Trump quer dominar o Irão através das sanções mas está isolado, diz o ayatollah Ali Khamenei

As sanções dos EUA contra o Irão entram em vigor segunda-feira e o Irão movimenta-se para conter os seus efeitos.

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Ayatollah Ali Khamenei Reuters

O ayatollah Ali Khamenei acusou os Estados Unidos de pretenderem dominar o Irão, como faziam antes da Revolução Islâmica de 1979, mas disse que a tentativa falhou pois o Presidente Donald Trump está isolado internacionalmente na decisão de repor as sanções ao país que estavam em vigor antes do acordo sobre o nuclear.

“O mundo opõe-se a todas as decisões de Trump”, disse Khamenei este sábado a um milhares de estudantes. “O objectivo da América é restabelecer o domínio que tinha [antes de 1979, na época do xá], mas falhou. A América foi derrotada pela República Islâmica nos últimos 40 anos”, disse o Líder Supremo, citado pela televisão estatal iraniana.

A Casa Branca vai, na segunda-feira, reintroduzir sanções dirigidas aos sectores vitais da economia iraniana, o petróleo, a banca e o sector naval. O objectivo é forçar o Irão a renegociar o acordo histórico sobre o nuclear de 2015, que travou o programa nuclear e de mísseis balísticos iraniano, e que Trump considera insuficiente. O Presidente americano quer negociar também a não participação do Irão em conflitos regionais, como as guerras na Síria e no Iémen, e travar a influência do país xiita no Médio Oriente (no Líbano, por exemplo).

A Administração Trump fez saber, sexta-feira, que oito importantes países vão ser autorizados, temporariamente, a prosseguir as compras de petróleo iraniano, apesar do regresso da sanções que penalizam países e empresas com laços comerciais com Teerão. O Irão é o terceiro maior exportador de petróleo mundial. 

Não foi divulgada a lista desses países, mas o Governo turco fez saber que recebeu indicação de que está entre eles, esperando por segunda-feira para ter uma clarificação. O ministro indiano do Petróleo, Dharmendra Pradhan, disse este sábado que a Índia e outros grandes importadores de petróleo também estão entre os oito países que vão beneficiar da exclusão permitida pelos EUA.

A maior parte das sanções contra o Irão foram levantadas em 2016, ao abrigo do acordo do nuclear, assinado pelo Irão, EUA, China, Reino Unido, Alemanha, França e Rússia, e segundo o qual Teerão abdicava do seu programa de urânio enriquecido, que era visto como um esforço para o desenvolvimento de armas nucleares.

Trump denunciou que o acordo, aprovado pelo seu antecessor na Casa Branca, Barack Obama, tinha falhas graves a favor do Irão e retirou os EUA do pacto em Maio.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohammed Javad Zarif, falou ao telefone com a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, e com os homólogos alemão, sueco e dinamarquês sobre as medidas que Bruxelas poderá adoptar para conter as sanções americanas, noticiou a agência iraniana IRNA.

Guerra dos tronos

Trump anunciou as maiores sanções americanas de sempre contra o Irão no Twitter, com uma fotografia que decalca os cartazes de promoção da série de televisão Guerra dos Tronos — uma fotografia sua envolta numa bruma cinzenta e a frase “As sanções estão a chegar”; na Guerra dos Tronos a frase é “O Inverno está a chegar”.

A produtora da séria, a HBO, não gostou desta apropriação. “Preferimos que a nossa marca não seja indevidamente utilizada para fins políticos”, disse em comunicado.

O general iraniano Qassem Soleimani, comandante das forças especiais da poderosa Guardas da Revolução (o esquadrão Quds, responsável por operações no estrangeiro), também comentou o tweet de Trump. No Instagram, e em resposta a “As sanções estão a chegar”, escreveu “Vou ficar contra ti” numa fotografia parecida e com referência a uma canção dos Pretenders, I'll stand by you

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União Europeia, França, Alemanha e Reino Unido afirmaram, num comunicado conjunto na sexta-feira, que lamentam a decisão de Donald Trump de repor as sanções. 

E diplomatas disseram à Reuters na semana passada que o mecanismo europeu que facilita o pagamento do petróleo iraniano deve tornar-se legal já neste domingo, mas só estará operacional no início do ano que vem. Explicaram, porém, que ainda nenhum país se voluntariou para albergar a entidade responsável pelas transacções, o que está a atrasar o processo.

Alguns dos signatários do acordo do nuclear consideraram que a saída dos EUA e o regresso das sanções, e do isolamento do Irão, abre o risco de haver um conflito mais alargado no Médio Oriente — e, por isso, dizem continuar comprometidos com o pacto, que o Governo de Teerão afirma poder rasgar se a sua economia não tiver os benefícios económicos prometidos.

“O Irão não vai permitir que o regime de Trump, que tornou a política externa americana desprovida de qualquer princípio, atinja os seus fins por vias ilegais”, disse Mohammed Javad Zarif.