Subida das águas do Mediterrâneo põe em risco património da UNESCO
A Croácia, a Grécia, a Itália e a Tunísia são dos países com mais zonas em risco. Portugal não está contemplado neste estudo, mas também tem património da UNESCO em zonas litorais.
Quase todos os monumentos considerados Património Mundial da Humanidade localizados nas zonas baixas da costa do Mediterrâneo (47 em 49 classificados) estão em risco de virem a ser afectados pela subida das águas do mar até 2100. A ameaça é real: 42 das zonas reconhecidas pela UNESCO estão já a ser afectadas pela erosão costeira. São estas as conclusões de um estudo publicado esta terça-feira na revista científica Nature Communications, em que investigadores britânicos e alemães pedem que os políticos tomem medidas de salvaguarda para evitar o pior.
A Croácia, a Grécia, a Itália e a Tunísia são dos países com mais património ameaçado pela subida das águas do mar, um dos efeitos do aumento da temperatura global. Entre os locais em risco está a cidade velha de Dubrovnik (onde se filmam cenas da série A Guerra dos Tronos, na Croácia), Butroto (Albânia), Delos (Grécia), cidade velha de Acre (Israel), a Costa Amalfitana (Itália), a Gruta de Gorham (Gibraltar), a cidade de Cartago (Tunísia), a cidade medieval de Rodes (Grécia) ou a zona arqueológica de Pompeia (Itália).
Outro dos locais ameaçados é a antiga cidade romana de Aquileia, no Norte de Itália. No seu site, a UNESCO refere que grande parte da antiga cidade continua subterrada, ainda por descobrir – o que significa que pode vir a perder-se um local arqueológico que ainda não viu a luz do dia.
Os investigadores aperceberam-se do risco de exposição de alguns dos monumentos classificados como património mundial utilizando a base de dados da UNESCO e as previsões de subida das águas do mar (que podem ser ainda mais graves quando aliadas a outros fenómenos meteorológicos extremos).
Da listagem analisada, há 37 locais em risco de inundação nos próximos 82 anos. Em Itália, a cidade de Veneza já fica sazonalmente inundada, apesar de se estar há mais de uma década a aplicar um sistema de barragens para reduzir o impacto das cheias. O nível das águas do mar tem vindo a subir a um ritmo cada vez mais acelerado: nos últimos 20 anos, subiu o dobro da velocidade do que acontecia nos 80 anos anteriores, refere a revista National Geographic.
Só dois dos 49 locais examinados não estão em risco de vir a ser afectados pelas cheias ou pela erosão costeira até 2100: a medina de Tunes (Tunísia) e o antigo santuário de Letoon (Xanto, Turquia).
Um património insubstituível
A grande quantidade de monumentos e locais de interesse localizados junto ao mar é explicada pelas civilizações antigas que habitaram a zona, como os romanos e os fenícios. “É assim na história do Mediterrâneo clássico. Tudo está a três quilómetros da costa”, explicou ao jornal Washington Post o historiador Joseph Manning, da Universidade de Yale.
“Não podemos quantificar o valor daquilo que perderemos”, garante a investigadora da Universidade de Kiel (Alemanha) Lena Reimann, uma das autoras do estudo. “É o nosso património – elementos que são marcas da nossa civilização. Não dá propriamente para representar em números, é mais uma questão ética, uma questão moral. Não conseguiremos substituí-los quando os perdermos.”
Portugal não está contemplado no estudo da Nature Communications, mas tem também locais classificados como património mundial da UNESCO em zonas costeiras: é o caso da zona central da cidade de Angra do Heroísmo, do Mosteiro dos Jerónimos, da Torre de Belém ou do centro histórico do Porto. A convenção do património mundial foi criada em 1972 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para “proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excepcional”.