Como estão os outros estádios da geração Euro 2004?
Os recintos construídos ou remodelados para receberem o Campeonato da Europa de futebol em Portugal estão, por esta altura, a fazer 15 anos. Para além dos ocupados pelos três “grandes” e dos que têm clubes da I Liga a utilizá-los (Sp. Braga, V. Guimarães e Boavista) há outros quatro: Algarve, Leiria, Aveiro e Coimbra. O PÚBLICO foi ver o que se passa com eles.
Os estádios de Sporting, Benfica e FC Porto já sopraram as velas dos 15 anos de existência, um número redondo e marcante. No entanto, Portugal recebeu outras infra-estruturas desportivas mais ou menos na mesma altura e em vários pontos do país. Alguns estão a ter uma utilização regular por parte de clubes que competem na I Liga de futebol – são os casos do Municipal de Braga, casa do Sporting de Braga, do D. Afonso Henriques, onde joga o Vitória de Guimarães, e o do Bessa, onde mora o Boavista. Para além destes estádios foram construídos de raiz ou remodelados outros quatro: o Estádio Algarve, o Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria; o Estádio de Aveiro e o Estádio Cidade de Coimbra.
Com uma utilização menos frequente, alguns destes estádios chegaram a ser alvo de abandono. Agora, o PÚBLICO foi saber o que está a ser feito nestes espaços que também estão a completar 15 anos de vida e têm todos, em média, capacidade para 30 mil espectadores.
O Estádio Algarve, propriedade das Câmaras Municipais de Faro e Loulé, tem “uma das ocupações mais altas em Portugal”, disse ao PÚBLICO o vice-presidente da autarquia farense, que assume a pasta do desporto, Paulo Santos. “[O estádio] Nunca foi feito com o objectivo de acolher clubes. Na realidade, nunca foi pensado para eles”, acrescentou o autarca. Todavia, nos últimos anos, o estádio recebeu os clubes da região algarvia. O Olhanense quando tinha a decorrer obras de manutenção nas suas instalações, em Olhão. O Louletano (série D do Campeonato de Portugal) e o Farense (II Liga) costumam ainda treinar e disputar algumas partidas neste terreno.
Está, portanto, nas palavras do município, em “condições perfeitas” porque tem sido “solicitado nos últimos anos”, com equipas estrangeiras a realizar estágios no Verão e no Inverno; jogos das selecções de Portugal e Gibraltar; torneios internacionais de futebol feminino; e outros eventos desportivos. Isto dá lugar a “uma gestão equilibrada” das contas que a câmara ainda tem a liquidar para pagar o estádio. “Não é um elefante branco” e está na recta final de liquidação”, considera Paulo Santos. Em 2024 estará totalmente pago, assegurou o vice-presidente, enquanto no início do próximo ano haverá um investimento para construir: um “centro de estágios internacional com três campos de futebol de relva natural”, diz. “Há um modelo de gestão e investimento simultâneo para o futuro”, acrescentou.
Mais a norte do país, o Estádio Dr. Magalhães Pessoa demonstra o mesmo cenário financeiro. O vereador de desporto da Câmara Municipal de Leiria, Carlos Palheira, disse ao PÚBLICO que faltam cerca de 30 milhões de euros para pagar o recinto e projectou que “o prazo de pagamento deste encargo termina daqui a cerca de 10 anos”. A infra-estrutura, conta o membro da autarquia, recebe alguns eventos desportivos locais para além do futebol, acolhe o treino de atletas, “espectáculos culturais e grandes exposições”. Futuramente, a câmara quer “dar uma nova vida à infra-estrutura” estando aberto “um concurso de ideias para conclusão do Topo Norte do estádio, a instalação de um centro de negócios, o Centro Associativo de Leiria e Equipamentos da Administração Central.
O que pode ter retirado dinâmica ao grande espaço que há no centro da cidade é o facto de a União de Leiria, clube com tradição na I Liga de futebol, estar a disputar competições distritais desde 2012 devido a problemas financeiros que separaram o clube e a SAD. “Infelizmente para a cidade e para o clube não está a competir no principal campeonato nacional. Esperamos que com o projecto que tem e a capacidade dos seus dirigentes esta situação se possa inverter”, referiu ao PÚBLICO Carlos Palheira.
