Rebeldes do Iémen prontos para cessar-fogo

Arábia Saudita e Emirados apoiam conversações mediadas pela ONU.

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Iemenitas dançam com armas, em Sanaa YAHYA ARHAB/EPA

A liderança militar huthi apelou nesta segunda-feira à suspensão das operações militares contra a coligação pró-governamental liderada pela Arábia Saudita, em resposta a um apelo das Nações Unidas. O emissário da ONU viaja esta semana para Sanaa, a capital iemenita, para organizar conversações de paz.

O chefe do Conselho Supremo Revolucionário dos huthi, Mohammed Ali al-Huthi, emitiu um comunicado publicado no Twitter pedindo "a todas as partes no Iémen que ponham fim ao lançamento de rockets e drones contra os países agressores, de forma a deixar de haver motivo para continuar a agressão (...) e a que se travem todas as operações militares para se chegar à paz".

Depois de dias de ataques aéreos contínuos que resultaram na morte de 149 pessoas, as forças pró-governamentais (apoiadas pelos sauditas e pelos Emirados Árabes Unidos) suspenderam a ofensiva para a tomada do porto de Hudheida. Segundo um jornalista da agência AFP a cidade mantém-se calma, mas a agência Almasirah, gerida pelos huthis, diz que os ataques persistem.

Com a guerra civil, a capital do Iémen, Sanaa, e a cidade portuária de Hudheida caíram nas mãos dos huthis em 2014, quando estes se rebelaram contra o Governo. Contudo, foi em Março de 2015 que a tragédia se adensou, quando a Arábia Saudita formou uma coligação árabe sunita para defender o Governo e combater os huthis, uma tribo xiita aliada ao Irão.

O comunicado do chefe militar huthi vem também na sequência das conversações de paz com o emissário da ONU, Martin Griffiths, e da sua visita à capital do país, agendada para esta semana. Sauditas e Emirados disseram apoiar a iniciativa de Griffiths.

Na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na sexta-feira, Griffiths disse ter recebido “garantias da liderança dos partidos iemenitas de que estão comprometidos a comparecer” nas conversações, e que ambas as partes se mostraram disponíveis para encontrar uma solução política para o conflito.

Está também prestes a ser concluído um acordo para a libertação de prisioneiros, que é “uma mensagem de esperança para o povo iemenita”, disse o emissário. Griffiths disponibilizou-se a viajar com a delegação huthi até à Suécia, “se é isso o necessário”. “A guerra pode sempre deixar o compromisso da paz fora da mesa. Não podemos deixar que isso aconteça agora”, disse Griffiths.

"Este é um momento crucial para o Iémen", disse o emissário da ONU.

Todas as tentativas de negociações de paz falharam até ao momento. A mais recente, em Setembro, ficou sem efeito quando os huthis não compareceram, justificando que as forças árabe sunitas os impediram de viajar para Genebra.

Na reunião de sexta-feira, a embaixadora do Reino Unido nas Nações Unidas, Karen Pierce, disse acreditar que “há uma janela de oportunidade para resolver esta crise no Iémen provocada pelo homem”. 

A guerra do Iémen obteve um novo foco de atenção com o assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consolado da Arábia Saudita em Istambul. Os países ocidentais, aliados de Riad, começaram a distanciar-se do reino saudita perante as circunstâncias da morte do jornalista dissidente.

Segundo a ONU, com o bloqueio ao porto de Hudheida, por onde chegavam 80% das importações do Iémen, até 13 milhões de civis podem morrer à fome se não se puser ponto final aos bombardeamentos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de dez mil pessoas morreram vítimas da guerra, ainda que as organizações humanitárias acreditem que o valor seja cinco vezes mais alto.

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