Violência doméstica: quando começa é para durar
Estatísticas da APAV mostram que muitas vítimas estiveram nesta situação entre dois a seis anos.
As vítimas de violência doméstica não são alvo de um acto esporádico, sendo esta pelo contrário uma experiência “de vitimação continuada, com uma duração média entre os dois e os seis anos”. A conclusão é da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e tem na base 36.528 processos que foram acompanhados pela organização entre 2003 e 2017.
Numa compilação estatística divulgada nesta quinta-feira, a APAV especifica que estes processos se traduziram “num total de 87.730 factos criminosos”. Em cerca de 80% das situações, a violência foi exercida de forma continuada. A duração da vitimação com maior peso situa-se entre dois e seis anos (15,1%), mas cerca de 8% das vítimas indicam que esta se prolongou por 12 a 25 anos.
As estatísticas da APAV confirmam que a “residência comum” (do agressor e da vítima) é o local privilegiado para estes crimes (64,6%) e que as vítimas “eram sobretudo mulheres casadas” com idades entre os 26 e os 55 anos. Cerca de 14% das vítimas eram do sexo masculino.
Este é também o intervalo etário com maior peso entre os autores dos crimes, dos quais 85% eram do sexo masculino.
Os dados agora divulgados mostram que cerca de um terço dos autores dos crimes estavam empregados, sendo que em perto de 40% dos casos não foi dada resposta sobre a actividade económica exercida por estes.
Dos crimes registados, os maus-tratos psíquicos são os que têm maior expressão, estando sempre acima dos 35% nos cinco anos em análise. Seguem-se os maus-tratos físicos (27%) e as ameaças ou coacção (17%). Mas os crimes de natureza sexual são os únicos que registaram uma tendência de subida continuada durante este período, embora não tenham ultrapassado uma prevalência de 2,5%, o valor registado em 2017.