Na Baixa de Lisboa há camas para quase 4000 turistas

Nos últimos anos, a zona nobre da cidade encheu-se de hotéis, hostels e apartamentos - e a capacidade turística ainda vai aumentar.

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A Baixa Não está entre as zonas sujeitas a limitação para novos alojamentos bruno lisita

Quando Lisboa caiu no goto do mundo e se tornou mais apetecível para turistas de toda a parte, a Baixa Pombalina, há muito votada a uma longa agonia, foi das primeiras zonas da cidade a reabilitar-se maciçamente e a encher-se de hotéis e alojamentos locais. Apesar das críticas e alertas que o boom turístico tem suscitado nos últimos anos, a maré não mudou: o número e a capacidade dos alojamentos da Baixa têm aumentado e ainda vão crescer nos próximos tempos.

Os hotéis, hostels e apartamentos turísticos que existem neste bairro lisboeta têm capacidade para alojar 3931 turistas, revela uma análise feita pelo PÚBLICO. Os estabelecimentos de alojamento local (AL), nas suas diferentes vertentes, podem receber 2059 pessoas (52,4% do total), enquanto os hotéis têm camas para 1831 visitantes (46,6%).

Há exactamente três anos, a 8 de Novembro de 2015, um artigo do PÚBLICO dizia que “Porta sim, porta não, a Baixa está entregue aos turistas”. O texto baseava-se numa contagem feita no local e em plataformas de reserva online e revelava que havia mais de 60 hotéis e estabelecimentos de alojamento local na Baixa lisboeta.

Três anos depois, recorrendo ao mesmo método, constatou-se que a vocação turística do bairro aumentou e continuará a crescer. O PÚBLICO encontrou 102 estabelecimentos em que os turistas podem dormir, da Praça do Município à Rua dos Bacalhoeiros, da Praça do Comércio às Praças do Rossio e da Figueira. Há ainda pelo menos três novos hotéis em construção e uma mão cheia de prédios em obras – se a tendência dos últimos anos se mantiver, é muito provável que uma parte significativa dos edifícios reabilitados venha a entrar no mercado de alojamento local, que na Baixa não foi limitado.

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Tal como em 2015, estes números, que resultam de um levantamento no terreno, de consultas ao Registo Nacional de Turismo (RNT) e a sites de reserva, pecam por defeito. Embora se tenham identificado muitos, não foi possível listar todos os apartamentos em regime de AL, pois estes, ao contrário dos hostels ou pensões, não são obrigados a colocar uma placa no exterior dos prédios. Aconteceu também que se encontraram alguns hotéis e hostels abertos ao público, com porta para a rua, de que não há registos oficiais no RNT. Por fim, escaparam a esta análise os apartamentos onde se faz AL ilegalmente, cuja identificação não é fácil.

Nem mesmo a câmara de Lisboa, no Estudo Urbanístico do Turismo que apresentou recentemente e no qual se baseou para proibir novos registos de AL em vários bairros da cidade, sabe bem qual é a dimensão dos AL ilegais na cidade. Segundo esse documento, em toda a freguesia de Santa Maria Maior – onde se inclui a Baixa – havia, em Agosto, capacidade para alojar 24.435 turistas, a grande maioria deles em AL. Só a freguesia de Santo António, que abrange a Avenida da Liberdade e zona envolvente, é que se aproximava deste número, com uma capacidade para receber 21.891 visitantes. Com o hiato temporal que decorreu entre o anúncio da suspensão de novos AL e a suspensão propriamente dita (que ainda não está em vigor), estes números alteraram-se, pois verificou-se uma autêntica corrida de última hora ao AL no centro histórico.

Das artérias que compõem esta zona erguida no século XVIII sobre os escombros da velha cidade em ruínas, a Rua do Ouro é actualmente a que tem mais capacidade turística: há ali camas para 424 pessoas nos cinco estabelecimentos registados. Para breve está prevista a abertura de um novo hotel nesta rua, com 58 quartos, e está em reabilitação um prédio que, no placard de obras, indica que vai ser AL. No extremo oposto da tabela está a Rua dos Bacalhoeiros, com apenas um AL registado: são sete camas para 12 turistas.

Tal como noutros sítios da cidade, também na Baixa há prédios ocupados totalmente por alojamento turístico, sem contudo serem hotéis ou hostels. São apartamentos autónomos, que não têm placa no exterior do edifício a indicar AL, e que por vezes têm a capacidade de um pequeno hotel. Por exemplo, na Rua da Vitória há um imóvel de suites com 40 camas e lotação de 50 pessoas. Na Rua de Santa Justa existem dois prédios que alojam 90 pessoas. E há ainda vários casos em que os estabelecimentos se apresentam ao público como “hotel”, quando na verdade estão registados como alojamento local.

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Há três anos, a Baixa estava no centro da discussão. Tanto que, perante as críticas de que estava a surgir uma “Disneylândia de hotéis” naquele local, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, prometeu para o fim de 2015 a divulgação de um estudo sobre o impacto do turismo na cidade. Se ele foi feito, nunca chegou ao conhecimento público.

Entretanto, bairros como Alfama e Mouraria saltaram para a dianteira mediática e política. Com as mudanças que o Parlamento fez à lei do alojamento local, em Julho deste ano, a câmara fez um estudo e decretou a suspensão de novos AL naqueles dois bairros, mas também no Bairro Alto e Madragoa. Sobre hotéis, nada se tem dito. A Baixa é agora uma “zona de monitorização” de AL.

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