Esquerda desvaloriza e direita diz que ainda falta mudar mais
PCP entende que "quem sabe da vida do convento é quem lá vai dentro" e Bloco acha que remodelações são coisas normais. CDS diz que quem devia ser remodelado era o primeiro-ministro. Rio apostaria no da Educação.
A direita não está contente com a remodelação feita por António Costa. Tanto Rui Rio como Assunção Cristas sugeriram, cada um à sua maneira, a saída de Azeredo Lopes, mas consideram que o primeiro-ministro devia ter ido mais longe. Rio põe na lista dos remodeláveis o ministro da Educação. Já Cristas diz que quem devia ter saído era mesmo António Costa.
Rui Rio falou no domingo ao fim da tarde, a partir do Porto, para lançar dúvidas. O líder do PSD Rui Rio questionou se os ministros saem do Governo por estarem insatisfeitos com o próximo Orçamento. “Ficará a pergunta no ar sobre se os ministros saem pelo seu próprio pé, ou seja, de alguma forma descontentes com aquilo que é Orçamento do Estado para 2019 (OE2019), não tendo à sua disposição os meios necessários para implementar a sua política, ou se saem por vontade exclusiva do primeiro-ministro”, afirmou.
Para Rui Rio, a remodelação corresponde às áreas em que o PSD tem feito oposição, à excepção da Educação. “Dentro daquilo que são as áreas que temos mais criticado falta a Educação, portanto, continua a haver aqui uma dessintonia. Enquanto nas outras áreas o primeiro-ministro acaba por dar a mão à palmatória e diz, 'sim senhor vamos, remodelar', falta a educação.
Já Assunção Cristas defendeu logo de manhã que esta é uma remodelação sem “rasgo” que reflecte um executivo “fragilizado”. “A remodelação não resolve nada. Quem precisa de ser remodelado é António Costa que já mostrou em vários momentos que não tem estatura para ser primeiro-ministro. E este é mais um episódio”, afirmou a líder do CDS-PP, no discurso de encerramento da Escola de Quadros, em Peniche.
Referindo que a remodelação aconteceu “por arrasto” da demissão do ministro da Defesa, Assunção Cristas considerou que esta mudança em três ministérios “não é nenhum reforço”, mas sim “a prova dos nove da extraordinária fragilidade do primeiro-ministro”, depois de ter vindo nos últimos dias a expressar a confiança em Azeredo Lopes.
"Quem sabe da vida do convento é quem lá vai dentro". Com uma expressão popular, Jerónimo de Sousa desvalorizou a mudança de caras no executivo porque está mais interessado nas políticas. Após uma homenagem ao Nobel da Literatura José Saramago, neste domingo em Lisboa, o líder do PCP recusou "individualizar responsabilidades", mas fez questão de dizer que os ministros "não trabalham por conta própria".
"Independentemente do perfil pessoal de qualquer ministro, o PCP tem sempre uma preocupação: saber que política esse Governo remodelado vai realizar porque não acreditamos que se trabalhe à peça", afirmou.
O secretário-geral do PCP esclareceu ainda que a alteração do Governo "nunca foi referida" durante as recentes reuniões a propósito do Orçamento do Estado para 2019. Já o outro braço político da CDU, o PEV, lamentou que a remodelação governamental ocorra em “vésperas da entrega e discussão” do Orçamento e pediu “mudanças de políticas”.
Antes, Catarina Martins havia considerado que as "remodelações dos governos são normais, são naturais, fazem parte da vida". Em Madrid, onde participava na Universidade de Outono do Podemos, a líder do Bloco de Esquerda disse ainda: "Não nos importa a nós discutir agora os nomes, o que importa são as decisões que vêm, o que vai acontecer".
A bloquista reconheceu, no entanto, que a remodelação "apanha o país um bocadinho desprevenido" e mostrou-se preocupada com a saúde e a sua lei de bases. "Veremos se a remodelação corresponde a um esforço de fazer avançar dossiers que são tão importantes como esse", disse.
Sobre as mudanças no elenco governativo, o deputado do PAN, André Silva, entende que "o Governo escolheu a melhor altura" para que a "remodelação não fique no centro da actualidade política" por estarmos em "pleno debate do Orçamento". Com Sofia Rodrigues