Bate tudo certo: a inauguração da exposição Vou Ali e Já Venho termina às 21h, na Art Room, e a partir daí Clara Não terá meia hora para chegar a tempo da conversa na associação cultural Appleton, às 21h30.
O percurso entre os dois eventos — não relacionados — já está marcado no Google Maps, brinca. Pode arrancar o “mini festival de negação” da artista portuense em Lisboa, de 25 a 27 de Outubro.
Na exposição a solo na galeria Art Room, no Príncipe Real, espera-se uma “espécie de open studio do cérebro” da ilustradora — calma, numa versão “poética e não neurológica”. “Vou juntar os meus sentimentos todos e tirar um por um”, promete. “É agora que vamos descobrir que a Clara Não também é fofa?”, perguntaram-lhe. Ela espantou-se: “ Uma pessoa só porque é activista não quer dizer que não seja carinhosa”, ri-se.
Para o provar, além das ilustrações “irreverentes onde reivindica a igualdade” e ironiza quem não contribui para ela — esta é para vocês, defensores do “pêlo mas só em algumas partes do corpo” — a artista vai expor e vender bordados, um “lado mais desconhecido do seu trabalho”. Vai ser ainda possível conhecer colagens com texturas, zines, desenhos feitos em tinta-da-china e os esboços originais que serviram de ponto de partida para prints bem conhecidos (e muito partilhados nas redes sociais).
Clara Silva, 24 anos, que pôs no nome artístico “o direito a dizer Não”, vai estar por lá durante os três dias da exibição, tanto a bordar como a fazer uma performance escrita. Num papel do tamanho de uma parede, vai escrever o manifesto para mulheres artistas independentes que criou, usando as duas mãos ao mesmo tempo para redigir em espelho vertical, espelho horizontal e a 180º. O resultado — que se tornou possível depois de vários meses a aprender a escrever também com a mão esquerda — vai estar à venda.
Chamou à exposição Vou Ali e Já Venho porque gosta da "impertinência" da expressão, mas também porque resume exactamente o que vai fazer. "Vou ali a Lisboa e já venho." Tal como depois, a 10 de Novembro, vai a Guimarães, expor na Área 55. O tema ainda está entre "O que é que ando a fazer?" e "Tenho comichões". Nas palavras da artista (que agora estão gravadas também num tote bag): “A verdade libertar-te-á, mas primeiro vai dar-te aquelas comichões bué irritantes.”