Rede de Patrulheiros: uma solução portuguesa para um problema europeu
Os voluntários realizam rondas semanais ou diárias pelas florestas de Albergaria. Em 2019, o projecto quer formar a maior rede de patrulheiros do país para combater um problema que também é europeu.
De bicicleta, a pé ou de carro, qualquer um pode ser um super-herói pelo nosso país. Foi este o mote que deu vida à ideia de José Nuno Amaro: criar uma rede de voluntários que patrulhassem as florestas de Albergaria-a-Velha em busca de situações anormais que precisem de ser resolvidas.
Lixo acumulado, terrenos que não são limpos e possam causar incêndios, animais feridos ou até ninhos de vespas asiáticas. O objectivo da “Rede de Patrulheiros”, diz o fundador do projecto, é que os voluntários “sejam interventivos e não intrusivos” e que “trabalhem em conjunto com a protecção civil e bombeiros” de cada município.
“Quando os incêndios de 2017 assolaram o país, nós já tínhamos esta ideia em mente e fazia todo o sentido que ela fosse partilhada com o país e que não ficasse apenas em Albergaria. Tudo o que aconteceu esse ano fez-nos acelerar o processo para desencadear reacções e partilhar o projecto com todo o país”, conta José Nuno.
Das bicicletas à app
Tudo começou com a ajuda dos grupos de escuteiros da região. Nas suas caminhadas, as crianças e jovens transportavam uma câmara go pro que filmava todo o percurso. As imagens eram depois enviadas para a associação de patrulheiros e para as autoridades competentes da localidade, que as analisavam em busca de problemas que pudessem ser resolvidos.
Desde 2017, a iniciativa evoluiu. Tanto a rede de voluntários — que agora conta com mais de 80 patrulheiros — como a aplicação móvel utilizada por estes foram desenvolvidas para estarem prontas a ser utilizadas.
“Quando saem de bicicleta para fazer a ronda, e caso detectem algo fora do normal na paisagem florestal, basta fotografar a ocorrência, descrevê-la e enviá-la para a base de dados da associação. Ao mesmo tempo essa mensagem vai parar à protecção civil do município onde o patrulheiro está, o que permite que o problema seja resolvido mais rapidamente pelas autoridades competentes”, explica José Nuno.
A aplicação permite atribuir ao acontecimento três graus de gravidade que vão ter influência no número de dias ou horas em que o problema é resolvido. Caso o patrulheiro classifique a ocorrência como verde, entre dois a três, a autarquia resolverá o problema. Se a cor usada for amarela, em 24h ou menos a câmara intervém. O voluntário usa a cor vermelha para situações de resolução urgente como é o caso de um incêndio.
Planos para o futuro
Em 2019, a equipa quer que o projecto seja alargado ao resto do país para que se crie “a maior rede de patrulheiros do país”, porque, para já, a única que existe oficialmente é a de Albergaria-a-Velha
“Em parceria com o município, que financia os veículos, o que nós fizemos foi ceder bicicletas produzidas por nós à rede local que faz as patrulhas dentro dos seus horários e dos limites do município”, explica José Nuno, que acrescenta que a equipa já fez apresentações em quase todos os concelhos portugueses que se mostraram abertos a abraçar o projecto.
Esta iniciativa, diz José Nuno, pode ser adaptada a quase todos os municípios de uma forma ecológica, uma vez que todas as rondas se fazem de bicicleta ou a pé. A equipa está também a desenvolver uma bicicleta para os patrulheiros de costa que farão percursos específicos no litoral português em que já existam zonas de erosão ou de difícil acesso.
“Mas o que une esta gente toda [maior rede de patrulheiros que a equipa quer criar], garante o fundador, “é a aplicação porque qualquer um de nós pode ser um patrulheiro e em qualquer parte do país. A app é para todos e todos podemos ser super-heróis”.
Um projecto para a Europa
Depois de implantada em Portugal, a rede pode ser alargada a toda a Europa, passo que poderia por um lado reduzir a pegada ecológica europeia com a utilização das bicicletas e por outro outro ser uma possível solução portuguesa para um problema europeu.
É com a ajuda de fundos europeus que a Rede de Patrulheiros quer levar o projecto a todos os municípios do país. Para tal já se encontra na fase final do processo para candidatura ao programa LIFE, que contribui para o desenvolvimento sustentável e para o alcance dos objectivos e metas da Estratégia Europeia 2020.
Em Portugal, o programa é coordenado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e entre outros objectivos quer melhorar o desenvolvimento e a aplicação da legislação da União Europeia em matéria de ambiente e de clima e promover a integração dos objectivos ambientais e climáticos.
O projecto Rede de Patrulheiros está também a ser analisado para integrar o Portugal Inovação Social, o primeiro programa de um Estado-membro a utilizar os Fundos Europeus Estruturais e de Investimento para potenciar a inovação social e ser um elemento catalisador do sector e de entidades parceiras que capacitem, financiem e acompanhem as Iniciativas de Inovação e Empreendedorismo Social (IIES) em Portugal.