O que sabem eles (os políticos) sobre Tancos?
O PÚBLICO reconstitui o que os principais dirigentes políticos têm dito sobre os casos de Tancos. Muitas vezes parecem saber mais do que o dizem.
9 de Setembro
“O país também tem de exigir que faça essa investigação rapidamente. Há coisas mais complicadas do que isto de investigar. Já vai para lá do tempo, eu não disse tudo o que sei.”
No encerramento da Universidade de Verão do PSD Rui Rio surpreende, revelando que tem informação sobre a investigação a Tancos, mas que não pode revelar. O que sabe Rio?
10 de Setembro
"Estamos, penso eu, na ponta final da investigação criminal. (…) E eu hoje tenho uma forte esperança que seja uma questão de dias ou de semanas e não de meses, portanto, que estejamos mesmo muito próximos do conhecimento das conclusões da investigação criminal."
Agora é a vez Marcelo Rebelo de Sousa, mostrar esperança que a investigação ao desaparecimento de material de guerra esteja para muito breve. Questionado pelos jornalistas se lhe deram sinais de que em breve haverá conclusões da investigação judicial, o Presidente da República responde: “É a minha convicção.”
11 de Setembro
"Tenho outras informações. (…) Deixe vir a acusação e depois todos sabemos tudo."
Rio insiste em que sabe mais do que o que pode dizer e, desta vez, até cita as palavras de Marcelo no dia anterior: "Aquilo que eu vi ontem nas declarações do Presidente da República é que ele está convicto, que não se podendo arrastar, o resultado da investigação jurídica também está próxima para sair, o que é bom para o país e para a clarificação desta situação."
25 de Setembro
"Estava efectivamente à espera, estava era à espera que já tivesse sido."
No dia em que o director da Polícia Judiciária Militar (PJM), três elementos daquela polícia, três militares GNR e um civil são detidos são detidos com suspeitas diversas sobre a recuperação do equipamento militar desaparecido em Tancos o país abriu a boca de espanto. Rui Rio não porque “já estava à espera”. Seria isto que Rio sabia, mas não podia dizer?
26 de Setembro
“Um dia ainda haveremos de saber oque cada um sabia sobre esta história de Tancos.”
No debate quinzenal no Parlamento em que mantém a confiança no ministro da Defesa, António Costa, em resposta a Fernando Negrão, deixa esta frase enigmática. Saberá Costa alguma coisa sobre o que outros sabem sobre Tancos? Mais um mistério.
4 de Outubro
"Queria dizer categoricamente que é totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo. Não tive conhecimento de qualquer facto que me permitisse acreditar que terá havido um qualquer encobrimento na descoberta do material militar de Tancos."
Azeredo Lopes foi rápido e categórico a desmentir ter qualquer conhecimento. No dia em que o Expresso noticia que major Vasco Brazão, investigador da PJM, tinha afirmado em tribunal que o ministro da Defesa tinha conhecimento do encobrimento do material de guerra furtado em Tancos, pois tinha entregado ao seu ex-chefe gabinete um memorando onde era revelada a operação de recuperação do equipamento militar roubado em Tancos. Mais, acrescentou que o chefe de gabinete tinha telefonado à sua frente ao ministro a dar conta do dito memorando.
"Cumpre-me informar, em abono da minha honra e da verdade dos factos, que efectivamente recebi o Sr. coronel Luís Vieira [director da Polícia Judiciária Militar] e o Sr. Major Brazão [porta-voz da Política Judiciária Militar], no meu gabinete, em Novembro de 2017. (…) Não foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos."
O tenente-general António Martins Pereira, ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, confirma ter recebido os homens da PJM. Nada diz sobre o memorando, mas não descortinou qualquer encobrimento. Também não diz sobre a eventual informação que terá passado ao ministro.
11 de Outubro
“O senhor general Martins Pereira agiu, com certeza, de acordo com o que considerou ser o seu dever.”
Numa declaração ao PÚBLICO, Azeredo Lopes comenta assim a entrega pelo seu ex-chefe de gabinete ao DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal) de um memorando sobre a encenação da recuperação do material roubado em Tancos – sem responder se viu esse documento. No dia seguinte demite-se do cargo de ministro da Defesa.
20 de Outubro
“Não sabia nem sei os factos que ocorreram e as inerentes responsabilidades, nomeadamente criminais.”
Marcelo Rebelo de Sousa, numa declaração à Lusa, diz nada saber sobre a investigação de Tancos. Esta declaração surge depois da directora da agência Lusa, Luísa Meireles, ter revelado na RTP que o chefe da Casa Militar do Presidente pediu para sair de Belém precisamente ao mesmo tempo que o chefe de gabinete de Azeredo Lopes pedia para sair do Ministério e que foi logo a seguir para adjunto do Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, onde continua em funções.
25 de Outubro
Chefe de gabinete diz ter informado Azeredo Lopes de memorando de Tancos
A notícia do PÚBLICO volta a agitar as águas. O tenente-general Martins Pereira, inquirido na véspera pelo Ministério Público disse que, assim que recebeu o memorando sobre a operação encenada, passou imediatamente a informação ao governante, a quem ligou pela rede WhatsApp, cujos telefonemas e mensagens são encriptados. Colocou agora o seu telemóvel à disposição dos investigadores para perícia, por forma a que seja comprovado aquilo que alega.
“Face às notícias de hoje sobre o chamado 'caso de Tancos', contactei o DCIAP, tendo manifestado, com respeito pleno pela autonomia decisória da PGR, a minha total e completa disponibilidade e interesse em ser ouvido pela investigação deste caso.”
José Azeredo Lopes está disponível para contar o que sabe ao DCIAP. Na mesma declaração reitera tudo o que afirmou "até à data" sobre o caso. Ou seja, nada sabe sobre o memorando e sobre a alegada encenação no achamento do material militar.
“Não é muito normal que [o ex-ministro] não transmita ao primeiro-ministro [todos as informações que tinha sobre Tancos].”
Rui Rio envolve directamente o primeiro-ministro sobre o cada um sabe sobre Tancos, embora tenha ressalvado “a ser verdade” que o ex-chefe de gabinete entregou de Azeredo um memorando sobre a situação ao antigo titular da pasta da Defesa.
26 de Outubro
“Nem através de Azeredo Lopes, nem através de ninguém. Não conhecia [o memorando]. ”
Na manhã desta sexta-feira António Costa desfez as dúvidas que PSD e CDS colocaram a pairar sobre ele. Questiona se achava que tinha sido enganado pelo ex-ministro Azeredo Lopes respondeu: "Acho que não".