As eleições de hoje, na escolha do “menos pior”
O estado da informação nos dias de hoje “obriga-nos” a intervir activamente, a informarmo-nos responsavelmente, para evitar que se torne verdade o que disse Platão: “O preço a pagar pelo teu não envolvimento na política é seres governado por quem te é inferior.”
A história, observada a uma razoável distância temporal, ensina-nos que se repetiram episódios de ditadores e outros déspotas que chegaram ao poder como “lobos na pele de cordeiro”. Outros houve que meramente sucederam o tirano regente. Ainda outros que, em modo “golpe de estado”, mudaram o espectro político de um extremo para o oposto (apesar de se saber que “os extremos se tocam”).
A história presente, a que se faz agora e hoje, não parece ter o condão de nos ensinar a tempo de evitarmos que essas catástrofes históricas se repitam.
Não me refiro a eleições “encenadas”, como as que vêm acontecendo na Coreia do Norte ou, falando de 2018, da Venezuela ou Egipto, mas antes a fenómenos que levam forças políticas lideradas por pessoas sem cultura nem princípios democráticos a governar países. Pessoas que são avessas à democracia e à sua prática.
Pode-se dar como exemplo a Turquia que, de eleições em eleições, caminha a passos largos para uma ditadura, onde Erdogan reforça o seu poder a caminho do totalitarismo. Nos Estados Unidos, país onde se vive uma fortíssima bipolarização partidária, os republicanos (e lobbies por detrás) escolheram Donald Trump para candidato presidencial… e o colégio eleitoral fez o resto (estranho como ninguém questiona o modo como este órgão é constituído, de um modo tão pouco representativo da vontade individual dos votantes de cada estado).
Outros países há em que não existe essa bipolarização, como o Brasil, onde se apresentaram 14 candidatos à Presidência da República (sendo que a candidatura do ex-presidente Lula da Silva foi indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral).
Mas, apesar de haver uma ampla escolha, os dois candidatos apurados para o segundo turno são, muito provavelmente, os mais odiados pelo povo brasileiro: Fernando Haddad (do PT), ex-ministro da Educação de Lula e Dilma, altamente impopular por estar na linha ideológica de dois ex-presidentes cujas reputações ficaram manchadas pelas suspeitas de corrupção (nomeadamente, o escândalo Lava-Jato) e, do outro lado, e Jair Bolsonaro (do PSL), deputado federal, que tem a sua dose de impopularidade e infâmia pelas repetidas declarações de carácter homofóbico, misógino, pró-tortura, racista e sectarista, às quais não será estranha a sua simpatia pela ditadura militar. A pergunta que me fica é: será que gostamos tanto de decidir sem nos informarmos do que está em escolha, em questão?
Quiçá a Península Ibérica possa ser dada como exemplo, já que os governos português e espanhol resultam de maiorias relativas em que o partido mais votado não faz sequer parte do elenco governativo, reforçando a ideia de que o diálogo e a escuta activa são essenciais e não passaram de moda. Mas saberia a população que esta solução está prevista na Constituição?
Aliás, falando de Portugal em particular, gostamos muito de elogiar o funcionamento dos países do centro e norte da Europa, mas seguramente que os críticos mais acérrimos da “geringonça” não sabem que existem governos de coligação na Noruega, Suécia, Islândia, Dinamarca, Holanda, Luxemburgo, Suíça, ou mesmo a Alemanha.
O estado da informação nos dias de hoje e o modo promíscuo com que a política convive com a mentira “obriga-nos” a intervir activamente, a informarmo-nos responsavelmente, para evitar que se torne verdade (se já não o é) o que disse Platão: “O preço a pagar pelo teu não envolvimento na política é seres governado por quem te é inferior.”
Anda meio Brasil a gritar "#EleNão, #Ele Nunca!” e outro meio “PT jamais!”, mas são os mesmos que os puseram frente-a-frente na linha de sucessão a Temer, Dilma e Lula… na actual, latente e repetida escolha do “menos pior”.