Pombal e Mira continuam sem electricidade e há mais de uma dezena de escolas encerradas
Sem condições, as escolas estiveram de portas fechadas nesta segunda-feira nos concelhos de Mira, Pombal e Cantanhede. O distrito de Coimbra foi o mais fustigado pela tempestade tropical Leslie.
O concelho de Pombal, no distrito de Leiria, tem quatro freguesias sem comunicações e sem electricidade, tendo uma escola ficado fechada esta segunda-feira na sequência da passagem da tempestade Leslie, disse à Lusa o presidente da Câmara. Em Cantanhede, os jardins-de-infância e escolas básicas Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria continuarão encerradas "até que sejam repostas as condições básicas de funcionamento". Também em Mira (Coimbra), cinco escolas básicas foram encerradas pelas mesmas razões, estando o concelho “isolado”, refere o presidente do município, Raul Almeida.
Também três dos seis jardins-de-infância do concelho de Mira não abriram as portas por falta de condições de funcionamento, nomeadamente falta de electricidade e de água. Apenas três escolas básicas funcionaram normalmente. Em todos os estabelecimentos de ensino, como no resto do concelho, não funcionam telemóveis ou telefones fixos e não existe internet ou televisão digital.
A Escola Secundária Dr.ª Maria Cândida, situada na sede do concelho, funcionou apenas durante a manhã, mas os alunos acabaram por ser mandados para casa, uma vez que a falta de energia eléctrica impediu que fosse confeccionado e servido o almoço.
Em Cantanhede encerraram também “todas as Escolas do Agrupamento de Escolas Gândara-Mar, na Tocha, a EB 2,3 Marquês de Marialva e Escola Secundária Lima-de-Faria, em Cantanhede, prevendo-se que reabram amanhã [terça-feira] com inúmeros condicionalismos. Encerradas também, a partir de amanhã [terça-feira], estarão todos Jardins de Infância e Escolas Básicas do Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, assim permanecendo até que sejam repostas as condições básicas de funcionamento", refere uma nota de imprensa enviada à agência Lusa.
A Câmara de Cantanhede, que accionou o Plano Municipal de Emergência e Protecção Civil no domingo, às 12h, recorda ainda que o concelho foi um dos "mais fustigados pela tempestade tropical Leslie, que levou à destruição parcial de edifícios públicos e particulares, à obstrução de estradas na sequência de quedas de árvores e derrocadas, falta de abastecimento de energia eléctrica, água e comunicações".
"Além das unidades de saúde afectadas, o que levou a que algumas tenham encerrado momentaneamente, também o tecido empresarial local foi fustigado pela intempérie, tendo sido fortemente danificadas algumas instalações e equipamentos", acrescenta a autarquia.
Pelas 15h30 de segunda a energia eléctrica já tinha sido restabelecida em mais de metade deste concelho do distrito de Coimbra, com 104 quilómetros quadrados e pouco mais de 12 mil habitantes, que ficou totalmente às escuras pouco passava das 23h de domingo. Os piquetes da EDP e da autarquia têm trabalhado 24 horas por dia para limpar as zonas mais afectadas e repor a energia eléctrica, segundo responsáveis locais.
Ao final da tarde de domingo, a energia eléctrica regressou à sede do concelho de Mira onde ficam situados os principais serviços de saúde e os bombeiros. Seguiu-se a zona de captações de água e outras áreas consideradas prioritárias. Hoje de madrugada, a energia regressou a muitas aldeias a poente.
Apesar do regresso da energia eléctrica, o concelho continua isolado do ponto de vista das comunicações móveis e fixas. A rede da Altice, que cobre o concelho e é utilizada pela câmara e outras entidades, não funciona, tornando impossível fazer as mais simples ligações. Nas residências particulares e nas entidades oficiais não há internet, móvel ou fixa, nem televisão digital, nem chamadas para números móveis ou fixos.
O presidente da câmara, Raul Almeida, garante que a autarquia tem sensibilizado a empresa para a necessidade de resolver a situação, "mas não recebeu uma resposta conclusiva". O autarca queixa-se de "isolamento", lembrando que é a segunda vez no espaço de um ano que o concelho fica sem comunicações.
Após os incêndios de Outubro do ano passado, largas áreas do concelho estiveram sem comunicações durante semanas, obrigando os habitantes a deslocarem-se aos concelhos vizinhos para fazer uma simples chamada. Tal como agora, há áreas onde é possível com dificuldade fazer chamadas telefónicas usando a rede de outros operadores. Raul Almeida pede à empresa Altice que acabe com o isolamento do concelho, lembrando que Mira tem "enfrentado com resiliência" situações muito complicadas.
Sem electricidade e comunicações em Pombal
"As situações mais críticas que ainda temos são as freguesias da Guia, Ilha e Mata Mourisca [pertencem à mesma União de Freguesias], do Carriço, do Louriçal e de Almagreira, com problemas de energia eléctrica e de comunicações", adiantou o presidente da Câmara de Pombal, Diogo Mateus (PSD), à margem de um briefing feito na manhã desta segunda-feira, no Louriçal.
Apesar destas condições, o autarca tentou que "todas as escolas do 1.º ciclo e pré-escolares estivessem hoje abertas". Para tal, segundo o presidente, era necessário "garantir previamente a segurança no acesso às escolas – abertura das vias –, as instalações dentro da própria escola, que não tivessem árvores derrubadas ou telhas caídas, e as refeições tinham de ser asseguradas".
