Costa aponta matérias sociais como base para novos acordos de esquerda

Assinalando três anos de Governo, que se comemoram na segunda-feira, o primeiro-ministro deu uma entrevista à agência Lusa.

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António Costa faz segunda-feira três anos de mandato como primeiro-ministro LUSA/MÁRIO CRUZ

O primeiro-ministro, António Costa, espera ter a confiança dos portugueses para fazer mais um mandato neste cargo e considera que matérias sociais como saúde, educação o e combate às desigualdades podem ser base para novos acordos à esquerda.

Em entrevista à Lusa a assinalar os três anos de Governo que se comemoram na segunda-feira, António Costa, exclui a possibilidade de exigir a inclusão de matérias que dividem o PS dos partidos à sua esquerda em futuros acordos de Governo, como as questões europeias e de defesa nacional. “Só se não tivesse vontade de chegar a um entendimento com os outros é que punha como condição haver acordo sobre matérias em que, à partida, já sabemos que não vai haver acordo”, alega.

Quanto à renovação ou não da actual e inédita solução de Governo, com o Bloco de Esquerda, PCP e PEV a assegurarem apoio parlamentar ao executivo PS, o primeiro-ministro afirma querer “dar continuidade a uma formação política que surpreendeu muita gente há três anos, mas que hoje já entrou na normalidade do quotidiano de todos”. E acrescenta: “Da minha parte, de facto, não faço depender da existência de maioria ou ausência de maioria a manutenção destas posições conjuntas com o PEV, PCP e BE - assim haja temas sobre os quais possamos voltar a convergir na próxima legislatura. Espero que haja, porque seguramente há muito trabalho a continuar.”

Já sobre a disponibilidade manifestada pelo BE para integrar o Governo, Costa argumenta que “as relações entre os partidos são como as relações entre as pessoas”, citando mesmo a este propósito um princípio que tem sido preconizado pelo PCP: “O PCP tem, aliás, uma boa frase sobre isso: O grau de compromisso depende do grau de convergência. Se nós estivéssemos 100% de acordo, bom, provavelmente até fundíamos os partidos. Se temos partidos diferentes é porque não estamos 100% de acordo. Se o nível de divergência for significativo, como é, eu creio que não seria o melhor caminho.” E sobre o combate ao voto útil à esquerda no PS, o primeiro-ministro manifesta mesmo a sua esperança de que BE, PCP e PEV “não vivam obcecados com os resultados eleitorais do PS”.

Sobre o líder do PSD, Rui Rio, e se considera que este tem um estilo de oposição moderado em relação ao Governo e sobretudo em relação a si enquanto primeiro-ministro, Costa comenta apenas que Rio “tem feito a oposição que entende fazer”. E aproveita para criticar Passos Coelho: "Não é normal na vida política acontecer o que acontecia com a anterior liderança do PSD, que era existir um grau de conflitualidade exacerbado que, objectivamente, era muito penalizador do funcionamento da democracia.”

O primeiro-ministro demarca-se também da tese de que quer fazer de Rio seu vice-primeiro-ministro num futuro Governo ao responder: “Eu ouvir, ouvi, mas não sei bem de onde é que vem essa ideia, visto que eu próprio já explicitei várias vezes que considero a existência de blocos centrais, salvo em situação de calamidade extrema, negativa para a democracia.”

Em relação à permanência de Santos Silva como ministro dos Negócios Estrangeiros e de Mário Centeno na pasta das Finanças, ou se prefere um dos dois para futuro comissário europeu, o primeiro-ministro recusa-se a esclarecer, argumentando que especular sobre o futuro executivo seria “um desrespeito”, já que estaria a antecipar soluções governativas que dependem do voto dos portugueses. Já sobre a eventual recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro afirma que acredita sempre no Presidente da República. "Quando ele diz que não tem uma posição tomada, eu só posso acreditar que ele não tem uma decisão tomada.”