Depois de alguns anos na banca de retalho, Djalmo Gomes e Luís Lucas decidiram mudar de vida. O primeiro emigrou para Angola, onde enveredou pelo Marketing, o segundo foi para o Reino Unido, onde apostou na gestão hoteleira. Mas em 2017 decidiram regressar a Portugal para fundarem uma empresa, a Live Electric Tours, em Lisboa, que acaba de ganhar o primeiro prémio do concurso Startup Europe Awards na categoria Turismo.
O negócio vai de vento em popa e consiste em alugar carros eléctricos equipados com câmara digital no tejadilho e Wi-Fi. Assim, ninguém tem de se preocupar com as fotografias, nem com acesso à Internet para partilhar as imagens: toda a viagem pode ser mostrada em directo a amigos ou à família, via live streaming no Facebook, no Youtube, no Vimeo ou no Periscope. A empresa espera alargar no futuro o live streaming ao Instagram.
A empresa tem uma frota de 16 Renault Twizy, com autonomia para 70 a 80 quilómetros, que podem ser alugados para fazer um de seis roteiros turísticos por Lisboa. O facto de serem eléctricos traz uma vantagem adicional, salienta Djalmo Gomes – o estacionamento nos lugares da Emel é gratuito (um benefício concedido pela autarquia lisboeta para incentivar a mobilidade eléctrica).
O serviço pode ser contratado pelo site ou na loja aberta recentemente. A lotação de cada veículo é de duas pessoas (em tandem, uma à frente e outra atrás), podendo o carro ser entregue ao cliente no hotel (a empresa também assegura o levantamento do veículo na devolução).
A Live Electric Tours arrancou com cinco planos de aluguer, com duração e preços distintos: Lisboa livre (uma hora sem limites e sem planos; 26 euros); Lisboa alternativa (duas horas; 55 euros); Lisboa pelo rio (três horas, 65 euros); Lisboa miradouros (três horas, 69 euros); e Lisboa completa (seis horas, 99 euros). A isto, juntou-se uma sexta proposta, lançada em Setembro deste ano, chamada Lisboa moderna + Oceanário (seis horas, 99 euros com direito a dois bilhetes para o Oceanário).
O carro inclui ligação à Internet que permite fazer o live streaming de toda a viagem e funciona como um hotspot Wi-Fi para ligar equipamentos como tablet ou smartphone. Quem não quiser transmitir o vídeo em directo através das redes sociais – 100% dos clientes que o fizeram até agora, usaram o Facebook – pode solicitar a gravação do vídeo, que depois é enviado por email para o cliente.
Vídeo promocional da empresa
A característica mais distintiva é, no entanto, ter a bordo um assistente virtual de turismo, que vai falando da cidade à medida que a viagem decorre. É uma espécie de guia turístico disponível em três idiomas (português, inglês e espanhol), mas "com uma abordagem muito diferente da dos guias tradicionais", explica Djalmo Gomes.
"Falamos de Lisboa e dos pontos de interesse numa perspectiva dos estilos de vida. Não falamos da história, essa deixamos para os guias especializados. Indicamos onde é que se pode sair à noite para beber um copo, explicamos o que distingue o Bairro Alto do dia do Bairro Alto da noite, percorremos as obras do Vhils e do Bordallo I, resumimos as nacionalidades do Intendente e do Martim Moniz ou sugerimos o melhor miradouro para diferentes actividades como, por exemplo, fazer um pedido de casamento", descreve o mesmo responsável. Em breve, a empresa conta adicionar mais dois idiomas ao assistente pessoal de turismo, alemão e francês, "porque a procura assim o exige".
Num ano, triplicou
A ideia de negócio nasceu por necessidade, a pensar em turistas em Lisboa, mas, após um ano no mercado, os fundadores deram início à expansão. E garantiram em Janeiro a ajuda de um investidor, a Portugal Ventures (uma sociedade de capitais de risco para startups que pertence ao Estado português), que investiu 700 mil euros na Live Electric Tours.
Em termos de geografia, a empresa chegará ao Porto em Março de 2019 e a Évora, até ao final do primeiro semestre do próximo ano. E em termos de segmentos, criou uma solução corporate, para empresas. Neste caso, o preço começa nos 40 euros, por hora e por pessoa, com o mínimo de duas horas, podendo o percurso ser personalizado pelo cliente.
Exemplo da viagem de clientes
"Vivia em Angola e fui de férias a Lisboa. Decidi tirar uma manhã para descobrir alguns pontos de interesse em Lisboa e não encontrei solução para mim", recorda Djalmo. "Procurava uma alternativa a transportes públicos, uma solução simples, para visitar a Sé, os miradouros de São Pedro de Alcântara e da Senhora do Monte. Gastei 90 euros, em tuk tuk e bicicletas e achei que havia uma falha de mercado para turistas com o meu perfil. Pensei que havia qualquer coisa a fazer para Lisboa, uma cidade supercongestionada e com poucas soluções sustentáveis", conta.
Desafiou então o outro fundador, Luís Lucas, a regressar ao país e a desenvolver esta ideia. A empresa nasceu no início de 2017, em Fevereiro e Março passaram pelo Vodafone Power Lab, uma incubadora de startups criada por aquela operadora de comunicações, que é o parceiro tecnológico desta empresa. Em Agosto desse ano entraram no mercado e, 15 meses depois, chegou o reconhecimento internacional.
Primeiro entraram na competição nacional, em Janeiro de 2018. Djalmo, 36 anos, diz que "foi surpreendente". "Éramos uma empresa muito nova ainda, estávamos a testar o produto e havia lá outras empresas mais sólidas, com mais mercado e volume de facturação", lembra. Porém, o júri acreditou que Djalmo e Luís mereciam ir à final europeia. "Ficámos na expectativa. Os critérios eram tecnologia, sustentabilidade, capacidade de ganhar escala e ser uma empresa com menos de dois anos. Quando olhámos para esta lista, começou a fazer imenso sentido."
"A Europa quer mais projectos como o vosso. Mais paixão, dedicação, talento e energia", disse a comissária europeia Mariya Gabriel, que tutela a Economia e Sociedade Digital, depois de entregar o certificado à Live Electric Tours. Os fundadores podem agora candidatar-se a um apoio de 50 mil euros, com verbas da Comissão Europeia. O projecto passa também a ser elegível à concessão de outro apoio financeiro, mais vultuoso, de até 2,5 milhões de euros, a fundo perdido. A empresa começou com três pessoas e cinco carros. Hoje são dez pessoas e 16 viaturas em Lisboa, um crescimento financiado com a ajuda do tal investidor e também alavancado nas receitas geradas até agora.
Para a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, "isto mostra a grande capacidade das startups portuguesas para consagrar Portugal como um hub de inovação no Turismo e de soluções sustentáveis". Para Djalmo Gomes, o prémio é "uma satisfação muito grande. "Somos um país pequeno, o mercado empreendedor europeu é gigante, vale muitos milhões e tem empresas gigantes, mas somos ainda muito pequenos, apesar de não pensarmos assim por causa de questões como a Web Summit. O prémio representa o reconhecimento do ecossistema português, do que estamos a fazer no turismo, para nós significa responsabilidade, notoriedade e motivação para crescer e melhorar".