites do terreno em causa”, disse fonte da autarquia.
Apesar de o projecto ser liderado por uma comunidade religiosa, todas as crianças poderão candidatar-se a frequentar a Academia Aga Khan, prevendo-se que as que provenham de meios economicamente vulneráveis possam beneficiar de uma bolsa, bem como de alojamento gratuito, em regime de internato, se for necessário. Aos restantes será cobrada uma propina, de valor ainda não quantificado.
Portugal congrega, juntamente com a Grã-Bretanha e França, uma das maiores comunidades muçulmanas ismaelitas na Europa: são cerca de sete mil os portugueses que seguem este ramo minoritário da comunidade muçulmana xiita.
Mas os 15 milhões de ismaelitas, liderados por Aga Khan IV, espalham-se por cerca de 30 países, segundo a própria rede que tem presença nas elites empresariais e académicas dos sítios onde está implantada.
A comunidade ismaelita funciona como um Estado sem território e com direito a Constituição própria. E a AKDN, dinamizada por esta comunidade de natureza religiosa, dedica um orçamento anual de cerca de 600 milhões de euros e os seus 80 mil funcionários a variados projectos de desenvolvimento como hospitais, mesquitas e universidades, a par de centenas de escolas, sob o que proclama ser “uma ética da compaixão para com os mais vulneráveis da sociedade”.
Em cada ano, a AKDN diz apoiar dois milhões de alunos. Às crianças vítimas dos incêndios de Pedrógão, o príncipe Aga Khan, líder espiritual dos ismaelitas, doou 500 mil euros. Em Julho, o príncipe Aga Khan passou por Portugal e visitou o Palacete Henrique de Mendonça, onde investiu cerca de 12 milhões de euros. Uma vez inaugurado, funcionará como sede mundial do Imamato, segundo as regras de uma delegação diplomática estrangeira. A sede tem inauguração oficial prevista para meados de 2019. com Ana Maia