Corbyn diz que Labour vai chumbar acordo sobre o "Brexit"
Conservadores rebeldes continuam a tentar reunir deputados suficientes para iniciar moção de desconfiança para derrubar a primeira-ministra.
O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, disse que o partido irá chumbar o acordo fechado pelo Governo e por Bruxelas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e garantiu que há um plano de saída melhor para ser alcançado. A primeira-ministra Theresa May disse que as negociações estão encerradas.
“O nosso voto no Parlamento será uma tentativa de travar este acordo e dizer ao Governo ‘têm de ir negociar outra coisa”, disse Jeremy Corbyn ontem, no encontro anual da Confederação da Indústria Britânica (CBI), que reúne os principais líderes empresariais do país.
“Em vez de acabar com a incerteza dos últimos dois anos e meio, o acordo que o Governo negociou mantém a incerteza por mais dois, três, quatro, quem sabe por quantos mais anos?”, questionou o líder trabalhista esta segunda-feira, durante o encontro anual da Confederação da Indústria Britânica (CBI), que reúne os principais líderes empresariais do país.
Se May não conseguir fazer aprovar o acordo no Parlamento, “o plano alternativo do Labour pode e deverá tomar o seu lugar”, afirmou Corbyn. O líder trabalhista disse, no entanto, que não contempla a possibilidade de uma saída sem acordo, o chamado "hard Brexit". “Há um acordo melhor para ser fechado e não é tarde para o conseguir”, garantiu o líder da oposição.
De manhã, a primeira-ministra tinha afirmado que o acordo alcançado com Bruxelas garante a retoma do controlo fronteiriço pelo Reino Unido, que definiu como “uma questão de grande importância para o povo britânico”. Com a aplicação das novas regras, disse May, os imigrantes de países da UE vão deixar de poder “passar à frente de engenheiros de Sydney ou programadores de software de Nova Deli”.
A primeira-ministra afastou a hipótese de reabrir as negociações com Bruxelas sobre o processo de saída. Durante os próximos dias, May vai reunir-se com responsáveis europeus para negociar os termos das bases da relação futura entre o Reino Unido e a UE após a saída.
A directora da CBI, Carolyn Fairbairn, disse apoiar o plano governamental, mas deixou alertas dirigidos ao intenso debate que o documento está a gerar. “Enquanto outros países estão a desenhar um futuro competitivo, Westminster [o Parlamento] parece viver no seu mundo pequeno, em que se permite que as posições extremadas dominem”, afirmou.
Fairbairn referia-se ao clima de guerra civil vivido no Partido Conservador e que ameaça até a própria liderança de Theresa May. Uma franja do partido está muito descontente com o acordo alcançado com Bruxelas, considerando-o uma submissão à UE, e ameaça derrubar a primeira-ministra. Vários deputados conservadores têm enviado cartas a pedir uma moção de desconfiança para afastar May – é necessário que pelo menos 48 dos 315 parlamentares peçam a marcação da moção.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, deu voz a essa insatisfação que grassa entre os conservadores, ao descrever o acordo como uma “pechincha chocante”, na sua coluna de opinião no Daily Telegraph. Johnson, que se demitiu no Verão em desacordo com o rumo das negociações, disse que a proposta transforma os britânicos em “prisioneiros” da UE e que o capítulo referente à fronteira irlandesa é uma “punição” através da “separação cirúrgica de uma parte do Reino Unido”.
Missão impossível
Não é claro se os deputados tories rebeldes vão conseguir as 48 cartas de parlamentares necessárias para dar início ao processo de afastamento de May. A imprensa britânica cita fontes conservadoras que dizem faltar 12 nomes.
De qualquer forma, mesmo afastado este obstáculo, May terá ainda a tarefa quase impossível de fazer aprovar o acordo na Câmara dos Comuns, onde é antecipada a oposição do Partido Trabalhista e também dos unionistas da Irlanda do Norte, que fazem parte da maioria governamental.
A votação em Westminster ainda não foi marcada e não há qualquer data prevista. O ex-ministro para o “Brexit”, David Davis, sugeriu que o voto fosse agendado já para esta quinta-feira, mas o Governo deverá querer esperar pela cimeira europeia do fim-de-semana para submeter o plano para apreciação dos deputados.