Imagens de satélite revelam base de mísseis secreta na Coreia do Norte
Uma outra base, conhecida pelos serviços de Informação dos EUA, continua activa e em expansão, mostram as imagens publicadas pela CNN. Analistas acreditam que Pyongyang não se está a desarmar, como prometeu aos EUA.
Numa aparente demonstração da falta de progressos nas negociações com os Estados Unidos no que toca ao desarmamento e desnuclearização da Península Coreana, o regime de Kim Jong-un continua a expandir a desenvolver as suas infra-estruturas de lançamento de mísseis balísticos, sugerem novas imagens de satélite publicadas pela CNN.
A cadeia televisiva norte-americana teve acesso a um conjunto de imagens que revelam a existência de uma base de mísseis, localizada na região montanhosa do interior da Coreia do Norte, até então desconhecida pelos serviços secretos dos EUA.
A base aparenta estar em construção e inclui uma rede subterrânea de túneis.
Para além disso, as imagens, datadas de Agosto de 2018, também evidenciam que na base de Yeongjeo-dong, familiar junto da comunidade de Inteligência norte-americana, estão em marcha trabalhos de desenvolvimento e melhoramento das infra-estruturas existentes.
Confrontado pela CNN com a existência deste material, o Pentágono optou por uma postura defensiva. “Estamos a monitorizar a Coreia do Norte muito atentamente. Continuamos a apoiar o processo diplomático. E não vamos discutir assuntos dos serviços de Informação”, afirmou o porta-voz e tenente-coronel Chris Logan.
Analistas e académicos suspeitam, porém, que as duas bases poderão estar a ser preparadas para albergar os mísseis balísticos de longo alcance, com capacidade para transportar ogivas nucleares, cuja tecnologia Pyongyang diz dominar.
“As imagens de satélite mostram que a base [de Yeongjeo-dong] continua activa. Por outro lado, no último ano a Coreia do Norte tem expandido uma unidade que aparenta ser uma nova base de mísseis. A construção desta nova instalação, desconhecida até então, parece ter prosseguido depois da cimeira de Singapura”, afirma Jeffrey Lewis, do Instituto de Estudos Internacionais de Middlebury.
“Independentemente do que anda Kim a dizer sobre o seu desejo de desnuclearização, a Coreia do Norte continua a produzir e a instalar mísseis nucleares”, afiança o investigador.
Na mesma linha, o professor de Ciência Política do Instituto do Tecnologia de Massachusetts Vipin Narang, sublinha que Pyongyang “nunca disse” que se ia desarmar e critica a gestão da Administração Trump ao dossier norte-coreano. “A Coreia do Norte não se está a desarmar. Nunca disse que o faria. Kim finge que está a desarmar-se e Trump finge que acredita nele”, escreveu o académico no Twitter.
Na sequência da cimeira inédita de Singapura, em Junho deste ano, com Donald Trump, Kim Jong-un comprometeu-se em trabalhar para a “completa desnuclearização da Península Coreana”. Nesse sentido, o regime norte-coreano aceitou neutralizar algumas das suas bases nucleares e balísticas – chegou a convidar jornalistas estrangeiros para assistirem ao desmantelamento de uma dessas infra-estruturas –, recebendo em troca a garantia de suavização das sanções económicas e diplomáticas impostas pelas Nações Unidas.
A cimeira foi um dos momentos-chave na inauguração de um novo capítulo na Coreia do Norte e tem sido acompanhada por uma série de iniciativas diplomáticas históricas – particularmente em associação com a Coreia do Sul –, mas a alegada falta de progressos no processo de desarmamento, por parte de Pyongyang, continua a ser um obstáculo difícil de ultrapassar, de acordo com o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo e com o conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, pessoalmente envolvidos nas negociações.
O próprio Presidente dos EUA tem mostrado abertura para um novo encontro com líder norte-coreano, mas essa possibilidade tem sido constantemente adiada, devido aos poucos avanços na desnuclearização e desarmamento da Coreia do Norte.
Por outro lado, defende Bolton, uma nova cimeira entre Trump e Kim poderá servir para o primeiro pressionar o segundo a dar sinais de que quer virar a página nas relações com os vizinhos na região e com os EUA.