Meritocracia docente por quotas
Um funcionário que deu o seu melhor, que alcançou resultados acima da média, que foi excecional, pode ser prejudicado pelo desempenho de todos os outros, incluindo as chefias? Na classe docente pode.
Trabalhadores motivados, com adequadas aptidões e ferramentas, operando num clima organizacional sustentável, são os ingredientes chave para melhorar os processos, trabalhar com limitações financeiras e, finalmente, satisfazer os clientes e conduzir ao sucesso da missão” (Niven 2003: 35). Não vejo nada disto nas escolas portuguesas… e cada vez menos.
Cabe ao “patrão” a cultura da meritocracia. Se ele não motiva, através de recompensas, os seus funcionários, eles não estarão dispostos a ser mais do que aquilo para que são pagos. Não vale a pena acrescentar tarefas às que usualmente fazem, porque só irão ser feitas de acordo com o que lhes pagam. No mundo empresarial todos sabem disso e se querem crescer aplicam-no. Um funcionário satisfeito é muito mais produtivo, está mais do que estudado e provado.
Na classe docente a meritocracia está disfarçada, chamam-lhe quotas. Não vou discutir se quem é contemplado com o “título de mérito” é ou não merecedor do mesmo, essa discussão há-de ser eterna. O que interessa são as quotas.
Num sistema em que se quer que os trabalhadores deem o seu melhor, que necessitam que deem o seu melhor, não se pode limitar o reconhecimento com quotas. As quotas são limitadoras do sucesso de qualquer empresa, de qualquer “empreitada”. Um sistema onde é permitido afirmar que um trabalhador tem mérito para ser recompensado, mas não possui quotas para o fazer, está condenado ao fracasso. A desmotivação vai tomar conta de todos aqueles que trabalharam para o mérito e, com o tempo, dos que algum dia teriam o tal mérito. Se um individuo vê outro ser injustiçado é mais do que aceitável que presuma que o mesmo lhe pode vir a acontecer.
Com os professores portugueses é isso que vai começar a acontecer, agora que se viram descongelados e começam a aperceber-se que a subida ao 5.º e 7.º escalões não é para todos. E não é porquê? Porque até a percentagem de quotas está limitada. Um docente que obtenha um “Muito Bom” ou “Excelente” na sua Avaliação do Desempenho Docente (ADD) tem passagem direta aos escalões supracitados, mas não é assim tão simples. As quotas estão dependentes da avaliação da própria escola em que o docente trabalha. Se numa escola houver 5 docentes que obtenham um “Muito Bom” ou “Excelente”, mas a escola só possua quotas para 4, um vai ser “desclassificado” para “Bom” e vai ter de esperar uns anos para obter uma vaga no escalão seguinte. Qual será a motivação desse docente para continuar a empenhar-se diariamente de forma a prosseguir um caminho de excelência? Será justo que a ADD de um entre mais de uma centena de docentes esteja limitada pelo trabalho de todos os outros? O docente, e qualquer outro trabalhador, consegue controlar o seu desempenho, mas não consegue controlar o de toda uma equipa de quem o seu trabalho pode, muito bem, não depender. O cerne da questão é esse. Um funcionário que deu o seu melhor, que alcançou resultados acima da média, que foi excecional, pode ser prejudicado pelo desempenho de todos os outros, incluindo as chefias? Na classe docente pode.
Num país em que o mais alto magistrado considera os professores como dos melhores do mundo, nega-se-lhes o mérito, mesmo sendo excecionais. A única coisa que não se lhes nega é o aumento da responsabilidade profissional, mesmo sem meios.
Se a meritocracia é para aplicar, aplique-se sem quotas. Um líder sabe disso. Um “patrão” apenas a si reconhece mérito.
É impossível transportar o “Bom” à plenitude através de leis que punem os “Muito Bom” por essa mesma plenitude.
Professor, colaborador do Blog DeAr Lindo