Bloco e PAN ausentes na visita do Presidente chinês ao Parlamento
No segundo dia da visita de Estado a Portugal, Xi Jinping foi recebido pelo presidente da Assembleia da República e visitou a Sala das Sessões. Ferro Rodrigues deu-lhe as boas-vindas à “casa da democracia portuguesa”, sublinhando ser um parlamento pluripartidário, com ideias diferentes entre si.
O Presidente da República Popular da China foi recebido com honras de Estado na “Casa da Democracia Portuguesa”, mas nem todos os partidos se associaram a esta recepção diplomática: o Bloco de Esquerda e o PAN fizeram notar a sua ausência. Da parte do BE, foi uma forma de assinalar o desacordo com o regime anti-democrático e o desrespeito dos direitos humanos daquele país. Já o PAN justificou-se com “motivos de agenda”.
“Diferentes partidos têm posições distintas, e distintos pontos de vista, mas há um grande consenso que nos une no objectivo de aprofundar o relacionamento com a China”, disse o Presidente da Assembleia da República ao Presidente chinês, na reunião à porta fechada entre as comitivas no Salão Nobre. Foi a única referência de Ferro Rodrigues às divergências entre os dois países, numa intervenção onde também não fez qualquer referência aos direitos humanos, ao contrário do que tinha feito na véspera o Presidente da República.
Numa visita rodeada de medidas raras de segurança, com a presença de snipers no telhado do Parlamento e um drone a sobrevoar o local, Xi Jinping e a sua comitiva foram recebidos nos passos perdidos pelos vice-presidentes da Assembleia da República, os líderes parlamentares, os secretários da Mesa da Assembleia da República, presidente e vice-presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal – China, Ana Catarina Mendes (PS) e António Leitão Amaro (PSD) e membros da Comissão de Negócios Estrangeiros, embora não o seu presidente, o socialista Sérgio Sousa Pinto.
“O ano de 2018 ficará na história do relacionamento bilateral luso-chinês”, disse Ferro Rodrigues na sua intervenção, sublinhando que a China “é um dos nossos maiores parceiros comerciais, e os seus empresários são dos que mais apostam na nossa economia”, agora como também o fizeram “em circunstâncias adversas”.
Em termos diplomáticos, Ferro Rodrigues situou Portugal como um “país de pontes”: “Podendo escolher entre a cooperação e a confrontação, entre o isolamento e a abertura, é clara a nossa escolha: a cooperação e a abertura. A cooperação, a abertura, e também o multilateralismo, são o garante de paz e de prosperidade.”
É com este espírito que disse que Portugal acompanha “com grande interesse”, a iniciativa Nova Rota da Seda, “ou não fosse Portugal um cruzamento entre a rota da seda terrestre e a roda da seda marítima”. E neste ponto referiu-se a um dos pontos mais importantes da agenda desta visita: a possibilidade da participação da China no crescimento porto de Sines, salientando “o enorme potencial de se tornar uma plataforma intercontinental e de acesso da China aos mercados europeus”.
No final da visita, o Presidente Xi Jinping visitou a Sala das Sessões vazia, para a foto oficial. Amizade sim, mas não a cumplicidade manifestada há menos de 15 dias com o Presidente de Angola, que teve direito a uma intervenção no plenário parlamentar.
Depois do encontro, o PCP emitiu uma nota sobre a visita de Xi Jinping, valorizando-a e sublinhando que "a defesa do desenvolvimento de relações de amizade, paz e cooperação com todos os povos do mundo" como "um princípio fundamental da política externa de Portugal que a Constituição da República Portuguesa consagra."
"Relações económicas mutuamente vantajosas, que contribuam efectivamente para o desenvolvimento do País, são bem-vindas com a República Popular da China como com todos os países do mundo", lê-se numa nora enviada às redacções.