Um militar de referência e um intelectual invulgar
Permanece na memória dos que o ouviram, em centenas de palestras e intervenções públicas, como um pedagogo das Ciências Militares, da Geopolítica e da Geoestratégia.
A Defesa Nacional perdeu um militar de referência e um intelectual invulgar. Com um legado que excede, em larga medida, o contexto das Forças Armadas portuguesas, o General Loureiro dos Santos é reconhecido como uma figura ímpar no pensamento militar, um brilhante oficial de Estado-Maior e um mentor incontornável de várias gerações, de militares e civis, que com ele aprenderam os valores da condição militar, as complexidades da geopolítica mundial e as particularidades do posicionamento geoestratégico português.
Com uma carreira de quatro décadas ao serviço do Exército e das Forças Armadas de Portugal, releva do percurso do General Loureiro dos Santos um sentido de bem servir permanente. Não só na esfera militar, mas igualmente na acção política e no exercício de uma cidadania activa. As características de rigor e liderança cedo ficaram demonstradas como Comandante da Arma de Artilharia e, mais tarde, na Zona Militar da Madeira. Distinguiu-se como professor do então Instituto de Altos Estudos Militares, instituição que exemplarmente dirigiu aplicando a prioridade que atribuía à formação e ao ensino. Foi vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Chefe do Estado-Maior do Exército e ministro da Defesa Nacional em momentos de transição e consolidação da democracia portuguesa, para a qual contribuiu de forma generosa e competente. Ao longo da sua carreira, que foi diversificada mas sempre centrada nas problemáticas da defesa e da segurança de Portugal, deixou invariavelmente a marca da competência e da integridade.
Permanece na memória dos que o ouviram, em centenas de palestras e intervenções públicas, como um pedagogo das Ciências Militares, da Geopolítica e da Geoestratégia. Deixa o seu pensamento plasmado em dezenas de obras publicadas, que tão bem demonstram a capacidade de compreensão das mudanças que marcaram a Segurança e Defesa nas últimas décadas e a necessidade de adaptação a novas realidades. Foi um exemplo de dedicação à promoção de uma cultura de segurança e defesa que inclua todos os vectores da sociedade portuguesa. Aliás, vale a pena sublinhar essa característica do seu pensamento, pois é um tema cada vez mais actual nos tempos que vivemos.
Portugal perdeu um cidadão de excelência. A Defesa Nacional perdeu um dos seus melhores pensadores. As Forças Armadas perderam um exemplo de liderança. Mas ganhamos todos imensamente com o contributo de uma vida generosamente dedicada ao serviço das Forças Armadas, da Defesa Nacional, e de Portugal.