Eucaliptos, académicos avençados e calúnia inter pares
Muito gostaria de saber o que têm as universidades a dizer sobre tal postura. Provavelmente nada.
Subscrevi, na passada semana, o Manifesto por uma floresta não discriminada, que foi objeto de ampla divulgação pública. O mesmo Manifesto foi subscrito por outros 35 membros da Academia (de diversas universidades do país), por diversas associações de produtores florestais, empresas, câmaras municipais e ainda por algumas pessoas em nome individual, totalizando mais de 100 subscritores. Muitos mais manifestaram, a posteriori, a sua adesão ao conteúdo do referido texto.
O Manifesto em questão pretendeu, tão só, chamar a atenção para um conjunto de imprecisões e de outras tantas inverdades que, sobre o eucalipto, têm circulado, contribuindo para a criação de um enquadramento totalmente desfavorável para um saudável desenvolvimento da floresta portuguesa em geral, e da floresta de eucalipto em particular.
Pela minha parte, gostaria de deixar claro que tenho por muito saudável que, sobre este como sobre qualquer outro assunto, existam opiniões divergentes. Igualmente saudável, para qualquer pessoa intelectualmente honesta, é que essas divergências possam ser expressas, debatidas, fundamentadas e escrutinadas em fóruns mais ou menos públicos e mais ou menos especializados.
Vem isto a propósito, não do conteúdo do Manifesto em questão (e, portanto, não do eucalipto), mas do fundamento (e não da substância) de algumas reações notáveis que têm surgido a esse mesmo Manifesto. Vindas de alguns, não espantam. Vindas de outros, valem o que valem. Mas vindas de quem, como membro da Academia, tem especial responsabilidade no tipo de argumentação que utiliza nos debates onde se envolve, é confrangedor. Vejamos três exemplos.
Nas palavras de Francisco Louçã, sobre os signatários: “...são os mandantes, os financiadores, os políticos, os empresários, o Senhor Eucalipto...” (in Expresso Diário, 20.11.2018). Não espanta, vindo de quem vem: tudo gente ao serviço do Grande Capital.
Nas palavras de Paulo Pimenta de Castro, sobre a manipulação de que os signatários (pessoas destituídas, desesperadas, intelectualmente desonestas que manipulam a verdade) terão sido alvo e a soldo de quem andam: “...Resta apenas perguntar quem pagou o manifesto, seguramente a preço de ouro, para pôr publicidade paga nos principais jornais do país, em dias sucessivos. A força do lobby, no desespero, tenta substituir-se ao debate público (e científico) despejando euros para se legitimar com uma narrativa pobre, suportada em mitos e meias verdades” (in PÚBLICO, 17.11.18). Vale o que vale, para quem conhece o autor de tal bálsamo.
Nas palavras de Helena Freitas (professora universitária, da Universidade de Coimbra): “...Registo com espanto (...) o empenho dos académicos NACIONAIS que, por acaso, talvez vejam os seus trabalhos patrocinados pelo empresário.” (na sua página de Facebook, a 19 de Novembro de 2018, comentando uma entrevista de Diogo da Silveira ao jornal PÚBLICO). É lamentável e confrangedor. Não que Helena Freitas tenha a opinião que tem sobre floresta, eucalipto e assuntos conexos (que para aqui não são chamados). Mas que Helena Freitas se dê o luxo de, com toda a leviandade, classificar, caluniando, mais de 30 colegas seus da universidade (para não falar da restante lista de subscritores) como andando a produzir conhecimento a soldo e por encomenda. Mas, o que é pior, não acusa, dando exemplos concretos. Insinua cobardemente, lançando a suspeição sobre todos, que os seus colegas que subscreveram o Manifesto o fizeram porque têm trabalhos patrocinados por um empresário. É grave e fica-lhe mal. Muito gostaria de saber o que têm as universidades a que tais académicos se encontram ligados a dizer sobre tal postura. Provavelmente nada. Somos um país de mansos.