Verdes são o contraponto à direita radical na Baviera

Com uma candidata jovem e uma campanha baseada na boa disposição, o partido ecologista aparece como a segunda força mais votada nas sondagens. Conservadores arriscam-se a pesada derrota no estado.

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Katharina Schulze lidera a campanha da boa disposição dos ecologistas na Baviera LUKAS BARTH-TUTTAS/EPA

As eleições no estado federado da Baviera costumam ser das mais aborrecidas da política alemã. Apesar do enorme peso político e económico do estado, há um partido que vence sempre, muitas vezes com maioria absoluta: a CSU, União Social-Cristã.

Desta vez, no entanto, vai ser muito diferente. A CSU arrisca-se a vencer com uma percentagem tão baixa como não havia há décadas, ou até ficar fora do Governo, o que aconteceria apenas pela segunda vez na sua história (o partido é aliado da União Democrata-Cristã, da chanceler Angela Merkel, com quem tem um acordo único: a CDU concorre em todos os estados federados excepto na Baviera; a CSU concorre só na Baviera). 

O papel do partido radical Alternativa para a Alemanha (AfD) para este desenvolvimento tem sido muito escrutinado, assim como a sua subida no estado (nas últimas eleições bávaras nem sequer concorreu). Mas a campanha que mais se está a destacar é a dos Verdes, juntando especificidades regionais e uma candidata especial a uma trajectória ascendente do partido. 

Nas sondagens, a CSU mantém a liderança mas com apenas 34% (é preciso recuar a 1954 para encontrar uma votação abaixo dos 40%), os Verdes aparecem claramente como a segunda força, com 19%, deixando para trás os sociais-democratas do SPD (12%), a Alternativa para a Alemanha (AfD) e a coligação Freie Wähler (Eleitores Livres), ambos com 10%. Não é claro se o Partido Liberal Democrata (FDP), com 5,5% nas sondagens, entra no parlamento do estado, assim como Die Linke (a Esquerda), que estava com 4,4% nos inquéritos de opinião.

A subida de um partido de direita radical e populista, anti-imigração, no estado com o menor nível de desemprego da Alemanha e algumas das melhores políticas sociais, tem sido foco de debate pela dificuldade na sua compreensão.

Alguns factores contribuíram: o facto de a grande maioria dos requerentes de asilo terem chegado à Alemanha da Áustria pela Baviera, causando alguma perturbação e dificuldades de logística, e o medo de que o futuro seja difícil (afinal, ainda há dez anos começou uma crise e a situação política e económica é marcada pela imprevisibilidade). 

Finalmente, a CSU tentou apropriar-se de temas caros à AfD e os seus líderes martelam na necessidade de limiter a entrada de refugiados, por exemplo. Isso fez o tema dominar a agenda, dando mais espaço à AfD e aos seus argumentos. A posição mais dura da CSU, pelo seu lado, afastou muitos eleitores.

Um dos erros de avaliação da CSU, nota Matthias Dilling, da Universidade de Oxford, numa conversa por telefone com o PÚBLICO, foi bater demasiado na tecla da oposição aos refugiados e à imigração, temas caros à AfD, quando o seu eleitorado é mais católico e por isso menos provável que vote ou concorde com a AfD (alguns dos maiores críticos da AfD têm mesmo sido os padres). "É que a CSU não é um partido conservador", sublinha, "mas sim um partido democrata-cristão". 

Alguns eleitores da CSU mais preocupados com os refugiados poderão migrar para a AfD, mas não será a maioria. Outros poderão escolher partidos diferentes, inclusivamente os Verdes.

Não é homem nem bebe cerveja

Estes fizeram uma campanha especial na Baviera. Usam o conceito de Heimat  (“casa” no sentido de “terra natal”, e que na Alemanha pode soar  ligeiramente nacionalista) de uma terra cheia de beleza natural e que está ameaçada por políticas destrutivas. 

A sua candidata Katharina Schulze distingue-se pelas diferenças. Ela própria tweetou um artigo no Financial Times em que são enumeradas: não é um homem, não é mais velha, nem sequer bebe cerveja – mais, levanta uma caneca transparente (outros políticos bávaros terão usado canecas de porcelana para não se perceber o que estava dentro). 

Podia também dizer-se que Schulze prefere falar de esperança do que de medo, e que nos seus 33 anos representa uma nova geração. Tão nova que, nota a revista Der Spiegel, não pode ser candidata a chefe de governo do estado, o que só é possível a partir dos 40 anos. Por isso não foi ao debate televisivo com o actual líder, Markus Söder.

A campanha dos Verdes na Baviera é a campanha da boa disposição, descreve uma reportagem do grupo de media alemão Funke, que acompanhou Schulze porta a porta. A imagem de marca da principal candidata, seja de drindl, o vestido tradicional bávaro, ou de T-shirt apelando ao uso da bicicleta, é a de um enorme sorriso. 

Manfred Güllner, da empresa de sondagens Forsa, diz que todos estes factores contribuem para a força dos Verdes: a fraqueza da CSU, cuja imagem do partido moderno que fez da Baviera a terra dos “Laptops e Lederhosen” (referências às startups e força do campo da informática e inovação e ao fato tradicional bávaro, os calções de couro) acabou, a queda do SPD e a figura de Schulze e o seu pragmatismo.

Os ziguezagues dos outros

“Há cinco anos era relativamente fácil fazer um retrato do eleitor típico dos Verdes”, diz o outro líder do partido na Baviera, Ludwig Hartmann (os Verdes têm sempre uma dupla liderança com um homem e uma mulher), ao Financial Times. “Hoje chego a uma acção de campanha e reconheço as pessoas do ramo local dos Verdes e dos grupos ambientalistas. Mas quem são todos os outros?”

Os Verdes estão a registar uma tendência de subida a nível nacional e, segundo o semanário Die Zeit, ultrapassaram pela primeira vez a marca dos 70 mil membros. Ainda estão na liga dos pequenos partidos (o SPD tinha no final de 2017 443 mil membros; a CDU, 427 mil; apenas na Baviera, a CSU tem 141 mil membros), mas são a formação que mais cresceu. 

O partido, que esteve no Governo nacional com o centro-esquerda do SPD entre 1998 e 2003, participa actualmente em mais de metade dos governos dos estados federados, em coligação com vários partidos, e liderando mesmo um dos executivos, o de Baden-Würtemberg (vizinho da Baviera).

Para a candidata ecologista Katharina Schulze, “a divisão política já não é apenas entre esquerda e direita mas entre os democratas liberais que querem manter-se abertos ao mundo de um lado, e uma corrente antieuropeia, autoritária, do outro”.

Os outros partidos, acrescentou em declarações ao Financial Times, “andam aos ziguezagues”. Os Verdes sempre foram a favor de uma maior integração europeia, da abertura de fronteiras e da ajuda a refugiados.

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