Empregadores portugueses são os menos escolarizados da UE

Portugal é o país da União Europeia onde há mais empregadores e trabalhadores por conta de outrem sem formação secundária e superior. Média da UE é de 17%.

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FERNANDO VELUDO/NFACTOS

Em cada 100 empregadores portugueses, 55 não têm o ensino secundário ou superior — em 1992 eram 79 em cada 100. Este número coloca Portugal no topo da lista de países onde os patrões têm menos formação. Logo a seguir surgem Malta, Espanha, Itália e Grécia. Na União Europeia, a média é de 16,6%. Os números fazem parte do Retrato de Portugal na Europa, apresentado esta terça-feira pela Pordata.

Os trabalhadores também não estão numa situação particularmente favorável. Os números mostram que 43,3% dos que trabalham por conta de outrem também não têm mais do que o 9.º ano. À semelhança do que acontece com os dados relativos aos empregadores, os primeiros lugares são ocupados por Malta, Espanha e Itália. A média europeia ronda os 16%, indicam os dados publicados pelo Eurostat a partir dos Inquéritos ao Emprego nos Estados-membros.

“O problema da formação profissional dos empregadores portugueses está nas micro e nas pequenas empresas”, aponta António Casimiro Ferreira, investigador no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e membro do Núcleo de Estudos sobre Democracia. “Coloca-se o ónus da produtividade nos trabalhadores. Fala-se da formação profissional dos trabalhadores, mas nunca se considera como elemento de produtividade e competitividade a formação dos empregadores”, aponta o investigador.

O problema é “crónico”, diz Manuel Carvalho da Silva, também investigador do CES. E até elenca a possibilidade de se ter intensificado com a crise. “O desemprego levou à iniciativa própria de muita gente, o que levou muitos a aparecerem como empresários sem o serem realmente. Isso é um aspecto que se deve considerar.”

Maria João Valente Rosa, directora da Pordata, nota que “temos feito avanços, mas ainda estamos muito aquém daquilo que seria confortável e desejável” nesta área. O facto de “a maioria dos empregadores ter, no máximo, o 9.º ano de escolaridade coloca-nos numa posição de enorme desvantagem”.

São estes dados que ajudam depois a explicar outros indicadores como a produtividade laboral por hora de trabalho: Portugal fica 33,6 pontos percentuais abaixo do valor de referência para a UE, 100%. O que nos coloca no 10.º lugar na lista dos menos produtivos que é dominada pela Bulgária. Por outro lado, estamos entre os que trabalham mais horas.

“É claro que o caminho está a ser percorrido”, nota. “Mas temos de andar muito mais rápido do que os outros. A nossa posição de partida também nos colocava em enorme desvantagem. Temos de fazer um esforço enorme para chegar a níveis relativamente confortáveis, sabendo nós que o conhecimento é o que pode fazer a diferença no que diz respeito à dinâmica económica das várias sociedades”, sublinha a demógrafa. 

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