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Portugal "precisa desesperadamente" de imigrantes para combater falta de mão-de-obra

O coordenador do Observatório da Emigração defende que o país "precisa desesperadamente de imigrantes" e passa "demasiado tempo a falar dos problemas da natalidade".

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Sebastiao Almeida

O coordenador do Observatório da Emigração defendeu este sábado que Portugal "precisa desesperadamente" de imigrantes e, para resolver o problema de falta de mão-de-obra, deve facilitar a entrada de estrangeiros e fazer campanhas de recrutamento no exterior.

Para o também sociólogo Rui Pena Pires, o problema demográfico que Portugal e a Europa enfrentam de falta de mão-de-obra em alguns sectores só se resolve com mais imigração. Um caminho que tem de ser feito rapidamente sob pena de se não o fizerem estarem a caminhar para "o suicídio", alertou.

"É um tema hoje complicado de gerir, face aos movimentos nacionalistas que estão a nascer um pouco por toda a Europa, mas se não tiverem mais imigrantes, Portugal e a Europa estão a suicidar-se", afirmou, em declarações à Lusa. O país "precisa desesperadamente de imigrantes" e passa "demasiado tempo a falar dos problemas da natalidade", considerou.

Porém, Pena Pires defendeu que é necessário "criar condições para que os pais possam cuidar dos seus filhos", sendo certo de que não será através de políticas para a natalidade que se vai resolver de imediato um problema de falta de mão de obra já existente em muitos sectores. "As dinâmicas demográficas da natalidade e da mortalidade não têm consequências a curto prazo", frisou.

Exemplos positivos

Para atrair imigrantes, o país precisa, segundo o professor e sociólogo, de colocar menos obstáculos à entrada de estrangeiros, mas também de "ter políticas activas de recrutamento lá fora".

Considerando os problemas actuais que os países enfrentam, de movimentos nacionalistas face a grandes fluxos de imigração, Pena Pires aponta exemplos positivos do Canadá e da Austrália. "Têm um peso de 30% da imigração com grande estabilidade e viáveis em todos os aspectos. São países prósperos e pacíficos".

Na opinião de Vítor Antunes, director executivo da Manpower, responsável pelo recrutamento para trabalho temporário, e uma das mais antigas a operar no mercado português nesta área, Portugal precisa "de mão-de-obra, em geral, e de talentos".

Para combater o problema tem de o fazer, "não só pela via do regresso de alguns emigrantes, mas também pela via da imigração", considerou.

Áreas com escassez de recursos

Os perfis especializados, ou seja, electricistas, soldadores, mecânicos, e os técnicos, como motoristas, engenheiros, informáticos, professores, pessoas para as áreas de apoio ao cliente, advogados e investigadores, gestores de projecto e alguns administrativos, são as classes profissionais com mais escassez de recursos humanos, relatou.

Informação sustentada por um estudo que a Manpower lançou recentemente, o Talent Shortage Survey, que indica que 46% das empresas nacionais revelaram dificuldades acima da média para recrutar o talento certo para o que precisavam, o maior aumento desde 2016, e 35% admitiu que os candidatos não têm as competências necessárias para os lugares, "o que tem vindo a dificultar o processo de recrutamento e selecção".

O ranking dos perfis mais procurados, segundo o mesmo documento, é liderado pelos profissionais especializados e técnicos, motoristas e engenheiros. "São profissões que estão em constante mutação e cujo desempenho obriga a alguns conhecimentos técnicos e também tecnológicos", disse Vitor Antunes.

O empresário António Mota, dono da Mota-Engil, empresa com negócios em vários países no sector da construção, um dos afectados pela falta de mão-de-obra, prevê que se o desenvolvimento em Portugal continuar a verificar-se, o país vai "precisar de mão-de-obra semiespecializada e especializada".

"Portugal precisa de muita mão-de-obra e precisa que regressem os seus quadros que emigraram", defendeu o empresário. Para o sector da construção, "falta pessoal e está-se a importar mão de obra de várias origens", afirmou.

Segundo Pena Pires, "Portugal tem de ter outra política de entradas. Porque o país (...) precisa de imigração regular". "Para isso temos de colocar menos obstáculos aos processos de entradas, mas também de tomar a iniciativa de fazer recrutamento em vários países", considerou.

"Os imigrantes do espaço lusófono têm sempre uma vantagem que é a da língua, que facilita em muito a integração", mas há outras origens onde Portugal hoje pode recrutar, concluiu o sociólogo.