Convento em Montemor-o-Novo com queda parcial de abóbada
Tanto a autarquia como o coreógrafo Rui Horta, director da associação cultural que funciona no Convento da Saudação, reclamaram que o imóvel necessita de obras de requalificação urgentes.
A abóbada de uma das salas do Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo (Évora), onde funciona a associação cultural O Espaço do Tempo, ruiu parcialmente na madrugada de domingo, disse nesta segunda-feira o coreógrafo Rui Horta.
O também director d'O Espaço do Tempo relatou à agência Lusa que o desabamento da "maioria da abóbada de uma das salas mais emblemáticas" do convento aconteceu "na noite de sábado para domingo, por volta das 4h", alegadamente devido ao furacão Leslie.
"Na verdade, a causa próxima foi o furacão, mas isto tem a ver com 18 anos de abandono, desde que nós aqui estamos e com uma chamada de atenção constante para os problemas do Convento da Saudação", classificado como Monumento Nacional e que está degradado, afirmou.
Segundo Rui Horta, a sala cuja abóbada ruiu parcialmente já se encontrava fechada e interditada há "uns dias", depois de os responsáveis da associação cultural e artística terem reparado no aparecimento de fissuras.
No dia da passagem do furacão, relatou o coreógrafo, choveu em Montemor-o-Novo entre "as 23h e a 1h" de sábado, mas o desabamento do telhado não terá sido "propriamente devido à água".
"Acreditamos que foi uma rajada de vento fortíssima que abriu uma das janelas e que fez provavelmente o vento rodopiar dentro da sala. Foi uma corrente de ascensão vertical e, como a sala tinha já algumas fragilidades, terá cedido. São tudo especulações, mas, de facto, as telhas estavam secas e todo o entulho estava seco quando aqui chegámos de manhã", afirmou.
Obras "urgentes"
A Câmara de Montemor-o-Novo, que assinou em Agosto o auto de cedência de utilização do edifício com a Direcção-Geral do Tesouro, confirmou nesta segunda-feira que "as condições meteorológicas adversas" da madrugada de domingo "provocaram danos" no convento, com "a queda parcial do telhado, na ala nascente".
O município, em comunicado, indicou que está a promover, em articulação com a Direcção Regional de Cultura do Alentejo e O Espaço do Tempo, "uma intervenção de emergência para contenção da estrutura, a que se seguirá uma intervenção de estabilização" para "a recuperação total do espaço".
Tanto a autarquia como o coreógrafo Rui Horta reclamaram que o imóvel, situado no castelo da cidade alentejana, necessita de obras de requalificação urgentes.
"A câmara reitera a urgência de ser garantido financiamento público para a necessária recuperação do Convento da Saudação e sua consequente reutilização como espaço multicultural de actividades e eventos, com visita pública de carácter patrimonial, projecto estruturante para a cidade e para o concelho", pode ler-se no comunicado.
Segundo Rui Horta, o Estado Central "abandonou completamente" o convento ao longo dos anos e as obras de conservação que tiveram lugar foram feitas pelo 'O Espaço do Tempo e pela câmara", o que ainda assim não chega, porque se trata de "um dos maiores monumentos do país a sul de Lisboa".
"Não temos dinheiro para uma intervenção de fundo", mas esta "é urgente", sublinhou, assinalando que o estado de degradação do edifício é "galopante" e que este inverno "vai ser muito difícil".
A requalificação "continua a ser um problema de abertura de concurso", disse Rui Horta, alertando que, mesmo com a câmara a deter agora o edifício, "o Estado tem uma posição muito importante", porque a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional e "a nova ministra da Cultura", Graça Fonseca, devem considerar este "um investimento prioritário".
O Convento de Nossa Senhora da Saudação pertenceu à Ordem Dominicana e acolheu sempre grande número de religiosas, até que, no século XIX, foi ocupado pelo Estado, que aí instalou um asilo (permaneceu até aos anos 60 do século XX).