Activista tetraplégico termina protesto após visita de Marcelo. "Houve tanta solidariedade"
Eduardo Jorge, de 56 anos, fechou-se numa gaiola em frente à Assembleia da República numa acção pelo direito à vida independente. Esteve dois dias sem comer e sem se mexer.
Estava previsto que o protesto pelo direito à vida independente, organizado por Eduardo Jorge, activista tetraplégico, em frente à Assembleia República, terminasse a 4 de Dezembro. Durante a noite deste domingo, a visita do Presidente da República à gaiola improvisada que foi instalada no local, antecipou o fim da iniciativa.
O activista abandonou o protesto com a promessa de uma reunião no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, agendada para esta terça-feira.
Entre as reivindicações de Eduardo Jorge estão o atraso no arranque dos Centros de Apoio à Vida Independente (CAVI) e o modelo adoptado no arranque do projecto-piloto para o financiamento dos CAVI, que impede que alguém que, como este tetraplégico, vive num lar de idosos tenha acesso a um assistente pessoal.
Desde o início do protesto, no sábado, dia 1 de Dezembro, e até à altura em que desmobilizou, Eduardo não comeu nem se mexeu. Ficou deitado numa cama dentro de uma gaiola improvisada, ao relento, durante quase 48 horas. A sua proposta era que Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Vieira da Silva fossem os assistentes pessoais durante estes dias, mas nenhum apareceu para cumprir essas tarefas.
"Foi muito cansativo", nota. "Não consegui dormir nada." Mesmo assim, diz que o protesto compensou. "Houve tanta solidariedade."
O activista teve um acidente de carro a 20 de Fevereiro de 1991, quando tinha 28 anos. Uma lesão medular deixou-o tetraplégico. Além da acção que terminou no domingo, Eduardo já deu o corpo a outras iniciativas. Em 2013 fez greve de fome em frente à Assembleia da República e em 2014 foi de Abrantes a Lisboa de cadeira de rodas. Sempre em nome da vida independente.
Bloco pede acção do Governo
“Achamos que o Governo deve ouvir o Eduardo porque tem possibilidade, no âmbito das suas competências, de alargar os projectos e torná-los mais capazes de dar resposta concreta às pessoas com deficiência e respeitar as escolhas de pessoas como o Eduardo que querem viver na sua casa”, disse à agência Lusa Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, lembrando que nesta segunda-feira se assinalam os direitos das pessoas com deficiência.
“O Eduardo tem uma casa e gostava de viver na sua casa, mas porque o Estado não o apoia a contratar um assistente pessoal e ele não pode viver sozinho tem que estar institucionalizado, mas a verba que o Estado recusa ao Eduardo é a mesma verba que dá a uma instituição para que o Eduardo lá possa estar. Isto é absurdo, porque é negar às pessoas com deficiência o direito a escolherem como querem viver quando elas têm a sua vida organizada, trabalham, têm rendimentos, têm direito a fazer essa escolha”, insistiu Catarina Martins. com Lusa