Claques instrumentalizadas por organizações criminosas

Grupos de adeptos utilizados por redes de tráfico de droga e movimentos de extrema-direita.

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Redes usam claques para obter proveitos financeiros e ideológicos Miguel Manso

As buscas de domingo na sede da claque Juventude Leonina, que antecederam a partida entre Sporting e Desportivo de Chaves, foram frutíferas, na óptica das autoridades. Apesar de a operação levada a cabo pela Guarda Nacional Republicana (GNR) ter como objectivo principal a detenção de Nuno Mendes, "Mustafá", líder da claque “leonina”, por suspeita de ligação ao ataque em Alcochete, os agentes encontraram também haxixe e cocaína em pequenas quantidades, levantando a suspeita de que a “Juve Leo” fosse usada como instrumento para o tráfico de estupefacientes.

Este episódio foi o mais recente de vários que ligam claques a casos de crime organizado. Em Novembro de 2008, há precisamente uma década, buscas a residências e instalações dos No Name Boys, grupo ligado ao Benfica, resultaram em 30 detidos, vários dos quais com antecedentes de violência em recintos desportivos. Na investigação a cargo do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, os agentes realizaram várias apreensões, nas quais se incluem armas de fogo, armas brancas, soqueiras, sprays de gás pimenta, petardos e tochas.

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Claque do Vitória negou envolvimento na rede de tráfico HUGO DELGADO / LUSA

Em 2011, a GNR de Santo Tirso desmantelou uma rede de tráfico de droga composta por 12 elementos, a maioria afiliada aos White Angels, principal claque do Vitória de Guimarães. Segundo foi noticiado à época, suspeitava-se que parte dos lucros obtidos pela venda de estupefacientes servisse para financiar as actividades e deslocações da claque às partidas do emblema vimaranense. No total foram apreendidos 60 quilos de haxixe, 5 mil doses de cocaína e ainda várias armas e artefactos pirotécnicos, numa operação que contou com mais de quatro dezenas de buscas na cidade-berço.

Nos Super Dragões, principal claque do FC Porto, o caso mais recente prende-se com o julgamento de Carlos Silva, antigo membro da direcção do grupo de apoio aos "dragões". Conhecido no mundo do futebol como “Aranha”, é um dos envolvidos na Operação Jogo Duplo, que investiga suspeitas de viciação de resultados em jogos da I e II Liga na época 2015/16. O Ministério Público acusou “Aranha” de manter "contactos com os investidores malaios, que traziam o dinheiro para Portugal", que seria utilizado em “apostas fraudulentas”.

“Solução passa por controlo do clube”

Ricardo Serrado, investigador da Universidade Autónoma de Lisboa e historiador de desporto, reitera que os comportamentos criminosos que têm lugar nos grupos organizados são cometidos, na sua maioria, por indivíduos cujas preocupações transcendem o que se passa dentro das quatro linhas: “São pessoas que têm interesses paralelos ao futebol e que utilizam o clima de agressividade para obterem proveitos financeiros ou ideológicos, aproveitando os canais da claque para cometer estes delitos”. 

Apesar do número de casos que ligam membros das claques a tráfico de estupefacientes, o investigador alerta para a ameaça silenciosa que a extrema-direita representa nestes grupos: “Apesar de estar mais na ordem do dia os casos de droga, há uma componente racial muito forte nas claques. Movimentos de extrema-direita e neonazismo que ainda existem, infelizmente, e que, muitas das vezes, estão directamente relacionados com os actos de violência nos estádios”.

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UEFA aposta fortemente em campanhas de sensibilização contra a discriminação racial Action Images / Peter Cziborra

Mas há forma de impedir que estas situações voltem a acontecer? “Não há uma solução perfeita para estes problemas”, começa por dizer o investigador. “A direcção dos clubes deve assumir as claques e ter um papel activo na preservação dos ideais do clube. Acho, porém, que esse controlo deve ser moderado. Não se deve retirar autonomia, mas há que restringir, claramente, tudo o que possam ser actos criminosos ou que possam ir contra o bem-estar de uma sociedade de direito”.

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