No Orçamento Participativo da Madeira ganhou projecto com assinaturas da JS local. PSD estranha
Um dos projectos vencedores do Orçamento Participativo na Madeira é subscrito por dirigentes da JS local, incluindo o filho do líder do PS regional. PSD-Madeira fala em “esquemas”.
Não fosse o Cowork Madeira, um dos projectos vencedores do Orçamento Participativo de Portugal (OPP) 2018, ter por subscritores sete destacados membros da JS local e teria passado despercebido no arquipélago. Não passou.
Olavo Câmara, presidente da JS-Madeira; Nicodemo Câmara, membro do secretariado da JS-Madeira; Cristina Correia, dirigente da JS-Madeira e membro da Comissão Política do PS-Madeira; Mariana Barbosa, do secretariado da JS-Madeira; Pedro Viveiros, secretário-geral JS-Madeira; Sara Silva, da Comissão Política da JS-Madeira; Pedro Calaça Vieira, vice-presidente da Mesa da Comissão Regional da JS-Madeira: não exactamente por esta ordem de assinatura, mas por relevância política, são estes os nomes que subscrevem o projecto, que vai receber 300 mil euros para se concretizar. O valor mais elevado previsto pelo OPP. Os dois primeiros, Olavo e Nicodemo Câmara, são também filhos de Emanuel Câmara, o actual presidente do PS-Madeira.
O PSD não deixou passar a coincidência. Esta semana, no parlamento madeirense, Carlos Rodrigues deu voz à indignação social-democrata. “São 300 mil euros para o filho do presidente do PS-Madeira”, disse o deputado durante uma intervenção no plenário, acusando os socialistas de serem um partido dos “esquemas” para os amigos. “Isto é o tipo de gente que se suja por 300 mil euros”, concluiu, perante os protestos da bancada socialista.
Olavo Câmara, que lidera a JS-Madeira desde 2014 – em Setembro foi reeleito para um terceiro e último mandato –, e que já passou pela assembleia madeirense em regime de substituição, não quis falar ao PÚBLICO sobre o Cowork Madeira, justificando que não foi o mentor do projecto. A equipa responsável pelo OPP não respondeu em tempo útil às questões colocadas e Cristina Correia, a primeira assinatura que consta do projecto, não compreende o porquê de o caso ter ganho tracção política.
“A ideia do projecto foi minha e conversei depois sobre ele com o meu grupo de amigos. Pertencendo a uma organização partidária, é natural que muitos dos meus amigos estejam lá”, argumenta ao PÚBLICO, considerando “lamentável” que tentem dar uma “dimensão negativa” a um projecto que pretende ser uma mais-valia para os estudantes.
O projecto, continua, não tem qualquer ligação ou cariz partidário. “Depende de uma votação, não foi um ajuste directo”, sublinha, descrevendo o Cowork Madeira como um espaço gratuito direccionado para os estudantes, onde se possam reunir, estudar e partilhar ideias. “Queremos um espaço com várias valências, incluindo as indústrias criativas. Um espaço que não existe na Madeira. Os que existem estão vocacionados para os profissionais.”
Cristina Correia admite que não sabe como ou onde vai concretizar o projecto, aguardando o contacto da OPP para avançar com a ideia. Não encontra também problemas na forma como o Cowork Madeira foi apresentado para análise técnica do OPP, antes de ser submetido a votação. Foi um parágrafo, com duas frases: “Criação de espaço de cowork – equipamentos, recursos técnicos, etc. – direccionado para jovens, situado no município do Funchal, a capital da Região Autónoma da Madeira, aberto à utilização de jovens oriundos de toda a Região. O objectivo é criar um espaço de trabalho colectivo, onde se promovam sinergias entre profissionais de diferentes áreas, ajudando a impulsionar o seu sucesso e contando com apoio especializado fornecido, por exemplo, pela autarquia local.”
No site do OPP indicava-se que as propostas a apresentar “devem ser específicas e pormenorizadas”, de forma a possibilitar uma “análise concreta” e “orçamentação rigorosa”. Cristina Correia diz que foi isso que foi feito.