Mais Mirós em Serralves, antes de Joana Vasconcelos (e com Anish Kapoor por concluir)
A casa que foi do Conde de Vizela vai acolher, já no dia 11, uma nova exposição com obras do artista catalão, antes das anunciadas obras de Álvaro Siza. Em Janeiro despede-se, ao que tudo indica inacabada, a grande exposição de Verão da fundação, em Fevereiro chegará Joana Vasconcelos.
A Casa de Serralves vai acolher já a partir de dia 11 (dia 12, para o público em geral) uma nova exposição com obras de Joan Miró. Antecipando – de forma imprevista e fora do plano de actividades divulgado para 2018 – o que Ana Pinho tinha anunciado na Câmara do Porto, aquando da assinatura do protocolo com a autarquia relativo ao depósito em Serralves da colecção do artista catalão, a administração da fundação decidiu avançar ainda este ano para a apresentação de uma segunda mostra feita a partir deste acervo.
Intitulada Joan Miró e a morte da pintura, a exposição vai centrar-se na produção artística do pintor em 1973, associando “23 pinturas e objectos provenientes de colecções públicas e privadas de Espanha e de França” a 11 peças da colecção oriunda do extinto Banco Português de Negócios (BPN), refere o comunicado enviado ao PÚBLICO este domingo.
A exposição, que irá decorrer até 3 de Março, inclui ainda “um filme realizado pelo fotógrafo catalão Francesc Català Roca que regista o processo de criação e destruição das Toiles brûlées”, acrescenta Serralves.
O comissário de Joan Miró e a morte da pintura é Robert Lubar Messeri, o mesmo curador de Joan Miró: Materialidade e Metamorfose, a exposição que revelou ao público entre 2016 e 2017 o acervo quase integral do artista catalão que o Estado português decidiu resgatar dos despojos do BPN e depositar no Porto.
A nova exposição vai ser realizada antes da intervenção – com data, prazos e custos também ainda não divulgados – que o arquitecto Álvaro Siza irá de novo projectar para a localização definitiva da colecção Miró na antiga villa do Conde de Vizela, uma decisão que alguns críticos, como o arquitecto e editor André Tavares, temem poder vir a descaracterizar a arquitectura original da casa.
No dia da assinatura do protocolo na Câmara do Porto, a 24 de Outubro, a presidente de Serralves, Ana Pinho, disse ao PÚBLICO que essas obras “não serão complicadas” e irão “durar apenas alguns meses”; assegurou também, na sua intervenção, que o projecto de Siza responderia à preocupação de “conviver com a arquitectura da casa” e de “conciliar a identidade do edifício com a sua nova valência”.
Reagindo agora também às reservas sobre a utilização da moradia modernista para acolher as obras de Miró, em entrevista ao Expresso, Álvaro Siza garante que, enquanto arquitecto, não irá fazer nada na Casa de Serralves, não irá “deixar assinatura”. “Mantém-se tudo. (…) Uma das coisas importantes naquela casa é a relação entre o interior e o exterior. Ou seja, a relação entre o jardim de Serralves e o interior da casa. Não se vão tapar janelas. É exactamente isso que estou a estudar, muito baseado na solução já encontrada na exposição inaugural das obras de Miró”, explicou o arquitecto ao semanário, especificando também que a sua intervenção irá incidir sobre questões mais de ordem técnica, como o tratamento do ar, o isolamento térmico e as acessibilidades.
Anish Kapoor inacabado
A nova exposição com obras de Miró na Casa de Serralves antecipa-se também inesperadamente à anunciada mostra com obras de Joana Vasconcelos, com inauguração agendada para 24 de Fevereiro, segundo recentemente avançou o JN.
Sobre a programação do Museu de Serralves para o próximo ano, o assessor para a comunicação de Serralves, Fernando Rodrigues Pereira, repetiu que ela "será divulgada apenas em Janeiro, como habitualmente". Fica assim por se saber se a retrospectiva a dedicar à mediática escultora portuguesa – uma decisão de que os dois anteriores directores artísticos do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Suzanne Cotter e João Ribas, se demarcaram publicamente – vai ou não limitar-se a replicar no Porto a exposição I’m Your Mirror, comissariada por Petra Joos e Enrique Juncosa, que até 11 de Novembro esteve no Museu Guggenheim de Bilbau, onde mobilizou a atenção de mais de 600 mil visitantes.
Por esclarecer por parte de Serralves, apesar de repetidas tentativas do PÚBLICO, ficou também se a instalação monumental que deveria completar a exposição Anish Kapoor: Obras, pensamentos, experiências, inaugurada no início do Verão, não chegará a sair do papel. Encomenda da fundação, Na sombra da árvore e no nó da terra, uma onda colossal a escavar no prado, para cuja construção foram pedidos cálculos a três equipas de engenharia do Porto, deveria ter ficado concluída em Setembro, de acordo com a estimativa feita em Julho pelo artista indiano-britânico. A exposição fecha as suas portas no dia 6 de Janeiro.