Longe vão os tempos em que nos deixávamos seduzir pelos EUA. A terra das mil e uma oportunidades, e o seu peculiar modo de vida pincelado de arranha-céus, deixou de ser atractiva. O tempo exerceu a sua força com a preciosa ajuda da tecnologia. Hoje viajamos mais facilmente, atravessando oceanos ao mesmo tempo que beijamos as diferentes culturas do globo. A mobilidade construiu um novo mundo. Um mundo sem fronteiras, em que existe uma constante mistura de culturas e de raças.
Se escolhermos uma capital ao acaso, não será difícil encontrar a gastronomia dos quatro cantos do planeta nessa mesma cidade. O multiculturalismo veste os dias do presente e do futuro. Buscamos um significado mais profundo para o sentido das nossas vidas, e alguma calma dentro do ritmo frenético em que vivemos e da sociedade de consumo em que vivemos.
Todos queremos ter um bom kokoro, que significa conectar de forma harmoniosa o espírito, a mente e o corpo — por isso é que todos os dias há mais adeptos, como eu, do mindfulness japonês, o denominado ikigai. Esta terminologia entra nas nossas vidas, não como uma resposta para a busca para a felicidade, mas sim como uma consequência.
A Organização Mundial de Saúde diz-nos que o Japão é o país com maior longevidade. Se estudarmos a aldeia com maior número de centenários, que fica em Okinawa, percebemos porquê. A razão chama-se ikigai, a arte de ter vontade de viver. Os populares de Okinawa vêem o ikigai como uma motivação vital, uma missão, algo que os faz levantar todos os dias da cama.
O Japão entrou assim nas nossas vidas na última década em várias frentes para colmatar muitos dos nossos problemas com a sua sabedoria milenar. Hoje está nas bocas do mundo Harajuku, o bairro das tendências em Tóquio. Já os mais românticos, como eu, sonham um dia visitar Quioto nas várias estações do ano. E confesso que adoraria mergulhar na Medicina que se pratica em muitas aldeias japonesas e absorver a sua sabedoria milenar.
Esta moda nipónica começou por alastrar-se através das nossas bocas pela gastronomia, com a aparição de restaurantes e tabernas, que a pouco e pouco substituíram muitos dos restaurantes chineses que por cá andavam. A febre do sushi veio para ficar e pelo meio descobrimos que os japoneses não comem apenas sushi, nem o fazem todos os dias. Alguns ainda hoje se recordam da personagem de anime Naruto a comer uma sopa de noodles com ingredientes variados, como se fosse um verdadeiro manjar dos deuses. Na realidade é e chama-se ramen. Esta sopa japonesa, com origem na cozinha de fusão chinesa, é absolutamente deliciosa e nós por cá temos o excelente ramen do Afuri ou do Kokoro Ramen, em Lisboa, ou o Ramen Break, no Porto.
Já todos ouvimos seguramente falar de kirigami, a arte do papel recortado, e de origami, a arte do papel dobrado. Não faltam workshops sobre como fazer sushi ou aprender estas artes. Os termos shibari ou kinbaku também não serão desconhecidos para muitos de nós. Referem-se à arte erótica centenária japonesa, o bondage japonês.
Por fim, e como estamos em época de consumismo, deixo mais um termo japonês que se arrisca a tornar-se comum: tsundoku, que faz lembrar a palavra sudoku. Pois, tsundoku remete para aquelas pessoas que compram compulsivamente livros, acumulando-os na estante, acabando por não os ler.
A terminologia japonesa arrisca-se a competir ferozmente com os anglicismos no tempo presente e nos dias do futuro. O nosso mundo caminha com a necessidade inteligente de integrar e não de separar, aceitando a diversidade como parte da nossa essência.