A escritora que nunca aparece

Nem por um segundo Giacomo Durzi está a pensar em cinema: interessam-lhe Elena Ferrante e os seus leitores.

A Febre Ferrante: uma virtude do filme de Durzi é parecer genuinamente interessado na literatura
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É o filme perfeito para admiradores ou curiosos do “fenómeno Elena Ferrante” (a palavra “fenómeno” é dita em várias ocasiões), um filme construído sobre o rasto que a descoberta dos livros da escritora italiana de identidade desconhecida provocou – sobretudo no mundo anglo-saxónico (com o “alto patrocínio” de Hillary Clinton, que é quem primeiro ouvimos, em declarações numa entrevista radiofónica dada por alturas da campanha para as presidenciais de 2016).

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Uma virtude do filme de Durzi é parecer genuinamente interessado na literatura: não perde tempo com os aspectos mais potencialmente sensacionalistas do “fenómeno” (o mistério da identidade) e procura perceber o que é que há nos livros, na escrita, que o justifique. Convoca múltiplas figuras do universo literário contemporâneo, algumas delas célebres (Jonathan Franzen ou Roberto Saviano), e o que se diz é interessante. Não o suficiente, para ultrapassar a estrutura hiper-convencional do filme, a sucessão de depoimentos e talking heads com imagens avulsas e momentos de leitura a servirem de “pontuação” – é como um filme feito a partir dum template. Mas como é óbvio, nem por um segundo Giacomo Durzi está a pensar em cinema: interessam-lhe Ferrante e os seus leitores. E assim, é voltar à frase inicial deste texto.

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