"O único caso que não foi possível foi a sede do Agrupamento de Escolas da Guia, que tem 2.º, 3.º ciclos e secundário, e que ficou fechada, devendo abrir amanhã [terça-feira]", revelou.
Diogo Mateus explicou que, durante a noite de sábado, foi dada prioridade ao desimpedimento das vias principais para evitar acidentes e permitir que condutores que tivessem ficado barrados por alguma queda de árvore pudessem regressar a casa. No entanto, em vários locais da freguesia do Louriçal ainda são visíveis cabos de electricidade caídos e árvores derrubadas, decorrendo os trabalhos no terreno.
O presidente do município informou ainda que, nestas freguesias, a água também faltou, na sequência da falta de energia. "O problema do abastecimento de água está praticamente resolvido", garantiu, revelando que, num primeiro levantamento efectuado, foram identificados "mais de 15 hectares de estufas que estão completamente destruídos".
Diogo Mateus já contactou o secretário de Estado da Agricultura, pedindo-lhe "uma especial atenção", e apelou junto do gabinete do secretário de Estado da Administração Interna para que "insistisse" com as operadoras de telecomunicações para resolverem o problema. "É uma prioridade o restabelecimento das comunicações e estamos sem redes móveis em Guia, Mata Mourisca, Almagreira, Louriçal e Carriço. Acredito que resolvemos metade dos problemas quando tivermos as comunicações todas a funcionar", afirmou.
Meio milhão de prejuízos em Miranda do Corvo
O município de Miranda do Corvo contabiliza cerca de meio milhão de euros de prejuízos provocados pela tempestade Leslie, que atingiu fortemente a região Centro, disse o presidente da Câmara nesta segunda-feira. Apesar do levantamento dos estragos ainda não estar concluído, o presidente da Câmara, Miguel Baptista, adiantou que os prejuízos de maior monta verificaram-se em equipamentos de colectividades, sobretudo no sector norte do concelho.
"O pavilhão da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva do Senhor da Serra ficou completamente destruído, é perda total", salientou o autarca, que estima um investimento na ordem dos 200 mil euros para a sua reconstrução. No entanto, acrescentou, registaram-se também estragos, embora de menor gravidade, nas coberturas de "mais meia dúzia" de associações da União de Freguesia de Semide e Rio de Vide.
A Escola Ferrer Correia, no Senhor da Serra, sofreu danos de grande monta nos painéis fotovoltaicos de produção de energia, impedindo a realização de aulas nesta segunda-feira. O Santuário do Divino Senhor da Serra e a capela de Lamas sofreram também estragos ao nível das coberturas, tal como várias estufas de viveiristas na zona de Semide e de produtores de caracóis na localidade de Godinhela. Ao nível de equipamentos municipais, o presidente da autarquia disse que os estragos se confinam, essencialmente, à sinalética, mobiliário urbano, contentores do lixo e guardas de segurança rodoviária.
Situações agrícolas mais preocupantes no Centro devido à tempestade
As situações mais preocupantes de destruição de propriedades e infra-estruturas agrícolas devido à passagem da tempestade Leslie ocorreram na região Centro, disse nesta segunda-feira à Lusa o secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira. Em declarações à margem de uma visita a Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra, o governante apontou aquele concelho do Baixo Mondego, mas também os municípios de Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz e Soure como dos mais afectados pela situação "excepcional" causada pelo fenómeno meteorológico do passado sábado.
"Onde a situação é mais preocupante é na região Centro, em toda a zona de influência da Direcção-Geral de Agricultura do Centro, fundamentalmente aqui nesta zona de Coimbra", afirmou Luís Vieira.
O secretário de Estado frisou que os serviços do Ministério da Agricultura estão no terreno desde o início da tempestade Leslie e elaboraram um levantamento de danos "em todo o país", concluindo que nas regiões do Algarve, Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo e Norte não existiram "situações de maior".
Em termos de infra-estruturas afectadas, Luís Vieira disse que existem danos em vacarias, estufas e armazéns agrícolas, mas também em culturas permanentes e anuais, como o milho e arroz. O governante lembrou que as culturas anuais estão abrangidas pelo seguro de colheitas e que o Ministério da Agricultura gasta anualmente, com esse mecanismo, cerca de 11,5 milhões de euros, subsidiando agricultores "com 60 a 65% a fundo perdido".
Já na chamada reposição do potencial produtivo, destinada a apoiar os agricultores que tenham visto destruídos instalações agrícolas, a tutela irá utilizar um mecanismo idêntico ao utilizado nos incêndios florestais.
Prejuízos até 5000 euros serão apoiados 100% a fundo perdido, acima desse valor até aos 50 mil euros o apoio é de 85% e entre os 50 mil até aos 800 mil euros de 50% a fundo perdido, explicou Luís Vieira. "A partir de agora a Direcção Regional de Agricultura já tem a plataforma disponível para os agricultores apresentarem a sua declaração de prejuízos e a partir daí iremos abrir as candidaturas, para podermos depois analisá-las e proceder aos respectivos pagamentos", declarou.
A passagem do furacão Leslie por Portugal, onde chegou como tempestade tropical, provocou 28 feridos ligeiros e 61 desalojados. A Protecção Civil mobilizou 8217 operacionais, que tiverem de responder a 2495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.
O distrito mais afectado foi o de Coimbra, onde a tempestade, com um "percurso muito errático", se fez sentir com maior intensidade, segundo a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC). Na Figueira da Foz, uma rajada de vento atingiu os cerca de 176 quilómetros por hora no sábado à noite, valor mais elevado registado em Portugal, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).