Médicos pedem ligação entre hospital de São João e contentores de internamento pediátrico

O caminho entre os contentores provisórios instalados em 2011 e o hospital é feito à chuva e frio, o que limita a deslocação das crianças e as respostas das equipas médicas.

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Médicos falam em más condições nos contentores Paulo Pimenta

A distância entre os contentores do internamento pediátrico e o edifício do Hospital de São João, onde se fazem exames e cirurgias, preocupam os médicos, que defendem uma “solução intermédia” até à construção da nova Ala Pediátrica.

Para Maria João Gil da Costa, oncologista pediátrica naquele centro hospitalar do Porto “há 30 anos”, estar “fora do edifício do hospital” é o “problema mais grave” do internamento de crianças em contentores provisórios desde 2011, nomeadamente devido a “exames que são adiados ou não são feitos” enquanto se aguarda pelo transporte numa ambulância.

“Temos recursos imprescindíveis, como os cuidados intensivos, a cirurgia pediátrica permanente ou a neurocirurgia. Temos tudo o que as crianças precisam. O crucial é que rapidamente nos ponham dentro do hospital. Uma possibilidade intermédia era tentar encontrar uma solução dentro do edifício, ou num contentor anexo ligado ao hospital, que dispensasse a necessidade de ambulâncias”, defendeu, em entrevista à Lusa.

Às deslocações das crianças soma-se a necessidade de médicos e outros profissionais terem de deixar os respectivos serviços no edifício central para percorrer a pé, debaixo de calor ou “à chuva, ao vento e ao frio”, o caminho até aos contentores, descreve a médica.

“É muito diferente um neurocirurgião ver um doente de outro serviço no hospital ou deslocar-se aqui ao bosque”, justifica.

Para a médica, colocar o internamento pediátrico em contentores fora do hospital “foi a pior solução possível”.

“As crianças têm de usar a ambulância para fazer uma radiografia, para ir fazer uma cirurgia, para vir da cirurgia para o internamento. Era de prever que, se ficássemos fora do edifício, íamos ter imensos problemas”, afirmou.

Para Estevão Costa, director do serviço de Cirurgia Pediátrica, “deveria ser feito um esforço para se pensar seriamente em disponibilizar melhores condições para as crianças, dentro do hospital”, até que esteja pronta a nova Ala Pediátrica.

“Existe uma falha gritante das instalações”, descreve, apelando ao “engenho e arte” para criar outras condições dentro do hospital durante a construção das novas instalações.

José Carlos Areias, cardiologista pediátrico no São João durante 36 anos (reformou-se no verão) e membro da Comissão Nacional da Saúde Materna, da Criança e do Adolescente alerta que, “mesmo que a obra [da Ala Pediátrica] seja adjudicada rapidamente, vai demorar anos até que seja concluída”.

Referindo-se aos contentores actuais, o médico assinala “perdas de tempo e de actividade” e uma “relação custo-benefício altamente alterada”.

“É preciso que a ambulância conduza médicos e doentes para o outro lado [o edifício principal]. Enquanto as pessoas esperam não estão a trabalhar. Tudo isto desmotiva as pessoas. Cria uma certa má relação com o trabalho. Não se vê ninguém que esteja satisfeito naquelas condições”, afirma.

Segundo o também professor catedrático, “chove dentro dos contentores”. “Não chove como na rua, mas chove”, diz. “A cada passo, é preciso tirar crianças de enfermarias onde chove e colocá-las noutras”, afirma.

A administração do São João admitiu na quinta-feira transferir o internamento de crianças em contentores para espaços do edifício principal que devem ficar livres em Março, numa mudança temporária até à construção da Ala Pediátrica.

O parlamento aprovou na terça-feira, por unanimidade, a proposta de alteração do PS ao Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) que prevê a possibilidade de ajuste directo para a construção da Ala Pediátrica.

Na quarta-feira, o director clínico do São João apontou o arranque das obras em 2019 e a conclusão no fim de 2021.