ONU “profundamente preocupada” com clima de violência na campanha brasileira

No dia de estreia dos tempos de antena para a segunda volta das presidenciais no Brasil, as candidaturas de Fernando Haddad e Jair Bolsonaro dedicaram apenas 30 segundos às propostas. O resto do tempo serviu para atacar o respectivo opositor.

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Têm-se multiplicado os relatos de agressões entre os apoiantes de ambos os candidatos à presidência do Brasil LUSA/FERNANDO BIZERRA

A ONU diz estar “profundamente preocupada” com o clima de violência na campanha eleitoral do Brasil, apelando a que os líderes políticos brasileiros ponham um travão a esta situação.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos descreve o cenário brasileiro como “delicado”. “O discurso violento e inflamatório dessas eleições, especialmente contra [a comunidade] LGBTI, mulheres, afrodescendentes e aqueles com visões políticas diferentes, é profundamente preocupante, tendo em conta os relatos de violência contra estas pessoas”, disse a porta-voz, Ravina Shamdasani.

Têm existido várias denúncias de agressões entre apoiantes dos dois candidatos à segunda volta das presidenciais, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Jair Bolonaro, do Partido Social Liberal (PSL). O caso mais grave ocorreu na cidade de Salvador, quando, na noite da primeira volta das eleições, o mestre de capoeira conhecido como “Moa do Katendê” foi morto com 12 facadas na sequência de uma discussão política com um apoiante do candidato de extrema-direita em que revelou ter votado em Haddad.

Ambos os candidatos já fizeram um apelo contra a violência. Bolsonaro, que lidera de longe as intenções de voto (a primeira sondagem pós-primeira volta deu-lhe 58% das intenções de voto; 42% para o candidato do PT), afirmou que dispensava os votos “e qualquer aproximação de quem pratica violência”.

Mas este clima de animosidade está bem patente na própria campanha eleitoral. Sexta-feira foi o dia de estreia dos tempos de antena na televisão e rádio reservados a ambos para a segunda volta que se realiza no dia 28 deste mês: ouviram-se poucas propostas e muitos ataques entre as candidaturas.

Os 20 minutos diários de tempo de antena são divididos pelos dois candidatos, sendo que cada um tem cinco minutos na televisão e outros cinco na rádio. Dos cinco minutos em cada plataforma, as duas candidaturas dedicaram apenas cerca de 30 segundos para as suas propostas. O restante tempo foi usado a atacar o seu opositor.

No caso de Bolsonaro, o tempo de antena foi marcado pelo discurso anti-petista, afirmando, por exemplo, que “vermelho jamais foi a cor da esperança, é sinal de alerta para o que não queremos no país”. Houve ainda vídeos de apoiantes a atacarem o ex-Presidente Lula da Silva, descrevendo-o como “presidiário” ou “chefe de tráfico”.

No caso de Haddad, o tempo de antena começou por chamar a atenção para os casos de violência ocorridos na última semana, nomeadamente o homicídio de “Moa do Katendê”, enquanto surgiam imagens de Bolsonaro a empunhar o tripé de uma câmara simulando uma metralhadora.

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