A mesma mensagem de esperança é também transmitida por José Ribau Esteves, presidente da Câmara Municipal de Aveiro, ao clube da terra Beira-Mar, também com um nome vincado no futebol português mas que anda na “mó de baixo” desde 2013, caindo para a II Liga e depois para as competições semiprofissionais. O autarca que também assume a pasta do desporto na região conta que o Estádio Municipal de Aveiro “seria inicialmente a casa do Beira-Mar”, mas o insucesso desportivo foi-se aliando a problemas financeiros. “Nunca conseguimos uma ligação de forma consolidada. Houve falhas no protocolo de ambas as partes. A SAD foi à falência e o clube também esteve perto disso à medida que a autarquia tinha obrigações financeiras a cumprir com o Estádio”. Actualmente, o Beira-Mar joga no Estádio Mário Duarte, de dimensões bem mais reduzidas e localizado no centro da cidade.
Ribau Esteves está à frente da CM Aveiro desde 2013 e contou ao PÚBLICO que os seus antecessores deixaram um pesado caderno de encargos nas instalações. Em reacção, surgiu uma “opção política” em investir cerca de um milhão de euros na manutenção do estádio até porque a construção do Estádio foi “um feito surpreendente na altura para todos os habitantes. Aveiro rejubilou por ter um dos estádios do Euro 2004. Foi feito numa zona de mata e floresta sem produção”, conta o presidente.
O Estádio Municipal de Aveiro ainda tinha, até este ano, o relvado original de quando foi construído em 2003, revelou Ribau Esteves. Teve “uma catadupa de custos”. Inicialmente “custou 8 milhões de euros, passou para 32 milhões e chegou aos 64 milhões”, explicou. Recebe eventos desportivos pontualmente: jogos de futebol do Oliveirense e Tondela quando tinham o seu próprio estádio em obras; jogos da selecção nacional; e a final da Supertaça Cândido Oliveira desde 2009. “Há que procurar alguma rentabilidade financeira com o espaço, apesar de só faltar 8 milhões de euros a pagar à banca”, referiu o autarca de Aveiro. “O próximo passo é utilizar o estádio para outras acções de uso social, com escolas e outras instituições educativas”, frisou.
A gestão do Estádio Cidade de Coimbra também está entregue à autarquia. As notícias mais recentes sobre o recinto surgiram no mês passado, durante a tempestade Leslie. Nas redes sociais e na imprensa circularam imagens das bancadas do estádio bastante danificadas, dias antes do Sertanense utilizar o recinto como “casa emprestada” para receber o Benfica em jogo a contar para a Taça de Portugal.
A utilização da infra-estrutura é feita, em grande medida pela Académica, actualmente a disputar a II Liga, e que joga neste estádio. O PÚBLICO tentou contactar o vice-presidente da Câmara Municipal, Carlos Cidade, mas não obteve qualquer resposta para falar sobre a gestão que é feita actualmente sobre o espaço.
O que diz o Governo?
Convidado a fazer uma avaliação sobre quanto é que os recintos desportivos da geração Euro 2004 têm contribuído para o país, o Secretário de Estado da Educação e do Desporto disse ao PÚBLICO que “é preciso reconhecer que nem todos os recintos desportivos são hoje aproveitados como eventualmente esperávamos que fossem”. Na sua visão, “projectos desta grandeza e magnitude nem sempre correm da melhor forma”.
João Paulo Rebelo realçou ainda o papel dos recintos dos principais clubes de futebol nacionais. “É preciso sublinhar, por exemplo, as taxas de ocupação que a Liga portuguesa de futebol regista nos restantes estádios. Os números falam em 82%, uma média de 45 mil adeptos por jogo, nos chamados estádios dos “três grandes”, referiu. Os dados oficiais mostram que na última edição do campeonato o estádio do Benfica teve uma média de 53.209 espectadores, o do FC Porto 42.674 e Sporting 43.623.
O Secretário de Estado salienta outros espaços desportivos. “Há estádios com boas médias de assistência Vitória Sport Clube, Sporting Clube de Braga. Até o estádio do Boavista também teve uma média aceitável. São casos nítidos de sucesso”, argumenta. Na última temporada, o estádio D. Afonso Henriques em Guimarães teve uma média de 16 mil espectadores por jogo (média de 53% de ocupação). Mais abaixo estão o estádio de Braga (11.706), o do Marítimo (7.062) e o do Boavista (5.623).