Rui Rio receia ser o “director comercial” do PSD?

Críticos internos surpreendidos com discurso de que líderes partidários devem resistir às eleições.

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Rui Rio quer ficar até ao fim do mandato LUSA/FERNANDO VELUDO

Num clima em que altos dirigentes do PSD pedem pacificação interna para que o partido possa ganhar embalagem eleitoral, o líder social-democrata ensaia (de novo) um discurso de que as lideranças partidárias não se esgotam com a derrota nas eleições. Os críticos internos discordam, naturalmente, desta posição que é frequente vir ao de cima nos discursos da actual direcção do PSD.

Numa intervenção no âmbito de uma homenagem a Sá Carneiro, esta segunda-feira no Porto, Rui Rio fez inúmeras comparações entre a política no tempo do fundador do PSD e a actual. Uma das situações a que se referiu foi a forma de estar na política que hoje privilegia a “resistência e a capacidade de comunicação” em vez da forma de “pensar e de agir”. E apontou um exemplo: “No tempo de Sá Carneiro os líderes perdiam eleições e não saíam, continuavam. Sá Carneiro perdeu e continuou; Freitas do Amaral perdeu e continuou; Soares ganhou e perdeu, ganhou e perdeu e continuou”. Rui Rio não faz uma apreciação directa e clara sobre esta mudança na política mas compara os líderes partidários a “directores comerciais” que, quando “não conseguem vender o produto com sucesso no mercado”, têm de se “trocar” por outro director. O líder do PSD concluiu: “Isto altera toda a lógica da política”.

Entre os críticos da actual direcção há quem não compreenda este discurso, até porque não há memória recente no PSD de um líder ter resistido como presidente do partido a uma derrota nas legislativas, à excepção de Durão Barroso - há praticamente duas décadas.

No caso de Freitas do Amaral, o candidato perdeu as presidenciais em 1986, mas nessa altura não era líder do CDS. Já o exemplo do histórico líder do PCP surpreendeu os sociais-democratas, tendo em conta a menor dimensão do partido (e a vocação de partido de protesto) face ao PSD.

De uma forma ou de outra, a ideia de que uma derrota eleitoral não é necessariamente fatal para um líder (e para Rui Rio) tem perpassado os discursos da actual direcção do PSD. Logo no congresso, houve quem estranhasse que Rio tivesse apontado as autárquicas de 2021 como o grande objectivo eleitoral do PSD apesar de ter desejado a vitória nas legislativas de 2019.

Mas foi o vice-presidente David Justino que, assim que Rio foi eleito, questionou esta ideia de que não é possível segurar um líder derrotado nas urnas. “Não podemos estar condenados a uma espécie de determinismo político em que quem perde tem de ir embora. Não necessariamente. Porquê? Se a estratégia está bem montada, se o desempenho foi bom… Os adversários também não têm mérito?”, disse David Justino à Antena 1 em Janeiro deste ano.

O mérito dos adversários foi uma das tónicas do discurso de Rui Rio, quando disse "as eleições não se ganham, as eleições perdem-se", o que irritou a oposição interna por considerou que o líder do PSD estava a admitir um cenário de derrota.

Com as europeias antes das legislativas, o cenário de derrocada eleitoral do PSD já em Maio não mantém completamente afastada a possibilidade de antecipar a discussão da liderança do partido. Luís Montenegro, visto como futuro candidato a líder, já disse ser “difícil” fazer essa disputa antes das legislativas, mas no PSD o cenário não é visto como impossível.

Os apoiantes de Montenegro defendem que esse cenário (de forçar eleições internas após um mau resultado nas europeias) também não traria facilidades numa vitória eleitoral nas legislativas face a António Costa, mas assumem que poderia ser um factor de desgaste para o futuro Governo. Aliás, nesse caso, a vitória não lhe seria exigida, tal como aconteceu a Durão Barroso. Perdeu as legislativas de 1999 mas manteve-se à frente do PSD por ter sido eleito apenas oito meses antes. Será que a História se repete?

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