António Godinho: "A situação financeira da Associação é muito delicada"
A corrida à liderança da Associação Mutualista já começou, com a distribuição dos votos por correspondência pelos associados. O dia das eleições é 7 de Dezembro. Conheça as principais ideias da Lista C.
Na qualidade de candidato à liderança do grupo MG, como é que encara a futura relação da AMMG com o supervisor, a ASF, quando entrar em vigor o novo estatuto?
A Lista C vê como muito positiva a supervisão da ASF, enquanto garante da boa gestão futura das poupanças dos associados. Quer colaborar, sem reservas, com o supervisor na elaboração e implementação do plano de adaptação nos próximos 12 anos, para repor o equilíbrio económico, financeiro e prudencial da associação, bem como as boas práticas na sua gestão, enquadráveis nos parâmetros da ASF.
Esta lista pretende resgatar a instituição Montepio Geral e recuperar a confiança não só dos associados e colaboradores, mas também de todos os que com ela se relacionam, como é o caso dos reguladores e da ASF em particular.
Garante que todos os membros da sua lista candidata aos órgãos sociais cumprem na íntegra os critérios de registo prévio de idoneidade que permitem passar no crivo do supervisor?
Sim, foi uma das nossas maiores preocupações na constituição dos órgãos sociais que compõem a lista. Estou certo que todos os membros da lista cumprem na íntegra os critérios de registo prévio de idoneidade.
Descontando o efeito do crédito fiscal de 808,6 milhões de euros, a AMMG teria fechado 2016 com capitais próprios negativos de 251 milhões de euros. E não teria apresentado, em 2017, lucros de 587,5 milhões de euros. O que sugere para sanear financeiramente o grupo mutualista?
A situação económica e financeira da Associação é muito delicada. Isto apesar das cosmética contabilística das suas contas, através do reconhecimento por parte da AT dos créditos fiscais (os chamados activos por impostos diferidos) obtido com a perda da nossa identidade enquanto IPSS, comprometendo 16% dos lucros futuros no pagamento de IRS. Somos por uma politica de transparência e queremos reverter esta situação, assumindo o que tivermos que assumir, e não comprometer a recuperação financeira necessária com o pagamento de impostos. Também não a comprometeremos com o desvio de 20% dos lucros futuros para financiar Fundos de Capital de Risco, ainda por cima sem conhecimento de quem os vai gerir. O risco e mutualismo não podem andar de mãos dadas.
O Plano de Adaptação da associação resulta da necessidade de diminuir a excessiva exposição da associação ao grupo, o que implicará uma recomposição patrimonial, com alienações parciais e totais a darem lugar a novos investimentos, a exigir muita ponderação e sensatez na sua concepção e na sua implementação. Elegemos dois primados neste processo: o da salvaguarda do valor patrimonial da associação e o da transparência, o que releva a importância da próxima revisão estatutária que a deve assegurar, bem como reforçar o controlo sobre a gestão, que esperamos conseguir pelo reforço da independência do Conselho Fiscal, eleito em voto autónomo do Conselho de Administração conforme defendemos.
Não nos vamos esconder na opacidade da gestão como na compra do Finibanco, da Real Seguros e na venda dos 30% do Finibanco Angola. Isso é passado. Iremos trabalhar intimamente com o supervisor na elaboração do Plano de Adaptação e, na escolha de novos parceiros, daremos preferência a entidades da área social, nacionais e estrangeiras, nomeadamente europeias.
O principal activo da AMMG é a CEMG, que gera uma imparidade no balanço de 498 milhões de euros. O que propõe para reduzir o risco e a dependência da AMMG do banco?
Efectivamente, assim é. A redução da exposição à CEMG veio para cima da mesa no último ano, com trapalhada retórica do Banco Social para servir a economia social e a entrada das Misericórdias, um ridículo e triste espectáculo em que o Montepio esteve envolvido. A estrutura do balanço da Associação Mutualista tem que ser corrigida e a CEMG é o elemento chave para essa correcção.
