Inventor da Web pede responsabilidade a programadores de software

Tim Berners-Lee subiu ao palco na cerimónia de abertura da Web Summit.

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Tim Berners-Lee Miguel Manso

À terceira edição em Lisboa, o arranque da Web Summit é já uma cerimónia ritual para quem está nos círculos da tecnologia e das startups.

O pavilhão Altice Arena, em Lisboa, enche. O fundador, Paddy Cosgrave, sobe ao palco, mostra-se entusiasmado com a sala cheia e promete um evento em grande. Depois, pede a cada pessoa para se levantar e se apresentar às pessoas do lado. É uma espécie de eucaristia 2.0. Seguem-se as intervenções de oradores de peso (este ano, entre outros, foram o inventor da Web, Tim-Berners Lee, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, um repetente no evento). Por fim, António Costa e o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, juntam-se a Cosgrave no palco. A festa começa.

De forma semelhante às edições anteriores, Cosgrave começou com elogios para Portugal e Lisboa (“se esta é a vossa primeira vez em Portugal, deixem-me dizer que não será a vossa última”). Agradeceu a toda a organização, incluindo voluntários (cujo trabalho gratuito num evento que factura milhões foi no ano passado motivo de discussão). E, em sintonia com os tempos, não se esqueceu de uma palavra para as mulheres na conferência, que foi recebida com um aplauso entusiasmado da plateia. 

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Depois foi a vez de Tim Berners-Lee – que inventou a World Wide Web em 1989 e com isso transformou o mundo – subir ao palco para abordar alguns dos temas quentes num sector que tem motivado desconfiança por parte de utilizadores e legisladores: os problemas do anonimato, os limites da liberdade de expressão, e o comportamento das cada vez mais poderosas empresas tecnológica (mesmo numa conferência dedicada a inovação e tecnologia, Berners-Lee sentiu a necessidade de começar por distinguir a Internet da Web). 

“Não é só uma questão de reforçar leis, é uma questão de mudar mentalidades”, disse Tim Berners-Lee, numa conversa com a  jornalista da CNN, Laurie Segall, que é a entrevistadora habitual no palco da Web Summit. “Há um momento em que nos apercebemos de que há causas simples pelos quais devemos lutar, como a liberdade e a liberdade de expressão”. Porém, notou, “há consequências de defender o anonimato” – como a proliferação de discurso de ódio na Internet.

Frente a uma plateia de profissionais da tecnologia, Berners-Lee lançou um apelo: “Se estão a criar uma enorme plataforma de software, ou uma pequena plataforma de software que se pode tornar enorme, precisam de pensar nas implicações. Aquela linha de código que escrevem tem implicações na liberdade de expressão”.

Guterres contra armas com inteligência artificial

Já António Guterres passou em revista praticamente todos os problemas recentes das novas tecnologias, às ameaças aos empregos, passando pelas armas dotadas de inteligência artificial, que considerou serem “um perigo sério” que deve ser banido.

“Nas próximas décadas vamos assistir a uma grande quantidade de novos empregos criados, e uma grande quantidade de empregos destruídos. É impossível saber qual destes números será maior”, afirmou o secretário geral das Nações Unidas. “É obvio que a relação entre lazer, trabalho e outras ocupações vai mudar drasticamente.”

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Guterres referiu que a Internet tem permitido a disseminação de ódio, e a opressão e censura por parte de governos. Mas ressalvou que a responsabilidade não é da tecnologia: “É claro para mim que não foi a Web que criou populismo, tribalismo, polarização das sociedades. Há causas profundas e não se pode culpar a Web por isso.” 

A Web Summit chegou à terceira edição em Lisboa com a garantia de mais dez anos de permanência. A capital portuguesa acabou por deixar para trás as propostas de outras cidades (que, segundo a organização, ofereciam mais dinheiro) e assegurou durante uma década um evento que traz anualmente dezenas de milhares de participantes (são cerca de 70 mil este ano) e milhares de empresas, desde multinacionais a startups. 

A boa relação com o Governo e as entidades públicas ajudou a que a Web Summit decidisse ficar em Lisboa. António Costa escolheu o dia de arranque da conferência para anunciar duas novidades: 100 milhões de euros de financiamento disponível para projectos de inovação tecnológica, e um visto com condições especiais, para facilitar a residência no país de trabalhadores do sector que sejam de países de fora da União Europeia.

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Já no palco do Altice Arena, o primeiro-ministro (cuja intervenção foi feita quase toda em inglês) enumerou as características de Portugal para acolher empresas de tecnologia. “Temos talento altamente competente, universidades de classe mundial, Internet de alta velocidade e um ecossistema de startups vibrante”, afirmou. 

A própria Web Summit, por seu lado, anunciou nesta segunda-feira um fundo de 50 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de euros) para investir em startups, procurando assim mais uma forma de capitalizar o relacionamento privilegiado que o evento tem com estas empresas. 

A cerimónia de abertura chegou ao fim com Fernando Medina a oferecer a Cosgrave um retrato do explorador português Fernão de Magalhães. “Quinhentos anos depois, Lisboa torna-se agora a capital do mundo, graças a si”, disse o autarca.

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