Número de novas USF a abrir este ano foi o mais baixo de sempre
Ao longo de um ano, em mais de 80% das Unidades de Saúde Familiar houve ameaças ou agressões verbais a profissionais e em 14% verificaram-se casos de violência física, revela estudo que vai ser debatido esta sexta-feira em Lisboa.
O número de Unidades de Saúde Familiar (USF) a iniciar actividade este ano foi o mais baixo de sempre. Abriram apenas 16 novas unidades, segundo um estudo que aponta para um “forte desinvestimento” nos cuidados de saúde primários e que foi divulgado esta quinta-feira.
A Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, que levou a cabo o estudo, considera que o reduzido número de unidades abertas este ano “é um sinal muito forte de desinvestimento e a maior ameaça desde o início da reforma” dos cuidados de saúde primários, que arrancou em 2005.
Intitulado “O momento actual da reforma dos cuidados de saúde primários”, o estudo, que vai ser discutido em Lisboa esta sexta-feira, realça ainda o facto de nenhuma das USF de modelo A ter passado este ano para modelo B, que é um modelo mais exigente, com maior autonomia e com mais incentivos financeiros.
Segundo o inquérito feito aos coordenadores das USF, apesar de a esmagadora maioria (91,4%) das unidades de modelo A pretender passar para o modelo B, isso “não lhes está a ser permitido”.
A passagem de modelo A para modelo B tem de ser aprovada pela tutela, tal como a abertura de novas unidades.
De acordo com o documento, há actualmente no país 501 USF, abrangendo mais de nove mil profissionais que prestam cuidados a seis milhões de pessoas.
Assente em inquéritos feitos entre Abril e Maio deste ano, e reportando-se à situação vivida nos últimos 12 meses antes dessa data, o estudo revela uma crescente insatisfação dos profissionais de saúde com a reforma dos cuidados de saúde primários e com a actuação do Ministério da Saúde.
“A apreciação que os coordenadores fazem do momento actual da reforma e do Ministério da Saúde deteriorou-se de um modo muito marcado. Os mais insatisfeitos aumentaram quatro vezes na sua apreciação em relação ao Ministério da Saúde (nunca houve tantos)”, lê-se no documento.
O nível de insatisfação expresso é maior para com o Ministério da Saúde, seguindo-se os SPMS - Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, a instituição responsável pelos sistemas informáticos no Serviço Nacional de Saúde.
Um dos problemas destacados no documento é justamente o deficiente funcionamento dos sistemas informáticos. Mais de 70% das USF ficaram mais de 10 vezes num ano sem acesso informático e 30% destas mais de 50 vezes.
Além disso, nove em cada dez unidades teve pelo menos uma vez falta de material considerado básico, sendo que em 72% dos casos o problema demorou mais de 48 horas a ser resolvido.
Cerca de 90% dos coordenadores das USF consideram ainda que o nível de autonomia do seu agrupamento de centros de saúde para gerir a actividade é insuficiente, o que afecta a actividade desenvolvida.
Agressões e ameaças a profissionais
O estudo permitiu ainda perceber que as condições de trabalho são complicadas. Basta ver que em 80,2% das USF foram registadas situações de ameaças ou agressões verbais a profissionais de saúde e que foram sinalizados casos de violência física contra profissionais em 14% destas unidades.
Foi também abordada a questão da saúde e segurança no trabalho. Mais de 40% dos coordenadores das unidades afirmaram que "algumas vezes" os profissionais mantiveram a sua actividade mesmo estando doentes e há 22% que assumem que isso ocorreu com frequência.