Duas em cada três crianças na República Centro-Africana precisam de assistência humanitária urgente
Número de casos a precisar de apoio urgente subiu em relação ao último ano. Há 1,5 milhões de crianças à espera de ajuda.
Duas em cada três crianças na República Centro-Africana (RCA) precisam de assistência humanitária e milhares foram sequestradas por grupos armados ou vítimas de violência sexual, informou esta sexta-feira a UNICEF.
Dos 4,6 milhões de habitantes do país africano, pelo menos 1,5 milhões de crianças precisam de ajuda humanitária para sobreviver aos combates entre grupos armados. São mais 300 mil do que em relação a 2016.
"Esta crise está a ter lugar num dos países mais pobres e menos desenvolvidos do mundo, e um dos mais perigosos para os trabalhadores humanitários", disse a representante da UNICEF na República Centro-Africana, Christine Muhigana. "A situação das crianças é desesperante".
A RCA é um dos países mais pobres do mundo, marcado pela violência e o caos a partir de 2013. Os conflitos começaram após o derrube do Presidente François Bozizé. Entre as facções em combate estão os rebeldes Séléka — composta principalmente por muçulmanos do Norte do país —, e as milícias anti-balaka, compostas sobretudo por combatentes cristãos e animistas.
Diz ainda o relatório da UNICEF que uma em cada quatro crianças é deslocada ou refugiada e que, apesar do agravamento da crise, o financiamento e a atenção da comunidade internacional são extremamente baixos, lamentou a agência da ONU. Também o número de ataques a trabalhadores humanitários mais do que quadruplicou. De 67 incidentes em 2017, o número aumentou para 294 nos primeiros oito meses e meio de 2018. Segundo a ONU, várias regiões da África Central já se encontram na fase 4 (numa escala de 5), considerada como fase de emergência.
As populações civis têm sido alvo da violência de grupos armados de diferentes etnias, movidos por interesses dos “senhores da guerra” que cada vez mais “instrumentalizam a religião” como pretexto para “cada vez mais conflitos”, disse a representante da UNICEF.
Apenas um quinto do território é controlado pelo governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016. Já o restante está dividido por mais de 15 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
A missão dos "capacetes azuis" naquele país é considerada de fulcral: são cerca de 13 mil militares de vários países, incluindo Portugal, que tem actualmente no local 159 pára-quedistas.
O conflito no país já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.