O fóssil de crocodilo mais antigo do mundo é de Tentúgal

Origem dos crocodilos recua agora 20 milhões de anos, no período do Cretácico. O fóssil vai ser exposto no Museu da Lourinhã.

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crocodilo Portugalosuchus azenhae Nuno Ferreira Santos
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Octávio Mateus com o fóssil do crocodilo Portugalosuchus azenhae Nuno Ferreira Santos

Até agora, pensava-se que os crocodilos mais antigos tinham surgido há 75 milhões de anos. A descoberta de um crânio e uma mandíbula de crocodilo com 95 milhões de anos, perto de Tentúgal, vem mudar a visão sobre a origem dos crocodilos. Afinal, surgiram na Terra 20 milhões de anos mais cedo do que se supunha.

“É o mais antigo de todos os verdadeiros crocodilos. Chamamos ‘crocodilos’ a répteis do Jurássico que têm aspecto de crocodilo, que são crocodilomorfos, mas não são verdadeiros crocodilos. Tecnicamente, um crocodilo é um animal que faz parte de um clado, de um grupo, que se chama Crocodylia”, explica ao PÚBLICO o paleontólogo Octávio Mateus (da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Museu da Lourinhã), um dos autores do artigo científico que dá agora conta da descoberta, na revista Zoological Journal of the Linnean Society.

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Pedro Callapez, Octávio Mateus e Eduardo Puértolas Pascual

Ora o Portugalosuchus azenhae, o nome científico que lhe foi atribuído pela equipa de cientistas, já é um verdadeiro crocodilo. “Pensava-se que o grupo Crocodylia tinha aparecido há 75 milhões de anos, mas este fóssil surgiu em rochas com 95 milhões de anos. Portanto, a origem dos crocodilos é mais antiga, sendo este o mais antigo de todos”, acrescenta Octávio Mateus, que assina o artigo sobre a descoberta com Eduardo Puértolas Pascual, também da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e Pedro Callapez, da Universidade de Coimbra.

Como o crânio e a mandíbula inferior descobertos perto de Tentúgal apresentam uma série de características nunca antes observadas, a equipa de cientistas classificou este crocodilo do período do Cretácico não só como uma espécie nova mas também como um género novo para a ciência. Talvez seja um antepassado de todos os crocodilos modernos. 

“A mandíbula tem uma abertura que ajuda a definir o que é um verdadeiro crocodilo em contraste com répteis parecidos com crocodilos, os crocodilomorfos, que ainda não faziam parte do grupo Crocodylia, e não tinham essa abertura nos ossos da mandíbula”, explica por sua vez Eduardo Puértolas Pascual, especialista em crocodilos, citado num comunicado de imprensa sobre o trabalho.

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Ilustração dos fósseis do Portugalosuchus azenhae Joana Bruno

O nome científico, além de conter uma referência clara a Portugal, é também uma homenagem à geóloga que descobriu o fóssil – a geóloga Matilde Azenha. Conta Octávio Mateus que Matilde Azenha encontrou o fóssil em 2003 perto de Tentúgal (em Casal dos Carecos), quando estava na Universidade de Coimbra a fazer a tese de mestrado sobre a importância das aulas de campo na aprendizagem dos alunos. E foi precisamente para o terreno na região.

“Na altura, andava a fazer o levantamento geológico, incluindo o conteúdo fóssil, das frentes da pedreira Beiraterra. O objectivo foi juntar um conjunto de informações para posteriormente se organizarem saídas de campo ao local com os alunos do ensino básico e secundário ao local”, conta Matilde Azenha. “Quando mostrei o bloco de rocha ao professor Pedro Callapez, ele viu logo que se estava perante algo excepcional. A partir daí tomou as diligências necessárias para que se fizesse o estudo do exemplar.”

Agora Matilde Azenha é professora no ensino secundário, no Agrupamento de Escolas de Soure, e doou o fóssil do crocodilo ao Museu da Lourinhã. É aí que em breve estará em exposição, para que todos possamos apreciar um crocodilo muito cretácico.

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