A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, vence Prémio Fernando Namora

O romance premiado demonstra como "a memória da experiência colonial pode ser aterradora", considerou o júri presidido por Guilherme d'Oliveira Martins.

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RAQUEL ESPERANÇA

O romance A Última Viúva de África, de Carlos Vale Ferraz, é o vencedor do Prémio Literário Fernando Namora/2018, com o valor pecuniário de 15 mil euros, anunciou esta quinta-feira a Estoril-Sol, que o instituiu em 1987.

Este romance de Vale Ferraz demonstra como "a memória da experiência colonial pode ser aterradora", lê-se na acta do júri, citada no comunicado daquela organização. "O ex-Congo Belga e Angola constituem neste romance o eixo geopolítico de acções de guerra e desvarios humanos no qual uma mulher, 'Madame X', emerge, simultaneamente, como figura de ligação da estória do romance e da História dos anos 1960, no início da guerra nacionalista [das ex-colónias europeias em África]", refere ainda o júri, presidido por Guilherme d'Oliveira Martins.

O júri desta 21.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora contou ainda com José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual, e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril-Sol.

Carlos Vale Ferraz, pseudónimo literário de Carlos de Matos Gomes, nasceu a 24 de Julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha, no Ribatejo, e foi oficial do Exército, tendo cumprido várias comissões militares em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Algumas das suas obras reflectem esta realidade histórica, e foram adaptadas ao cinema e à televisão, entre as quais Nó Cego, romance publicado pela primeira vez em 1982, e reeditado recentemente.

O autor colaborou com a actriz e realizadora Maria de Medeiros no argumento do filme Capitães de Abril (2000), realizado pela cineasta. Na área da História Contemporânea, e assinando como Carlos de Matos Gomes, é co-autor, com Aniceto Afonso, dos livros Guerra Colonial, Os Anos da Guerra Colonial e Portugal e a Grande Guerra.

Segundo a Porto Editora, responsável pela edição, no ano passado, de A Última Viúva de África, a narrativa parte "da história real de uma mulher portuguesa que não quis abandonar a sua nova pátria", o ex-Congo Belga. A protagonista é Ana Oliveira, natural do Minho, que na década de 1950 decide emigrar para África, onde se torna "conhecida (...) por 'Madame X', pelas autoridades portuguesas, para quem trabalhava como informadora, e por Kisimbi, a 'mãe', pelos mercenários que combatiam em prol da secessão de Catanga [província no Sul da actual República Democrática do Congo]". Por opção sua, Ana Oliveira permaneceu na antiga colónia belga do Congo após a independência daquele país, declarada em 1959.

Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo, foi o vencedor da primeira edição do Prémio Fernando Namora, em 1989. No ano passado, o vencedor foi o romance A Noite não é Eterna, de Ana Cristina Silva.

Urbano Tavares Rodrigues, Mário Cláudio, Teolinda Gersão e Mário de Carvalho, ambos por duas vezes, José Eduardo Agualusa, Luísa Costa Gomes, Maria Isabel Barreno, António Lobo Antunes e Nuno Júdice são alguns dos autores que já venceram este galardão.

O Prémio Literário Fernando Namora/2018 "será entregue oportunamente em cerimónia a anunciar", afirma a Estoril Sol.