Maria Von Hafe, Margarida Oliveira, Cristiana Oliveira e Mariana Rebola. Quatro jovens, recém-licenciadas, que criaram a Dose: uma revista semestral, com 12 artistas por edição, que surge como um manifesto contra o panorama artístico nacional.
E o que quer isto dizer? Respondem as três primeiras, que se sentam à conversa com o P3 num café no Porto — Mariana está, por estes dias, na Bélgica a estudar Fotografia. “É uma revista de arte e não sobre arte”, começa por distinguir Cristiana Oliveira, 22 anos, formada em Comunicação Social e a única do grupo que não se licenciou na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). Isto porque nesta publicação só entram obras de arte, como se de uma exposição em papel se tratasse. “Não há editoriais, notícias ou outras informações. Apenas o nome dos artistas e os trabalhos”, revela. É também uma forma de contrariar o discurso teórico da academia. “O papel dos artistas não é esse, não somos críticos nem teóricos, nem queremos escrever ensaios”, destaca Maria Von Hafe, 23 anos, licenciada em Multimédia e mestranda em cinema documental na Escola Superior de Media, Artes e Design, em Vila do Conde.
Até porque ensaios já escreveram em número suficiente na faculdade. “Os estudantes estão a ser formatados”, afirma Maria, especificando que nas faculdades “não se ensina como entrar no mercado de trabalho, nem como expor”. A falta de ferramentas práticas no ensino universitário dificulta ainda mais a entrada numa área já por si fechada e difícil, onde faltam as oportunidades para novos artistas: "Há falta de espaços e não de artistas", conclui Cristiana.
É este espaço que a Dose pretende ocupar, seja em que meio for. É que a revista tem duas edições, uma em papel e outra online, com conteúdos diferentes. Os artistas são os mesmos, mas são convidados a fazer dois trabalhos, um para cada plataforma. O objectivo é, segundo Cristiana, “tirar o melhor proveito de cada meio” e “abranger todos os tipos de arte”. “Queremos incluir tudo o que tenha valor”, explica, ressalvando que apesar do predomínio do “discurso visual”, “um músico, por exemplo, não está excluído”.
Por isso, na edição online vão surgir, naturalmente, mais vídeos, animações e áudios, enquanto no papel vão predominar as ilustrações e pinturas. Ou outras coisas quaisquer: a liberdade é total. “Não somos uma revista temática, os artistas não têm limites”, realça Cristiana. A cor, diz, é o único critério, até porque as edições vão ser monocromáticas.
O preto é a cor da primeira edição, que conta com trabalhos de Sara Mealha, Alina Koshova, Mariya Nesvyetaylo, Nelson Duarte, Mauro Ventura, Maria João Ferreira, Joana Ribeiro, Manuel Tainha, Mariana Rocha, Manuel Queiró, Nuno Vieira e Rafael Silva. Quer nesta, quer em futuras edições, não vão entrar trabalhos das fundadoras. É uma política editorial. “A revista não é uma ferramenta de autopromoção, nunca vai ter um trabalho nosso”, afirma Margarida Oliveira, licenciada em Pintura, actualmente a tirar o mestrado em Crítica, Curadoria e Teorias de Arte, na Universidade de Lisboa.
“Não existe nada assim em Portugal, queremos ser a plataforma que dá espaço aos artistas”, afirma Margarida. Para isso, esperam reunir “o melhor que se faz em todo o país”. A revista está à venda por dez euros em vários espaços do país e na loja online. A versão digital e gratuita pode ser consultada no site oficial. As receitas pretendem dar autonomia financeira ao projecto, uma vez que esta primeira edição foi suportada pelas criadoras.
Depois do lançamento no Porto, a 28 de Setembro, e em Lisboa, a 13 de Outubro, a Dose vai agora ser apresentada a 22 de Novembro na FBAUP, pelas 16h, e a 24 de Novembro, no Club de Vila Real, pelas 17h. Promete-se um ambiente "mais informal". "Queremos", conclui Margarida, "receber feedback e falar sobre arte".