Apesar de assumir que a experiência como treinador do Al Hilal "não podia estar a correr melhor", Jorge Jesus anunciou que vai abandonar o clube da Arábia Saudita no final da próxima temporada. O técnico deu a garantia numa entrevista à última edição da revista Liga-te, publicada em Outubro, editada pela Liga de Clubes.

"Vou regressar ao futebol português e nada tem a ver com as pessoas do Al Hilal. Por muito que gostem de mim, o regresso a Portugal está nos objectivos", afirmou Jorge Jesus.

O treinador afirmou que tem uma proposta de extensão de contrato com o Al Hilal por mais três temporadas, mas não a irá aceitar porque pretende regressar a Portugal.

"É difícil falar no dia de amanhã, mas penso que ficarei apenas mais uma época aqui. O clube propôs-me a renovação por três épocas, mas não vou aceitar", frisou. O contrato de Jorge Jesus termina em 2019.

A aventura inesperada no estrangeiro

Jorge Jesus revelou ainda como tem sido a experiência fora da Europa do futebol. Até ao momento, o Al Hilal ainda não perdeu qualquer partida esta época. A equipa da cidade de Riade completou 13 jogos e o mesmo número de vitórias (nove no campeonato; três na Liga dos Campeões da Ásia; e uma na Supertaça). Está na liderança da Primeira Liga da Arábia Saudita.

"É uma experiência. Nunca pensei sair do meu país, e quem me conhece sabe-o bem. Ou melhor, pensei que podia sair por uma ou duas razões: ou era para um clube da Europa ou por uma questão financeira. Não saí para a Europa e posso dizer que o Sporting gastava mais dinheiro comigo do que aquele que o Al Hilal me paga. A verdade é que saí...", disse o treinador português.

A partir da Arábia Saudita, Jorge Jesus continua atento ao futebol português. "Na minha casa, temos todos os canais portugueses, inclusive os de desporto [...] Temos grandes jogadores! O nosso futebol é muito competitivo e temos um campeonato de alto nível. Um dos mais competitivos da Europa. Os treinadores portugueses são reconhecidos mundialmente e são profissionais com grande conhecimento e estratégia. Mas, infelizmente, continuamos com o jogo fora das quatro linhas... Em Portugal parece estar instituído que a pressão ajuda a ganhar jogos e, enquanto não se acabar com esta ideia, não haverá paz no futebol português. Somos dos campeonatos europeus com mais qualidade, mesmo sabendo que não temos tanta capacidade de investimento como em outros", contou.

O treinador também quis contar como se tem confrontado com a cultura e costumes árabes, sempre fazendo a "ponte" com o futebol. "É um facto que os adeptos, a cultura e a exigência são diferentes. Mas aos poucos vamo-nos adaptando e a verdade é que somos muito, muito bem tratados pelas pessoas. E isso acaba por tornar todo o processo mais fácil. Sinto muito o carinho das pessoas", diz.

"A Arábia Saudita é um grande país! Não sei se vai mudar politicamente em breve, mas sei que num futuro próximo vai emergir. No futebol, por exemplo, já existe maior abertura. As inscrições de jogadores estrangeiros passaram de três para oito e há muita competitividade. Os dérbis entre equipas de Riade e Jidá têm sempre 40 a 50 mil pessoas e isso é muito bom. Agora, é verdade que têm pouco conhecimento do futebol português. De Portugal só conhecem o Cristiano Ronaldo. E agora o Jorge Jesus", disse Jesus entre risos.

Além disso, o treinador afirmou que as práticas religiosas instauradas na Arábia Saudita influencia o dia-a-dia da equipa. "Nós é que vimos de fora, logo, somos nós que temos que nos adaptar à cultura. Temos que respeitar a alimentação deles e as horas da oração. Se soubermos trabalhar em cima destes pressupostos, a adaptação acaba por ser facilitada", reiterou.

Jesus também confidenciou à Liga um episódio que teve ainda nesta curta estadia na Arábia Saudita: "A certa altura, manifestei a intenção de ir embora, foi mesmo real, e o ministro da Arábia Saudita ligou-me, mostrou-me apoio e vontade em que ficasse no clube. E assim foi. Acabei por ficar".

O campeonato de futebol da Arábia Saudita termina na primeira semana de Maio, altura em que as competições em Portugal estarão perto de se concluir.

Jorge Jesus deu esta entrevista à revista da Liga Portugal, cuja edição foi lançada a 25 de Outubro, altura em que o treinador voltou a estar ligado a um regresso ao Benfica. O presidente dos "encarnados", Luís Filipe Vieira, confirmou, em entrevista à TVI, a veracidade de chamadas telefónicas difundidas na Internet com o empresário César Boaventura, para vender os serviços de Rui Vitória aos ingleses do Everton, em Janeiro deste ano. Assim, Jorge Jesus teria via aberta para regressar a orientar o clube da Luz.

O actual treinador do Benfica continua a ser a contestado pelos adeptos que pedem a sua saída. Antes da vitória em Tondela, para o campeonato, este domingo, por 1-3, as "águias" não ganharam os últimos quatro encontros.