O problema está colocado e trabalharemos com a administração da CEMG, com os supervisores BdP, ASF, falaremos com o Governo, na procura das melhores soluções, sempre guiados pelo primado da defesa do valor patrimonial da associação, ou seja, no melhor interesse dos associados.
Tendo em conta que a AMMG faz parte do subsistema complementar do sistema de segurança social, qual é o papel que a instituição, que se propõe liderar nos próximos três anos, deve desempenhar no contexto da economia social em Portugal?
Queremos reassumir a nossa vocação de sermos um actor relevante na área da Previdência Complementar, em particular na protecção da velhice e queremos crescer na área da saúde, nomeadamente na assistência domiciliária e nos cuidados continuados. Intensificaremos a colaboração e apoio a instituições sem fim lucrativo que intervêm nas várias valências do apoio social. Queremos fortificar a solidariedade social em Portugal.
Mas queremos também ser um exemplo de referência das boas práticas democráticas pondo fim à vergonha actual da falta de credibilidade do nosso processo eleitoral e que se volta a repetir este ano. Os votos já foram enviados e já há associados a votarem, ainda antes da primeira reunião de trabalho da Comissão Eleitoral e com o esclarecimento eleitoral por fazer. O festim dos votos avulso sem controlo continua. As assinaturas dos associados estão disponíveis a milhares de utilizadores e a autenticação do voto volta a ser feita, grotescamente, por conferência da assinatura, por semelhança, o que permite invalidar votos de associados que votaram e aceitar votos falsificados dos que não votaram. Todo o processo eleitoral continua controlado pela Lista A, e volta-se a anunciar que as eleições são auditadas por entidade independente, de novo pela PwC, a mesma que após as eleições de 2015 negou, em tribunal, que tivesse sido contratada para auditar as eleições. Uma farsa que se repete. Propusemos que fosse enviado um SMS a cada votante, a acusar a recepção do voto, para dificultar as falsificações, mas o padre Vítor Melícias, presidente da mesa da Assembleia Geral, rejeitou a proposta liminarmente.
Vamos apelar ao Dr. Vieira da Silva para assumir as suas responsabilidades de ministro tutelar e para que exerça os seus poderes na supervisão destas eleições, a bem do Montepio, da sua credibilidade e da sua imagem. O Montepio precisa de virar a página.
A AMMG tem estado a perder associados. Desde 2015 deixaram o grupo mais de 10 mil associados. Que medidas propõe para suster a saída dos mutualistas da AMMG?
O número que refere sendo verdadeiro, não é o que melhor reflecte a realidade da evolução associativa nos últimos anos. Entre 2012 e 2014 saíram 68 mil associados da associação, mas de 2015 para cá duplicaram, subiram para 157 mil, enquanto as entradas diminuíram de 202 mil para 145 mil nos mesmos períodos. Temos, assim, mais saídas e menos entradas, espelhando a profunda crise de confiança na Associação desde que começaram a ser conhecidos, em 2014, os escândalos envolvendo os actuais dirigentes.
Para nós é claro que a gestão de Tomás Correia tem causado grandes danos reputacionais e por isso têm destruído a confiança na Associação Mutualista, laboriosamente erguida durante 150 anos.
Vai dar trabalho mas acreditamos que os portugueses distinguem o Montepio, casa de bem, da nefasta imagem dos dirigentes actuais. A recentração da acção organizativa e promocional do Montepio na sua vocação fundacional, com actualização dos produtos mutualistas para proteger o indivíduo e a família à luz das novas realidades sociais, apoiada no colectivo e na motivação dos trabalhadores do Montepio, fará o resto. Esse é o nosso grande desafio.
A entrevista foi feita por email e as respostas foram exactamente as mesmas para todos os candidatos. Conheça as ideias das outras listas A e B nos textos relacionados