Incerteza nas negociações entre EUA e China agita mercados

Detenção de administradora financeira da Huawei é último episódio a lançar dúvidas sobre a capacidade de os EUA e a China chegarem a um acordo definitivo nas negociações comerciais.

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Reuters/CARLOS BARRIA

O aumento da incerteza relativamente ao rumo que podem tomar as relações entre os EUA e a China e o impacto que uma escalada da guerra entre os dois países poderia ter na economia mundial colocaram esta quinta-feira os mercados accionistas mundiais em queda acentuada.

Depois de o dia ter começado com fortes descidas nos índices bolsistas asiáticos, na Europa todos os principais mercados tiveram um dia negativo. O índice Stoxx 600, que reúne os principais títulos accionistas europeus caiu 3,09%, o pior resultado desde a sessão que se seguiu à vitória do Brexit no referendo britânico, em Junho de 2016. Em Lisboa, a perda do PSI-20 foi de 2,1%.

Nos Estados Unidos, a sessão arrancou também com quebras acentuadas e generalizadas, com o índice Dow Jones de Nova Iorque a perder 1,7% na primeira metade do dia.

Estes resultados negativos acontecem depois de, no início da semana, os mercados terem recebido com entusiasmo as tréguas de 90 dias na guerra comercial assinadas entre Donald Trump e Xi Jinping em Buenos Aires. O problema é que, entretanto, se foram acentuando as dúvidas em relação à possibilidade de os dois países aproveitarem esse prazo para chegar a um entendimento definitivo que evite uma escalada do conflito.

Os investidores começaram por se preocupar com as interpretações aparentemente diferentes entre responsáveis chineses e norte-americanos relativamente ao que tinha ficado definido na trégua assinada. Na sua conta do Twitter, Donald Trump foi mostrando o seu desagrado, dando sinais de que poderia não se chegar a um acordo, enquanto do lado chinês se foi progressivamente assumindo as cedências, especialmente o facto de o país se ter comprometido a, de forma imediata, começar a fazer mais compras de produtos norte-americanos.

A esta falta de sincronização entre Washington e Pequim, juntou-se um outro acontecimento que pode tornar ainda mais complicadas as negociações entre os dois países. Tornou-se público que a administradora financeira da empresa tecnológica chinesa Huawei foi detida no Canadá, a pedido das autoridades norte-americanas, precisamente no sábado, o dia em que Trump e Xi Jinping assinaram as tréguas.

Meng Wanzhou é a filha do fundador da Huawei, a empresa símbolo da estratégia da presidência Xi Jinping de fazer da China uma potência mundial no sector tecnológico, fazendo frente especialmente aos EUA. Não é ainda claro o motivo da detenção, podendo estar relacionada, de acordo com alguns órgãos de comunicação social norte-americanos com uma eventual violação das sanções impostas pelos Estados Unidos ao Irão.

O que é temido pelos mercados é que esta detenção seja mais um obstáculo numas negociações que se já se adivinhavam extremamente complicadas. Um fracasso na obtenção de um acordo entre os EUA e a China poderia conduzir a um acentuar do abrandamento da economia mundial.

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