Carros eléctricos já pagam carregamento rápido. Vendas atingem recorde
Nos nove primeiros meses de 2018 venderam-se em Portugal mais eléctricos e híbridos do que em todo o ano de 2017. Carregamentos lentos mantêm-se gratuitos em 2019.
A venda de novos carros eléctricos e híbridos bate recordes em Portugal. O ano ainda não terminou e nos primeiros nove meses de 2018 foram vendidas mais viaturas do que em todo o ano de 2017. Os números são da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e é neste cenário de procura crescente na mobilidade eléctrica que a rede nacional de carregamento de baterias entrou num novo ciclo: o abastecimento nos 53 postos de carregamento rápidos espalhados pelo país passou a ser pago desde 1 de Novembro.
A quota de mercado dos eléctricos e híbridos coloca Portugal no quarto lugar do ranking da União Europeia (28 países). Uma posição que melhora se se olhar apenas para o segmento dos 100% eléctricos (3.º posto para Portugal). Os condutores que a partir de agora precisarem de carregar baterias de forma rápida sabem que terão de pagar pelo abastecimento, que era gratuito até aqui. Já o carregamento lento, manter-se-á gratuito pelo menos até ao final de 2019, disse o ministro esta semana numa entrevista à Renascença.
Quase sete euros de diferença
Os preços agora em vigor variam muito: uma simulação da associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos (UVE) indica que entre o mais barato e o mais caro há 6,68 euros de diferença. Há quatro comercializadores de energia no mercado: Galp, EDP Comercial, Prio e eVAZ Energy. Cada cliente tem de estabelecer contrato com uma empresa à escolha, e receberá um cartão, que substitui o actual cartão Mobi.e, que continuará a funcionar nos carregamentos lentos.
Na véspera destas mudanças, nem todos tinham recebido (ou activado) o novo cartão. Foram emitidos cerca de oito mil, dos quais apenas metade estavam activados.
Henrique Sánchez, presidente da UVE, confirmou essa situação ao PÚBLICO, salientando porém que todos os comercializadores têm planos B para ajudar quem se encontre numa dessas situações. O mesmo destaca Gustavo Monteiro, administrador da EDP Comercial, que tem, desde o início da semana, funcionários nos postos de carregamento rápidos para apoiar clientes, com a possibilidade de activação de cartões na hora e a linha de atendimento permanentemente disponível. Luís Martins, administrador da Prio, por seu lado, admite que não houve muito tempo para fazer uma transição suave e entregar os cartões a toda a gente, mas acredita que “está tudo a postos” para esta nova fase. E argumenta que a Prio se posicionou, em termos de tarifário, como a mais barata.
Não é isso que diz a simulação da UVE. A associação teve em conta um carregamento rápido de 30 minutos, para um consumo médio de 15 kWh, numa tarifa bi-horária (fora do vazio). No entanto, a Prio contesta as conclusões, apresentado números diferentes, mas com pressupostos ligeiramente diferentes também.
A factura que a partir de agora passará a ser enviada aos clientes dos postos de carregamento rápidos incluirá três elementos: o custo do operador do posto de carregamento (OPC); a tarifa do comercializador; e as taxas devidas ao Estado.
Com excepção desta última componente, cada empresa teve liberdade para fixar a tarifa que entendeu. EDP e Galp apostaram em descontos para quem é cliente de electricidade em casa; a Prio, por seu lado, oferece o custo do OPC até ao final do ano.
Continuar a carregar em casa
Segundo Henrique Sánchez, “80% dos carregamentos são feitos em casa” e à noite. Esta realidade não deve mudar muito. Sai mais barato e aproveita a produção eléctrica proveniente das renováveis, cujo excedente está disponível nesse período. Ainda assim, os carregamentos rápidos – que permitem carregar 80% da bateria em 30 minutos – são “necessários para uma emergência”. E “era fundamental entrar na fase comercial”, até porque já é possível viajar entre Lisboa e Porto e ter pontos de carregamento a cada 40 quilómetros. “A gratuitidade até aqui foi boa, mas prolongou-se por demasiado tempo”, sustenta, acrescentando que as tarifas apresentadas estão “em linha com o que era esperado”. “Quem comparar com os custos dos combustíveis fósseis rapidamente compreenderá que estamos a falar num elevado potencial de poupança”, refere.
Vendas em nível recorde
Desde o início do ano até ao final de Setembro, foram vendidas em Portugal mais de 5600 viaturas 100% eléctricas e híbridas novas. Sem contar com os Tesla, marca que não faz parte da ACAP. A quota de mercado ronda os 5%, longe dos 10% que o segundo Governo de Sócrates tinha apontado como meta, e o volume de vendas (número total) coloca Portugal no oitavo lugar (entre 28), segundo os dados do EAFO, o observatório europeu dos combustíveis alternativos. À frente de Portugal, ficam (por esta ordem) Alemanha, Reino Unido, França, Suécia, Holanda, Espanha e Itália. A estes acrescem os importados, que não estão aqui contabilizados.
O actual Governo mantém, na proposta de Orçamento do Estado para 2019, os incentivos para a aquisição de veículos de baixas emissões, concedendo um benefício de até 2500 euros na aquisição. Porém, entidades como o ACP dizem que estes incentivos são “inócuos”, alegando que “não passam de cosmética”.
O recurso ao carregamento rápido implica estudar os números, levando em linha de conta as campanhas de desconto e ofertas, bem como outras alternativas. Galp e EDP Comercial fazem descontos aos clientes domésticos, com esta última a tirar 25% à tarifa de referência para o kWh (passa de 23 cêntimos para 17). Além disso, comercializa uma Wallbox desenvolvida em parceria com a Efacec, que faz uma gestão dinâmica das cargas, ajustando a potência disponível para o carro em função do restante consumo doméstico. Isso permite ao agregado manter a potência contratada, poupando no termo fixo.
Sem poder competir no mercado doméstico, a Prio aposta em melhorar e alargar a rede de carregamento rápido. Luís Martins sublinha que a empresa pretende chegar a 2020 com 200 postos de carregamento rápidos, transformando os actuais e acrescentando-lhe meia centena de postos novos.