Centenas de migrantes começaram a chegar à fronteira dos EUA
O Presidente Trump reforçou a presença militar na fronteira e o secretário da Defesa, James Mattis, visita as tropas esta quarta-feira. Soldados começaram a pôr arame farpado em postos fronteiriços.
Os primeiros grupos saídos da caravana de migrantes que partiu das Honduras há um mês, com pelo menos cinco mil pessoas, começaram a chegar à fronteira do México com os Estados Unidos. Esta quarta-feira, oito autocarros com 343 pessoas juntaram-se a outras quase 500 que chegaram entre domingo e terça-feira.
As primeiras imagens mostram jovens migrantes a empoleirarem-se e a passearem em cima da vedação que separa a cidade mexicana de Tijuana do estado norte-americano da Califórnia, na costa Oeste do continente americano.
Do outro lado, os agentes que costumam patrulhar a fronteira, e os soldados enviados por ordem do Presidente Donald Trump para reforçarem a segurança, olhavam para as movimentações na vedação a algumas centenas de metros de distância.
Sempre que se aproximavam da vedação, os poucos migrantes que tinham saltado para o lado norte-americano voltavam a subir para regressarem ao território mexicano.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas partiram das Honduras a pé, no dia 13 de Outubro, em direcção à fronteira entre o México e os Estados Unidos, numa viagem de quase 5000 km. O número mais vezes citado aponta para cinco mil pessoas, e a grande maioria está ainda a semanas de chegar ao destino, a uns 1400 km de distância.
Mas vários grupos, mais pequenos, conseguiram chegar mais depressa à fronteira viajando em autocarros disponibilizados por associações mexicanas. É o caso dos três grupos que chegaram a Tijuana entre domingo e esta quarta-feira.
O primeiro dos três grupos tinha 80 pessoas, a maioria da comunidade LGBT das Honduras e da Guatemala, que é alvo de violência e discriminação nos países de origem.
Os primeiros
Uma das pessoas que fez parte desse grupo, Cesar Mejia, disse que os migrantes LGBT decidiram separar-se do resto da caravana porque estavam a ser vítimas de discriminação por parte de outros migrantes e de cidadãos mexicanos.
"Sempre que chegávamos a um posto de controlo, a comunidade LGBT era a última a ser tratada. O nosso objectivo era mudar essa situação e resolvemos que, desta vez, iríamos ser os primeiros a chegar", disse Mejia numa conferência de imprensa improvisada, no domingo, transmitida na página do Facebook do jornal mexicano Frontera.
Dois dias depois, na terça-feira, chegou a Tijuana um grupo muito maior, de entre 350 e 400 pessoas. E esta quarta-feira chegaram outras 343 pessoas, em oito autocarros.
A chegada destes migrantes é indesejada pela Casa Branca, mas também por muitos cidadãos mexicanos que vivem na zona de fronteira. Para estes, a recusa dos Estados Unidos em abrir as portas aos migrantes vai fazer com que a maioria fique em Tijuana, ou noutros locais da fronteira, ao cuidado do Estado mexicano, esperando outras oportunidades.
A Casa Branca ordenou o envio de nove mil soldados para ajudarem a controlar a fronteira, antecipando a chegada da maioria dos migrantes. Esta quarta-feira, os militares reforçavam o arame farpado nos postos de fronteira, e receberam a visita do secretário da Defesa, James Mattis – uma presença rara nestas situações e que a Casa Branca usa como mais um sinal de força.
Os migrantes que chegaram nos últimos dias a Tijuana estão a ser tratados por associações de defesa dos direitos humanos. O primeiro grupo está alojado numa casa arrendada por essas associações e o segundo foi distribuído por vários locais, mas não se sabe o que vai acontecer quando o resto da caravana chegar à fronteira.
Porquê uma caravana
Todos os anos há migrantes das Honduras e da Guatemala a tentarem entrar nos Estados Unidos através do México, mas os grupos maiores não costumam ter mais do que algumas centenas de pessoas.
Este ano, a partida de um grupo de cerca de mil pessoas nas Honduras foi partilhada no Facebook por um conhecido ex-político, e a partir daí o grupo foi crescendo até chegar a pelo menos sete mil pessoas – desde então, cerca de duas mil desistiram da caminhada e regressaram aos países de origem ou pediram asilo no México.
E nem todas as que vão chegar à fronteira com os EUA querem tentar entrar de forma ilegal.
"Queremos fazer tudo pela lei, de forma correcta. Estamos à espera dos nossos representantes", disse Cesar Mejia, o porta-voz do grupo que chegou no domingo. A ideia é pedirem asilo nos pontos de entrada oficiais, em San Ysidro e Otay Mesa.
Pela lei norte-americana, todos têm direito a serem ouvidos pelas autoridades se pedirem asilo, quer entrem de forma legal, quer sejam apanhados em território norte-americano sem documentos.
Negar asilo
Mas esse direito foi suspenso na sexta-feira, quando o Presidente Donald Trump assinou um documento que tem como objectivo negar o direito de asilo a quem entre no país sem documentos através da fronteira com o México.
A decisão de Trump foi apresentada sob a forma de uma proclamação presidencial, que funciona como uma declaração, e é um instrumento diferente do decreto presidencial, que funciona como uma directiva. Várias associações já anunciaram que vão contestar a validade dessa declaração nos tribunais, mas até que haja uma decisão, os agentes têm ordens para deterem quem entre nos EUA de forma ilegal, para os devolver aos seus países de origem – um processo que não é fácil, sobretudo porque o eventual regresso terá de ser acordado com o Governo mexicano, e poderá demorar muito tempo a ser concretizado.
A viagem desta caravana de migrantes em direcção à fronteira foi um dos temas mais referidos pelo Presidente Trump na campanha para as eleições intercalares da semana passada. Nos comícios e no Twitter, Trump e outras figuras do Partido Republicano disseram, sem apresentar provas, que na caravana seguem pessoas "do Médio Oriente" – sugerindo que são terroristas.