Polémicas com o VAR no olho do furacão
Continua a haver muitas dúvidas acerca do que é essencial, e até por parte dos intervenientes directos, treinadores e jogadores, o que prova que o papel da Federação, em termos de informação aos clubes e aos espectadores, ainda está longe de ser perfeito.
Do fim-de-semana mais longo em termos de arbitragem resultou uma série de casos de jogo e de reclamações, cuja maior parte entroncou não na decisão inicial da equipa de arbitragem, pois neste momento as pessoas começaram a ficar mais sensíveis ao facto de ser humanamente impossível detectar pormenores que só as repetições, as câmaras lentas e os diversos ângulos conseguem mostrar, mas sim na actuação do videoárbitro (VAR).
Continua a haver muitas dúvidas acerca do que é essencial, e até por parte dos intervenientes directos, treinadores e jogadores, o que prova que o papel da Federação, em termos de informação aos clubes e aos espectadores, ainda está longe de ser perfeito. As dúvidas são mais que muitas no que diz respeito ao protocolo e suas limitações, recaindo sobre o VAR um conjunto de críticas - algumas delas sem fundamento -, porque, de forma oficial, ninguém vem informar ou esclarecer na praça pública que, neste ou naquele casos, o dito protocolo não permite intervir. Na base do mesmo, de forma bem explícita, embora eu não concorde em absoluto, está o facto de só poder haver intervenção quando a decisão inicial do árbitro for “Um Erro Claro e Óbvio”.
Já falei aqui e em outros espaços de intervenção imensas vezes sobre isto, mas vou repetir as vezes que forem necessárias que no caso em que um videoárbitro vê um lance, ou melhor, vai “checkar” um lance e tem dúvidas em relação ao mesmo, ou ache que há erro do árbitro, mas que esse erro não é evidente aos olhos de toda a gente, ele não intervém. Não intervém, nem faz aquilo que eu acho que deveria fazer, e que o treinador do Boavista, Jorge Simão, também referiu na conferência de imprensa e com o qual eu concordo em absoluto: é que sempre que houvesse um lance de um potencial erro ou de uma decisão que levantasse dúvidas, o VAR deveria dizer ao árbitro isso mesmo. "Olha, tens aqui um lance que levanta dúvidas", por exemplo, de possível penálti, "toma lá as imagens e vai ao monitor ver e depois decide se queres ou não manter a decisão inicial".
É que, no meio disto tudo, nos lances de limite e de potencial penálti, e de cartões vermelhos duvidosos, o protocolo faz com que o VAR se abstenha de intervir e permite que, desta forma, vão caindo e passando lances que eu, como ex-árbitro e com a experiência que isso me confere, creio que levariam alguns árbitros a alterarem a sua decisão depois de reverem as imagens.
Dentro destes lances-limite e duvidosos, destaque para o jogo entre Rio Ave e Sporting e para o possível penálti de Mathieu sobre Vinícius, aos 41' (para mim, era penálti), e para uma eventual expulsão que foi resolvida com cartão amarelo a Vinícius (para mim, cartão vermelho).
Do jogo Boavista-FC Porto, é de realçar o lance em que Rochinha cai na área por duas vezes, ao minuto 69, com Brahimi (para mim, penálti), e o minuto 78, com Éder Militão (sem motivo para penálti).
Do jogo Benfica-Feirense, o destaque vai para dois possíveis penáltis não assinalados pela equipa de arbitragem e com os quais concordo plenamente com a decisão. Falo do minuto 50, em que Pizzi cai na área em lance de contacto com Cris, e do minuto 85, em que Seferovic não comete falta sobre Briseño.
Desta jornada ainda, o caso maior de jogo, o golo validado ao V. Setúbal, uma situação que levou o árbitro a ir ao monitor rever o lance, por um fora-de-jogo posicional de um jogador que, não tocando na bola, deixou a dúvida sobre se a sua acção teria ou não impacto no adversário e na capacidade de ele jogar a bola. Um caso interessante, que só é possível explicar acompanhado das imagens, um golo decisivo a poucos minutos do fim, que resultou na vitória dos sadinos, mas que para mim foi obtido de forma ilegal, pois, na minha interpretação, havia mesmo posição de fora-de-jogo que deveria ter sido assinalada.
O VAR tem ainda um longo caminho a percorrer, mas é inevitável, neste momento, afirmar de forma peremptória que veio para ficar. Mesmo a UEFA, com as muitas dúvidas que tinha, já anunciou a introdução do VAR a partir dos oitavos-de-final da principal e mais importante competição de clubes do mundo, a Champions. Por isso, insisto neste ponto: todos os contributos são importantes para o desenvolvimento e melhoria de todo este processo, e os agentes desportivos com responsabilidades directas - e, sobretudo, com poder de intervenção na praça pública - podem e devem criticar a actuação, aqui ou acolá do VAR, mas devem ao mesmo tempo defender esta utilíssima ferramenta que veio trazer mais verdade desportiva ao futebol e ajudar nas tomadas de decisão do árbitro.