Jorge Jesus não fecha as portas a regresso ao Benfica
Em entrevista ao jornal A Bola, o treinador abordou também o ataque a Alcochete e mostrou surpresa pela detenção de Bruno de Carvalho.
Jorge Jesus, actual treinador do Al-Hilal, da Arábia Saudita, não descarta a possibilidade de regressar ao Benfica. O antigo técnico “encarnado” deu uma longa e intimista entrevista ao jornal A Bola, na qual abordou todos os aspectos da sua vida quotidiana, passando pelo caso de Alcochete.
“Primeiro, o Benfica tem treinador e tenho de respeitar o Rui Vitória. Tenho uma amizade muito forte com gente do Benfica, principalmente com o presidente, mas isso não dá para pensarmos que só por esse motivo vou regressar ao Benfica”, começou por afirmar Jorge Jesus, quando questionado sobre uma entrevista de Luís Filipe Vieira à TVI, na qual o dirigente não rejeitou por completo a possibilidade de Jesus voltar às “águias”, clube que orientou entre 2009 e 2015.
Existe um ditado que diz que “não se deve voltar onde se foi feliz”, lembrou o entrevistador. Jesus respondeu: “Também se pode dizer ao contrário e usar o ditado que diz ‘bom filho a casa torna’. Na verdade, foi o que fiz no Benfica que me projectou no mundo.”
O treinador português revela ainda que, antes de trocar as “águias” pelos “leões”, recebeu várias propostas de clubes de topo europeu, mas achou que a altura para a mudança nunca foi ideal: “Tive várias hipóteses de transferir-me para grandes clubes. Mónaco, Valência, Atlético de Madrid. Mas achei que não era a melhor altura para deixar o Benfica.”
Detenção de Bruno de Carvalho causou surpresa
Para além de falar do seu período enquanto treinador do Benfica, Jorge Jesus discutiu também a sua passagem pelo Sporting e os acontecimentos que têm afectado o clube desde a sua partida.
Na altura em que a entrevista foi realizada, o ex-presidente “leonino” e Nuno Mendes (“Mustafá”), líder da claque Juventude Leonina, tinham sido detidos, o que causou alguma surpresa junto do técnico: “É normal. Fiquei muito surpreendido com a detenção de Bruno de Carvalho”. O Ministério Público terá demonstrado interesse em ouvir Jorge Jesus, que revela que irá “aguardar”, não confirmando se irá ou não prestar declarações sobre o caso.
Após a saída de Jesus do clube de Alvalade, muita coisa mudou: dois novos treinadores, novo presidente e várias mudanças no plantel. “Não conheço Marcel Keizer”, admite o ex-técnico “leonino”. “Nem o trabalho que fez no Ajax nem nos Emirados Árabes Unidos. Sousa Cintra tomou uma boa decisão em ter escolhido Peseiro”, reitera Jesus. Considera, contudo, “natural” a saída de Peseiro enquanto técnico da equipa.
Já o novo presidente, Frederico Varandas, mereceu elogios rasgados do técnico português: “Tem muita qualidade para o projecto que abraçou. Tem experiência na convivência com treinadores, jogadores e gente do futebol. Varandas é um homem que não tem medo de tomar decisões.”
Jesus é invencível nas Arábias
O técnico — que já admitiu que não prolongará o vínculo com o Al-Hilal — tem um registo surpreendente no comando do emblema saudita. Em 13 jogos, o português soma outras tantas vitórias, comandando o campeonato com cinco pontos de avanço em relação ao segundo classificado. “Nunca na história do futebol árabe um treinador ganhou tantos jogos de forma consecutiva”, assegura Jorge Jesus.
Única é também a dimensão que o futebol assume no reino saudita, na opinião de um treinador que, no decorrer de uma longa carreira, já representou treze clubes: “Em Portugal nem têm noção do que é este clube nem a sua grandeza. Tem oito milhões de adeptos. Oito! Cada imagem minha, do treino, numa hora é vista por dois, três milhões de pessoas”.