Rui Vitória quer personalidade diante de Ajax virtuoso

Apesar de alguns constrangimentos no eixo da defesa, o treinador do Benfica espera um jogo “interessantíssimo” em Amesterdão. “Temos de ser fortes nos quatro momentos do jogo”, alerta.

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LUSA/OLAF KRAAK

Revigorado pela vitória de Atenas (2-3), que colocou um ponto final na série de oito derrotas consecutivas na Liga dos Campeões, o Benfica desembarcou em Amesterdão com o impulso natural de poder encaminhar a questão do acesso aos oitavos-de-final da prova milionária. Suplantar o Ajax (que arrancou um empate em Munique e reparte a liderança do Grupo E com os alemães) na Arena Johan Cruijff poderá revelar-se de suprema importância, já que os “encarnados” recebem os holandeses na próxima jornada, o que poderá ajudar a simplificar a discussão.

Com uma convocatória alargada de 22 jogadores “disponíveis” para o jogo com o Ajax, como afirmou, peremptoriamente, Rui Vitória, o treinador do Benfica debate-se com algumas dúvidas, já que Grimaldo e Jardel regressam de lesões, abrindo espaço à discussão em torno das limitações defensivas provocadas pelo castigo de Rúben Dias e pela ausência de Lema (com problemas físicos), o que reduz as opções para o eixo da defesa a Conti, Jardel e Ferro, “requisitado” à equipa B.

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Um cenário que anima os holandeses, equipa com enorme vocação e liberdade ofensiva, ainda que Rui Vitória tenha desdramatizado, em conferência de imprensa, qualquer quadro especulativo, preferindo antecipar um “jogo interessantíssimo de seguir”, em que o Benfica procurará ser fiel aos princípios de jogo e a uma identidade própria.

Apesar da tentativa do treinador, as vicissitudes defensivas do Benfica e a propensão ofensiva do Ajax sugerem uma perspectiva especial para o duelo de Amesterdão. “Temos consciência de que o Ajax, do ponto de vista ofensivo, tem várias virtudes e muitas dinâmicas interessantes, que temos de perceber para dar a informação aos nossos jogadores para eles estarem prontos e em condições de resolver os problemas”, referiu o treinador português.

Entre essas qualidades, destaca-se a boa circulação de bola do actual segundo classificado da Liga holandesa, que projecta muito os laterais (normalmente Mazraoui, à direita, e Tagliafico, que está em dúvida para hoje, à esquerda) e aproveita a enorme qualidade individual do marroquino Ziyech e do sérvio Tadic para desequilibrar em zonas interiores. Num “onze” que habitualmente apresenta uma média de idades de 24 anos, destacam-se também o jovem central De Ligt (19 anos), o médio Frenkie de Jong (21) e o avançado dinamarquês Kasper Dolberg (21), que acabou de renovar contrato e discute a posição com o consagrado Huntelaar.

Nada, porém, que obrigue Rui Vitória a baixar os índices de confiança. “Temos jogadores de qualidade, com grande vivência destes jogos e desta competição, o que é sempre relevante. Portanto, há que ter cuidados, sem abdicar da nossa ambição e personalidade”, insistiu. “Um pormenor pode fazer a diferença. A astúcia, a perspicácia, a qualidade, os pequenos duelos em que queremos ser superiores”, sublinhou.

Evocando a marca Benfica, o treinador português aponta a fórmula do sucesso em Amesterdão, onde o Ajax, na presente temporada, cedeu apenas um empate em oito partidas. “Desde o início da época que trabalhamos para impor a nossa forma de jogar. Para isso temos que ser fortes nos quatro momentos do jogo. Bloquear os espaços que o Ajax pretende; escolher os caminhos para desequilibrar; apostar na nossa velocidade — sempre muito concentrados — e sermos fortes nas bolas paradas”.

Rui Vitória assume sem problemas que o Benfica “terá que defender em determinados momentos”, mas também irá criar problemas ao adversário. “Vamos ter um jogo interessantíssimo de seguir. Será determinante a forma mental de abordar o jogo. Temos uma identidade que queremos colocar em qualquer campo”, insistiu, notando que não faz sentido, com apenas duas jornadas decorridas, estar a projectar probabilidades, recentemente baralhadas pelo tal empate entre Bayern Munique e Ajax, na Alemanha.

“Não vale a pena estar a fazer contas ou a pensar nesse empate. Temos é que olhar para nós sem dispersar energias. Também fomos ganhar a Atenas e agora temos mais três pontos para disputar. Depois jogamos directo com o Ajax, em casa, mas é neste jogo que temos de nos focar. E só no final poderemos fazer as contas”, defendeu, pouco interessado em levantar uma ponta do véu sobre as opções para um jogo em que volta a contar com os argentinos Cervi e Salvio, o que poderá provocar alterações na dinâmica da equipa.

Isto quando apenas Fejsa (que ontem falhou o treino de adaptação) e Pizzi surgem como intocáveis, faltando saber como gerirá Rui Vitória o momento de Rafa e a utilização de Gedson Fernandes e/ou Gabriel, uma decisão que passará pela visão do técnico quanto à melhor proposta para explorar “as limitações” do Ajax.

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