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RCA: portugueses envolvidos em "combate de elevada intensidade"

Confrontos na cidade de Bambari levaram sete horas. Não há feridos a registar entre os efectivos portugueses.

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Miguel Manso

Os militares portugueses estiveram esta sexta-feira novamente envolvidos em combates na cidade de Bambari, situada no centro da República Centro Africana (RCA), sem que haja registos de quaisquer feridos nos seus efectivos, ao fim de sete horas de confrontos.

"Os pára-quedistas da 4.ª Força Nacional Destacada (4FND) na República Centro Africana (RCA), composta maioritariamente pelo 2.º Batalhão de Infantaria Pára-quedista, estiveram pelo segundo dia consecutivo em combate, durante o dia 2 de Novembro de 2018, na cidade de Bambari. Não há feridos a registar do lado das forças de combate portuguesas", informou o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), em comunicado.

O incidente ocorreu quando os militares "estavam a patrulhar o centro de Bambari", momento em que foram alvejados.

"Dada a dimensão da ameaça, com a existência de barricadas e o efectivo do grupo opositor em grande número", que disparava "armas pesadas e lança-rockets (RPG), a partir de posições fortificadas", os militares portugueses "reagiram".

Especificando que "os disparos foram provenientes de locais habitados por civis que não são afectos aos grupos armados", o EMGFA salientou que os militares portugueses reagiram em defesa da população.

"Elevada intensidade"

"A população da cidade de Bambari em particular tem sido alvo nas últimas semanas de constantes ameaças e extorsões por parte de elementos afectos aos grupos armados", lê-se ainda no comunicado.

Na nota, o Estado-Maior General destacou igualmente que "este combate em ambiente urbano, de elevada intensidade, foi particularmente exigente por parte dos militares portugueses a fim de minimizar o risco de danos colaterais face à presença de população civil nas imediações".

Ainda segundo o EMGFA, de acordo com as resoluções em vigor do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a missão da ONU no país tem como tarefas prioritárias "a protecção dos civis, o apoio ao processo de paz, facilitar a assistência humanitária e a protecção do pessoal, instalações, equipamentos e bens das Nações Unidas".

O seu mandato prevê, entre outras, a tomada de "acções que antecipem, dissuadam e respondam, de forma efectiva, a ameaças sérias e credíveis à população civil".

Um país mergulhado no caos

Portugal participa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), desde 2017, com uma companhia de infantaria a operar a partir de Bangui, que tem a missão de Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force — QRF).

A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-balaka.

O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.

O resto é dividido por mais de 15 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

No início de Setembro, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA.

Aquela que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta no país é composta por cerca de 160 militares e iniciou a missão em 5 de Setembro.

Portugal também integra a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

A EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das forças armadas do país, tem 45 militares portugueses, entre os 170 de 11 nacionalidades que a compõem.