Missionário cristão morto por tribo em ilha remota e perigosa

Um norte-americano de 26 anos foi morto por uma tribo indígena na Índia. Família pede que os nativos não sejam responsabilizados pela morte do homem.

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Em primeiro plano, o jovem norte-americano encontrado morto DR

Um missionário cristão norte-americano foi morto e enterrado por uma tribo de caçadores-colectores na ilha Sentinela do Norte, uma zona remota no Oceano Índico onde tinha ido com o objectivo de proselitismo religioso aquela região. A notícia foi avançada nesta quarta-feira pelas autoridades locais.

A ilha, conhecida por ser perigosa, é habitada por uma tribo indígena hostil. O governo indiano traçou um perímetro de segurança de cinco quilómetros circundantes à ilha, tornando também ilegal o contacto com os habitantes. 

John Allen Chau, de 26 anos, foi encontrado morto numa zona onde fica a considerada a última tribo pré-neolítica do mundo, já fora da área aconselhada para quem visita a região, informou Dependra Pathak, director-geral da polícia em Andamão e Nicobar.

O representante das autoridades locais acrescentou que foram presos pescadores locais por suspeita de terem transportado ilegalmente o missionário norte-americano para a ilha de 60 quilómetros quadrados.

Chau foi morto por membros da comunidade Sentinelese, que, segundo a imprensa local, terão usado arcos e flechas.

Nas redes sociais, o norte-americano de 26 anos era descrito como um aventureiro e explorador. Respondendo a uma pergunta num blogue de viagens sobre o que estava no topo de sua lista de aventuras, Chau disse: "Voltar às Ilhas Andaman e Nicobar, na Índia".

"Recebo de Jesus a minha inspiração para a vida", afirmou.

Família perdoa responsáveis pela morte

Percorrendo as publicações do norte-americano, conclui-se que esta não era a primeira visita do missionário à Índia. De acordo com a pegada virtual de John Allen Chau, o missionário já teria explorado e pregado em muitas partes do sul da Índia.

"Recentemente soubemos de relatos não confirmados que John Allen Chau foi morto na Índia enquanto procurava membros da Tribo Sentinela nas Ilhas Andamão", disseram membros da família Chau numa publicação na sua página no Instagram. 

A família descreve-o como um "amado filho, irmão e tio", bem como um missionário cristão, técnico de emergência médica, treinador de futebol e montanhista.

"Ele amava Deus, a vida, ajudando os necessitados e não tinha nada além de amor pelo povo sentinela", disse a família. "Nós perdoamos os supostamente responsáveis pela sua morte. Também pedimos a libertação dos amigos que ele tinha nas Ilhas Andamão."

Na mesma publicação, a família pede que os contactos locais da vítima não sejam responsabilizados pela morte de John Allen Chau.

As autoridades locais iniciaram uma investigação sobre a morte de Chau após terem sido contactadas pelo consulado americano na cidade de Chennai, no sul da Índia.

"Estamos cientes dos relatos sobre um cidadão norte-americano nas Ilhas Andamão e Nicobar", disse uma porta-voz do consulado por e-mail, recusando-se a fornecer mais detalhes.

De acordo com as informações recolhidas, no dia 15 de Novembro, Chau fez duas ou três viagens à ilha de canoa. Nessas viagens esteve com a tribo, mas regressou sempre ao seu barco.

No dia seguinte, o norte-americano terá dito aos pescadores que não voltaria da ilha e mandou-os voltar para casa e levar algumas anotações manuscritas que Chau fez para um amigo. Na manhã seguinte, os pescadores viram o corpo do norte-americano a ser arrastado por uma praia e enterrado na areia. “Foi uma aventura que saiu do lugar e entrou numa área altamente protegida", resumiu o director-geral da polícia local.

Uma fonte da Reuters conta ainda que Chau tinha levado tesouras, alfinetes de segurança e uma bola de futebol como presentes para a tribo.

Nas notas manuscritas, Chau escreveu que enquanto alguns membros da tribo eram bondosos e aceitavam a sua presença outros eram muito agressivos. "Tenho sido tão gentil com eles. Porque estão eles tão zangados e agressivos?", escreveu. O missionário apontou naquelas notas que estava a tentar “estabelecer o reino de Jesus na ilha” e que terá pedido para que os nativos não fossem culpados caso ele fosse morto.

Este não é o primeiro homicídio naquela ilha. Em 2006, dois pescadores foram mortos e seus corpos nunca foram recuperados. Quando um helicóptero da Guarda Costeira indiana foi enviado para recuperar os corpos foi repelido por uma saraivada de flechas da comunidade.